Os irmãos que trabalham para comprar a democracia

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Por Léa Maria Aarão Reis, publicado em Carta Maior – 

 

Os tempos mudaram. Hoje, não será necessário esperar 50 anos – como ocorreu com o golpe civil-militar de 64 – para conhecer o nível de interferência e de intervenção direta do governo e do capital americano na política brasileira. Mudança de regime à força, o truculento regime changeou, em linguagem popular castiça simplesmente: golpe de estado.




Estão aí, à disposição pública, filmes, documentos, a Internet, depoimentos, conversas gravadas e diálogos pornográficos vazados que descortinam ao vivo os sórdidos bastidores das manobras dos grupos de meliantes, traidores e golpistas e dos seus mentores. Neste caso presente, de dois irmãos, ávidos compradores de países e de pessoas – de preferência políticos -, e financiadores de tenebrosas transações.

Irmãos Koch Expostos (Brothers Koch Exposed, de 2014) * é um desses documentos, um filme de média metragem que não deve passar ao largo do cidadão que se quer bem informado. Dirigido por Robert Greenwald, é um filme trepidante, corajoso e muito bem produzido, uma investigação contundente sobre Charles e David Koch, de Arkansas, dois dos homens mais ricos e poderosos do mundo e donos de uma fortuna, segundo a Forbes, de 43 bilhões de dólares cada um.

Petróleo, gás, papel, plástico, pecuária e agricultura são alguns dos seus negócios.

Proprietários da Koch Industries, segunda maior empresa de capital fechado nos Estados Unidos, fundaram nada menos que 85 organizações em atividade mundo afora, vasta rede onde despejam fortunas para apoiar causas neoliberais que sirvam aos seus interesses e pregam a desregulação radical – como a Atlas Network – e aqui, no Brasil, o Movimento Brasil Livre, sede em São Paulo; o Estudantes pela Liberdade, descendente direto do Students for Liberty, com sede na Virgínia e onde jovens brasileiros são convidados a estudar; um tal Instituto Mercado Popular e o Cato Institute, filhotes do Americans for Prosperity, da sede-mãe.

Documentos tornados públicos em fevereiro passado mostram o petróleo, que se encontra na raiz das fortunas dos Koch motivando a sua campanha contra ambientalistas e climatologistas alertando sobre o aquecimento global – e que eles negam.

Seu principal interesse no Brasil, não é difícil calcular, está na privatização da Petrobrás.

Segurança Social – saúde, educação -, Direitos Civis, Políticas econômicas de estado (livre mercado e desregulação) são as áreas mais visadas pelos Koch.

No filme, os objetivos da dupla são claros: acentuar a desigualdade para aperfeiçoar a administração das massas de pessoas amestradas (escravizadas), derrubar a classe média e esmagar os pobres – os 99% das populações – comprando políticos e políticas. Como a ambientalista.

São filhos de Fred Chase Koch, morto em 1967, empresário do petróleo, fã assumido de Mussolini e um dos fundadores da ultradireitista John Birch Society. Quem tem mais de 50 anos lembra-se dessa instituição abominável, notória pelo combate à lei dos direitos civis promovida pelo presidente Lyndon Johnson nos anos 60.

Fred-pai, por sinal, foi um perfeito exemplar dos que cospem no prato que os alimenta. Sua fortuna foi iniciada graças a Stalin que o contratou para treinar engenheiros especialistas em petróleo e construir refinarias na União Soviética.

Dois dos seus quatro filhos, os irmãos mais ricos do mundo montaram uma plataforma conservadora potente, chamada de Kochtoplus, e são detestados pelos democratas (atualmente; porque no passado seus opositores não se preocupavam com a ação dos bilionários). O senador democrata Harry Reid chega a acusá-los de tentar “comprar o país”.

Comprar a América e um sistema político – a democracia; destruir o governo. “Se podem comprar o Senado o que virá em seguida? ’’ se pergunta outro líder democrata.

Refere-se às reuniões privadas, ‘’fora de agenda’’, de diversos senadores da turma dos Koch. Ted Cruz, Ron Johnson, Fred Upton, Paul Ryan antes de anunciar sua saída da política.

Repressão, pressão. Um dos episódios mais repulsivos apresentado por Greenwald em seu documentário é o da tentativa de desmantelamento do sistema público de educação no Condado de Wave, na Carolina do Norte, por parte do Kochtoplus.

Sugere ter sido um teste para expandir o novo modelo proposto para todo o país. Reviver a segregação racial (!) no transporte público escolar e na rede de escolas públicas da região, reconhecidamente uma das mais eficientes do país. Privatizar as escolas e oferecer educação deficiente para pobres e negros e colégios de excelência para estudantes brancos.

Um exemplo para o Brasil: durante dois anos, mediante a compra de lideranças sociais locais nas eleições para o Conselho de Educação do condado, as mudanças do modelo Koch chegaram a começar a ocorrer. Mas com denúncias públicas, a ajuda da mídia local, com a pressão das manifestações bem organizadas e permanentes, depois desse período novas eleições foram realizadas e o modelo abortou.

E um alerta: muitas das idéias libertárias como as da dupla que gastou, segundo o documentário Irmãos Koch Expostos, 65 milhões de dólares para bancar senadores republicanos e suas despesas corporativas, são compartilhadas com o candidato do Partido Social Cristão concorrente à presidência do Brasil.

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