Ninguém esperava que este Santos de Cuca fosse tão longe na Libertadores. Quem pensava assim – como eu e tantos outros – se esqueceu dos meninos que chegam para sonhar na Vila. São histórias e mais histórias que se acumulam através dos tempos

POR ROBERTO SALIM

Não dá para esquecer.




Sempre que surge um novo menino na Vila Belmiro, eu me lembro do seu Chico Formiga, do Lima, do Mané Maria, do Abel, do Pepe e toda aquela turma boa do Santos Futebol Clube. Pode não ter presidente, pode ter briga na política, pode ter o que for.

O Santos sempre será salvo por um menino fora de série:

Pode ser o piracicabano Coutinho, que com 14 anos já era craque.

Pode ser o Rei Pelé.

Pode ser Pita, o Reizinho do Casqueiro.

Pode ser Juary.

Pode ser Robinho.

Pode ser Neymar.

Gabigol.

E outros que agora saem sem ter ao menos brilhado devidamente com o manto alvinegro e sagrado, como Rodrygo, que está no Real Madrid.

E agora surge nova fornada.

Com Kaio Jorge à frente.

Ninguém esperava que este Santos de Cuca fosse tão longe na Libertadores.

Quem pensava assim – como eu e tantos outros – se esqueceu dos meninos que chegam para sonhar na Vila.

São histórias e mais histórias que se acumulam através dos tempos.

Seu Pepe era meia-esquerda, era craque dos campos santistas e jogava descalço. Foi para a Vila e virou o Canhão.

Clodoaldo era ponta-direita. Foi para a Vila e transformou-se num jogador inigualável. Só ele mesmo para substituir Zito.

E tem Juary e Pita e João Paulo e Nílton Batata, naquele ataque arrasador que tinha ainda a experiência de Aílton Lira.

“Chamavam o seu Chico Formiga, nosso treinador, de maluco, porque colocou Pita e Aílton Lyra para jogar no mesmo time. Dois meias canhotos”, me contou outro dia o Juary, quando o título paulista dos Meninos da Vila completava 40 anos.

E o Pita completou: “Era fácil: eu nem dava passe. Era só chutar para a frente que um dos três (Juary, João Paulo ou Nílton Batata) recebia em velocidade”.

E esse mesmo Chico Formiga, que foi jogador do Santos e da Seleção Brasileira, contou para mim e o Ronaldo Kotscho que havia um menino bom de bola nas equipes de base.

“Eu era o treinador responsável pela base na época e fizeram uma reunião para falar dos garotos”, lembrava seu Chico. “E falaram que tinha um ali que até jogava bem, mas era fracote, não tinha futuro. Seria dispensado. Eu quis saber quem era. Quando soube, eu disse: ‘Minha gente, podem mandar todos os outros embora, mas esse vocês seguram. Ele é fracote? Deem comida pra ele, que ele fica forte’. Era o Robinho”.

Outro sábio da Vila Belmiro é o curinga Lima.

Jogou na Seleção Brasileira de 1966 e foi um craque do Santos.

Jogava em todas as posições do time de Pelé.

“Só não joguei no gol, daí meu apelido de Curinga.”

Pois um dia, no treinamento das equipes de base, uns quatro anos atrás lá em Santos, eu olhei aquela molecada jogando o fino da bola naqueles campos e perguntei ao Lima:

“Será que tem outro Neymar jogando no meio dessa molecada? Um pelo menos!?”

Com o olhar de quem pensa (“Este cara está de gozação comigo?”), ele respondeu:

“Olhe bem a molecada jogando”.

E eu olhei aqueles brasileirinhos de 10 anos, 11 anos, 12 anos. Crianças sonhadoras vindas de todos os cantos do país.

E o Lima prosseguiu.

“Meu filho, aí não tem só um novo Neymar. Tem vários” – e sorriu.

Claro que perguntei quais eram os Neymarzinhos do futuro.

Novamente o Lima me olhou e lascou.

“E você acha que eu vou te dizer?”

Com certeza, ali estavam muitos desses que já brilham hoje ou brilharão amanhã, porque os “Meninos da Vila” vieram para ficar, para brotar, na cidade da Vila mais famosa do mundo.