Os domingos de Lula

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Por Carlos Eduardo Alves, Facebook – 

Não é um texto político. É sobre gente, sentimentos e um dia especial, o domingo. Política, embora importante demais em quase tudo, é menor diante de pessoas.




Antes e depois de ser presidente da República, era quase impossível para jornalistas o acesso a Lula aos domingos. Dona Marisa reservava os finais de semana à família e praticamente exigia o recolhimento de Lula, um andarilho pelo país. Algumas vezes, ouvia-se ao fundo, quando se tentava falar com ele, o “hoje não é dia” de Marisa, respondendo aos seguranças que ousavam transmitir pedidos de repórteres.

Lula perdeu a companhia de 43 anos e fico pensando como serão agora seus domingos. Será que vai olhar os pedalinhos famosos dos netos e lembrar de como aquilo se transformou em crime, em manchete? Numa visão otimista de vida, poderá olhar o brinquedo e dedicar em dobro aos netos o carinho com que sua mulher curtia as crianças.

Para quase todos, domingo é o dia melhor. Para os trabalhadores, sempre foi a senha para descansar, reservar o olhar mais terno para quem se ama. Para outros, é dia de se encontrar amados que pouco encontramos, o dia da visita.

Fico pensando na rotina de décadas de Lula que será quebrada agora e lembro de meus domingos. Era, quando não trabalhava naquele dia, a hora de visitar minha velhinha. Invariável o já quarentão voltar para casa carregando uma sacola imensa das comidas que ela sabia eu mais gostava. Amor e cuidado de mãe. E sempre uma coisinha amorosa para os netos. Ternura de avó.

Tempos depois que ela foi embora, bateu uma culpa triste pelas faltas, pelas vezes em que a ressaca do sábado trouxe a preguiça que impediu a visita. Telefonava, mas a sensação de perda de momentos amorosos me persegue até hoje. A vida seguiu, mas persistiu a sensação de que os domingos nunca foram os mesmos.

Tem gente que acha que Lula se entregará totalmente à Política para tentar esquecer ao menos um tiquinho a dor da perda. Pode ser. O ser humano reage de maneiras distintas diante da tristeza. Mas com certeza os domingos serão carregados de lembranças. No fundo, ele e todos que vivem vários tipos de luto sentem é que queriam mais. É a saudade do que não tiveram.

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