Há exatos 4 anos, dez adolescentes morreram enquanto dormiam em containers no Ninho do Urubu, centro de treinamento do Flamengo, um dos clubes mais ricos do país. Os garotos tinham entre 14 e 16 anos e sonhavam em resolver a vida deles e das famílias pela estrada do futebol profissional.
Por Hélio Alcântara, compartilhado de Construir Resistência
O Flamengo entrou em acordo com a maioria das famílias dos adolescentes-jogadores, mas, desde o início, seu presidente, Rodolfo Landim, se comportou de maneira fria, quase hostil, sem sequer contatar pais e mães dos garotos para um abraço ou uma palavra de conforto. Comportamento exemplar do cara que comanda um clube cujo time de futebol tem 40 milhões de torcedores.
Quando questionado sobre a razão de não procurar as famílias dos garotos, Landim respondeu que fora orientado por seus advogados para não fazê-lo, pois isso poderia atrapalhar as negociações. Em outras palavras, poderia prejudicar o clube financeiramente. Nem corou. Só por esse comportamento, fica fácil entender a sintonia entre o presidente do Flamengo e o então presidente da República.
É sempre bom lembrar que no 1º semestre de 2020, quando o mundo lutava para entender o corona vírus e buscava se proteger, sugerindo o isolamento das populações como o melhor caminho, Landim lambeu o coturno de Jair Bolsonaro para forçar a realização de jogos de futebol, expondo atletas e funcionários de estádios ao risco de contaminação.
Depois de 4 anos de idas e vindas de ações protelatórias por parte do clube, ainda há uma família que ousa enfrentá-lo. Exige valores maiores do que aqueles oferecidos pelos advogados do Flamengo.
O processo (pasmem!) ainda está em fase inicial, e até hoje, passados 4 anos da negligência que se transformou em tragédia, ninguém foi considerado culpado. E, além disso, o clube contesta “uma ação da Defensoria Pública do Estado (RJ), que exige o pagamento de pensões às famílias”.
As famílias exigem e lutam por justiça. Ela virá?
No alto da página, as vítimas do caso Ninho do Urubu reprodução/ Arte G1
Hélio Alcântara é jornalista e escritor. Autor do livro Wladimir, sobre o lateral corintiano