Os covardes do “alguma coisa ele(a) fez”

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Por Washington Luiz Araújo, jornalista

Permeia no Brasil de hoje uma covardia que se soma ao fascismo e dá força para atos contra o Estado de Direito. São aqueles que trazem na ponta da língua o “alguma coisa ele(a) fez”.




Um menino de treze é covardemente espancado e arrastado como se fosse um saco de lixo e aparecem muitos desses covardes a a berrarem o “alguma coisa ele fez”. Uma travesti é apedrejada, espancada e recebe pauladas até morrer. Não falta um covarde para dizer: “Também, quem mandou virar travesti?”  Com isso, dão o consentimento para que outras barbaridades como essas aconteçam.

Estes covardes agem, na maioria, nas Redes Sociais. Dificilmente falam isso presencialmente, mas são cúmplices do estado de barbárie que vivemos hoje no país.

A chamada grande mídia contribui muito mais para a violência em que vivemos. Não há equilíbrio: ou pesam nas tintas, dando um tom sensacionalista para um caso ou se omitem. Depende muito da classe social da vítima ou da coloração política Não precisa desenhar aqui sobre para quem dá mais destaque ou para quem se omite.  Esta mídia alimenta o ódio e contribui para a proliferação dos “alguma coisa ele(a) fez”.

Felizmente, há nas Redes Sociais pessoas de bom senso que se horrorizam com as atrocidades e cobram posições, como no caso do assassinato do menino João Victor, de treze anos. O soco que ele recebeu na cabeça e o levou a morte bateu fundo em muita gente. O vídeo dele sendo arrastado por dois comparsas da lanchonete Habib’s comoveu a muitos, mesmo com a omissão da polícia e da grande mídia.

Na página do Facebook do Habib’s,  as cobranças dividiam espaço com internautas agradecendo á rede de lanchonetes por esta ter possibilitado a adoção de cachorros e gatos.  Querem contraste maior?  Tudo a favor de quem adota animais desamparados, mas dá para se indignar um pouco quando um menino igualmente desamparado é assassinado? Ou é pedir muito?

Mas a comoção, a capacidade nos indignarmos, é que ainda nos anima num mundo onde a polícia se omite, posterga a investigação quando o crime envolve uma rede de lanchonetes poderosa ou quando a vítima é pobre ou gay. Polícia que, muitas vezes, também mata e tem o beneplácito de muitos, por praticar a justiça com as próprias mãos.

Se você é desses, que procura culpar a vítima de forma preconceituosa, pode ter certeza, se o estado de barbárie piorar alguma coisa você fez. Se acovardou na deturpação dos fatos,  possibilitando que o mundo ficasse bem pior.

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