Por Luis Nassif, para o Jornal GGN –
Ao terminar a campanha eleitoral, vários assessores de Dilma Rousseff garantiram que ela havia aprendido bastante com a campanha. Entendeu melhor a complexidade do país e, mais do que isso, o papel da Presidência – de articuladora política, de regente da orquestra, e não de gerente.
De fato, aprendeu bastante. Mas, em termos práticos, o que muda?
Dilma entendeu a importância de se escolher um Ministério de peso.
Depois, a importância de sair da gestão do dia a dia e atuar mais politicamente – isto é, relacionando-se com os meios político, econômico e social.
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Esses assessores apenas não garantiam se a Presidente mudaria tanto seu estilo, a ponto de abrir a discussão das políticas públicas à sociedade civil e deixar de lado as decisões autocráticas.
Mas – lembravam – tendo uma equipe de peso dando forma, conteúdo e cronograma às suas propostas, haveria sensível diminuição da ansiedade de Dilma e, por conseqüência, do seu voluntarismo.
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Os primeiros movimentos do segundo governo são encorajadores.
Foi precisa a forma como indicou os Ministros da Fazenda, Joaquim Levy, e do Planejamento, Nelson Barbosa. Ambos assumem com o compromisso de um ajuste fiscal gradativo. Ou seja, Dilma reconheceu a necessidade de um ajuste mas, fiel ao que defendeu na campanha, fugiu das soluções extremadas. Colocar um ortodoxo para gerenciar um ajuste fiscal não-radical é a melhor combinação custo-benefício.
Os demais movimentos seguem uma lógica político-administrativa. Deverá indicar a polêmica líder ruralista Katia Abreu para a Agricultura e Armando Monteiro para o Desenvolvimento. E terá que dar a contrapartida aos movimentos sociais.
Ontem, recebeu no Palácio frei Betto e Leonardo Boff, a quem garantiu que trabalhará pessoalmente na recomposição de laços com os movimentos sociais. Mais tarde, em uma solenidade com movimentos sociais, reforçou o compromisso com a inclusão, a melhoria de renda e o não sacrifício dos trabalhadores.
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Indo nessa direção, o futuro Ministério refletirá a diversidade de forças sociais e econômicas do país, trazendo uma enorme lufada de ar fresco ao seu governo.
Resta saber como tratará as seguintes questões:
Os modelos de participação social.
Há uma enorme variedade de fóruns de participação que perderam expressão nos últimos anos: o CDES (Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social), os fóruns de produtividade da ABDI (Agência Brasileira para o Desenvolvimento Industrial), os conselhos e conferências sociais.
Não se sabe como pretenderá agir já que, por incompatibilidade de gênios, perdeu o melhor condutor dessas políticas, Gilberto Carvalho.
2. As políticas integradas de infraestrutura.
Os investimentos em infraestrutura tem potencial para relançar a próxima etapa de crescimento do país. Mas demandam uma preparação cuidadosa, para identificar os principais obstáculos, resolvê-los, montar estratégias para atração de capital privado nacional e internacional, para fortalecer as médias empreiteiras e até para montar um +Engenheiros, aproveitando a enorme capacidade ociosa na Europa.
Esse trabalho estava sendo conduzido por Bernardo Figueiredo, na EPL (Empresa de Planejamento e Logística). Saiu por incompatibilidade de gênios. É importante dar continuidade.
3. As estrategias jurídicas-políticas
É evidente a fragilidade institucional no governo junto ao Judiciário, Polícia Federal e Ministério. Em um ambiente de turbulência institucional, Ministro da Justiça é figura mais relevante que o próprio Ministro da Fazenda.
A Presidente terá dois desafios: nomear um Ministro da Justiça com peso, como foi Márcio Thomas Bastos, capaz de recuperar o profissionalismo da Polícia Federal, dialogar com os tribunais. E, também, indicar Ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) com luz própria e suficiente respeitabilidade e caráter para resistir às pressões dos grupos de mídia.