Os aloprados que gritam “Vai pra Cuba” podem pedir dicas à poderosa irmã de Aécio — que foi e curtiu

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Por Kiko Nogueira, para o Diário do Centro do Mundo

A multidinha que invadiu as galerias do Congresso para gritar o clássico “Vai pra Cuba” do fundo de seus pulmões pode pedir à irmã de Aécio Neves informações sobre a ilha.

Andrea, a poderosa irmã do senador, seu braço direito, conselheira, confidente e coordenadora de campanha, esteve no país em 2013, como relata em seu blog. Portanto, em pleno auge do regime bolivariano brasileiro, pouco antes de Aécio se candidatar. Em 2014 ele perderia e viraria uma espécie de heroi macunaímico dos aloprados que têm certeza absoluta de que vivemos uma ditadura comunista.




O que pensariam os fascistas das visitas de Andrea? Seriam capazes de perdoá-la? Ou seria ela considerada uma traidora? E ao senador? Seria ele culpado por tabela? Deveria ter proibido a mana de embarcar naquele avião maldito rumo ao reduto vermelho maldito?

Aquela não foi a primeira vez. Num post sobre Havana, uma Andrea emotiva escreveu o seguinte: “Voltei a Cuba. Entre a primeira e a segunda viagem, quase 30 anos… Mudou Havana, mudei eu ou mudamos nós duas?”

Enigmático. Mas seu ânimo não era denuncista, como se depreende das fotos. Junto a cartões postais como o parlamento e uma rua com aqueles edifícios restaurados, há uma foto sua com um velhote, ambos sorridentes.

Em 2012, ela se indignaria com a morte do prisioneiro político Wilmar Mendoza após uma greve de fome, aos 31 anos. “Para a minha geração, durante muitos anos, a revolução cubana foi o símbolo do idealismo e a prova de que era possível construir uma sociedade mais justa”, escreve.

“Não sei em que exato momento muitos de nós começaram a perceber que, infelizmente, o processo não era tão linear, nem os princípios tão absolutos quanto imaginávamos. Em que momento tivemos que acrescentar ao nosso sonho de revolução as imagens da censura, dos prisioneiros políticos, da corrupção?”

(Ela reclamar de censura é lindo, mas sigamos adiante).

E então ela se lembra de que esteve lá em 1985, participando de um certo Diálogo Juvenil e Estudantil da América Latina e do Caribe sobre a Dívida Externa. Foi ali que teve sua estreia como oradora. “Para quem até hoje não se sente à vontade com os microfones, estrear sendo ouvida pelo próprio Fidel, num auditório lotado, não foi fácil”, diz.

Quando voltou, publicou um artigo no JB chamado “Mamãe, Eu Fui a Cuba”, devidamente replicado no blog.

 

O que você achou de Cuba? Perguntaram-me as pessoas. Uma sociedade surpreendente, ouso dizer, tendo plena consciência do quão provocativa a expressão pode soar. É claro que o país enfrenta uma série de dificuldades. Uma economia frágil, uma política de habitação que ainda não foi capaz de suprir as necessidades da área, são as mais evidentes. Mais algum tempo lá e, certamente, outras questões viriam à tona. Mas há outra realidade que salta aos olhos e que, juro, me encheu de orgulho.

Uma sociedade em que um especializado e eficaz serviço de educação e saúde é gratuitamente oferecido à população. Um país de nove milhões de habitantes em que a alimentação básica é subsidiada pelo Governo e onde se imprimem 2,5 milhões de livro a cada três meses. E isso sem falar na alegria das crianças, nas minissaias das moças e no olhar galante dos rapazes que se insinuam pelas ruas. Tudo regado a muito calor, a reclamações sobre o ônibus cheio e à irreverência dos soldados que, na hora do almoço tiram a farda para um mergulho no mar.

[…]

Chego em casa, desarrumo as malas e penso em como é grande o cordão da esperança. É isso aí. Mamãe, eu fui à Cuba. E qualquer dia desses eu quero voltar.

“No mais”, bate outra vez, com esperanças o meu coração”.

 

Não há absolutamente nada de mais no que Andrea Neves escreve. Mas, de qualquer modo, ela não sobreviveria à canalha de extrema direita que seu irmão atiça — eventualmente, direto da praia.

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