“Os amigos de Hitler’ — por Eduardo Galeano (spoiler: a maioria está por aí, alguns só trocaram o nome)

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Empresas, empresários e políticos colaboracionistas do regime nazista ainda estão entre nós

Por Antonio Mello, compartilhado de Fórum




Créditos: Reprodução da internet

Eduardo Galeano — autor de “As veias abertas da América Latina”, que ninguém deve deixar de ler, especialmente se for uma pessoa com certo desprezo pelo nosso continente e admirador da velha Europa e dos Estados Unidos — escreveu também “Espelhos”, de onde o texto a seguir é retirado.

Nele, Galeano cita algumas das empresas e pessoas que colaboraram com o regime nazista da Alemanha de Hitler, algumas usando mão de obra escrava de prisioneiros de guerra, outras usando-os como cobaias humanas para novos produtos.

Espelhos, Eduardo Galeano. fragmento 

“Os amigos de Adolf Hitler têm má memória, mas a aventura nazi não teria sido possível sem a ajuda que recebeu deles.

Tal como os seus colegas Mussolini e Franco, Hitler teve a aprovação inicial da Igreja Católica.

Hugo Boss vestiu seu exército. Bertelsmann publicou as obras que instruíram seus oficiais.

Os seus aviões voavam graças ao combustível da Standard Oil [hoje Exxon e Chevron] e os seus soldados viajavam em caminhões e jipes Ford. Henry Ford, autor desses veículos e do livro O Judeu Internacional, foi sua musa inspiradora. Hitler agradeceu condecorando-o. Ele também condecorou o presidente da IBM, a empresa que tornou possível a identificação judaica.

A Fundação Rockefeller financiou pesquisas raciais e racistas sobre a medicina nazista. Joe Kennedy, o pai do presidente, era o embaixador dos Estados Unidos em Londres, mas mais parecia embaixador da Alemanha. E Prescott Bush, pai e avô de presidentes, foi colaborador de Fritz Thyssen, que colocou a sua fortuna a serviço de Hitler.

O Deutsche Bank financiou a construção do campo de concentração de Auschwitz.

O consórcio IGFarben, gigante da indústria química alemã, que mais tarde ficou conhecido como Bayer, Basf ou Hoechst, utilizou os prisioneiros dos campos como cobaias e também como mão de obra. Esses trabalhadores escravos produziam tudo, inclusive o gás que iria matá-los.

Os prisioneiros também trabalhavam para outras empresas, como Krupp, Thyssen, Siemens, Varta, Bosch, Daimler Benz, Volkswagen e BMW, que eram a base econômica dos delírios nazis.

Os bancos suíços ganharam dinheiro comprando de Hitler o ouro das suas vítimas: as suas joias e os seus dentes. O ouro entrou na Suíça com surpreendente facilidade, enquanto a fronteira estava firmemente fechada para fugitivos de carne e osso.

A Coca-Cola inventou a Fanta para o mercado alemão no meio da guerra. Durante esse período, a Unilever, a Westinghouse e a General Electric também multiplicaram ali os seus investimentos e lucros. Quando a guerra terminou, a empresa ITT recebeu uma compensação de um milhão de dólares porque os bombardeios aliados danificaram as suas fábricas na Alemanha.”

(Fragmento de Espelhos: uma história quase universal, obra de Eduardo Galeano)

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