Por Enio Squeff, Ateliê Squeff –
No período da ditadura cívico-militar podia-se distinguir três tipos de militares: os nacionalistas de direita – que queriam levar o Brasil a um regime fascista; os nacionalistas de esquerda, que namoravam com o socialismo – ainda que não necessariamente soviético. E, finalmente, os francamente entreguistas – aqueles que sonhavam em fazerem do Brasil, uma das estrelinhas de bandeira norte-americana. Canalhas, com ou sem farda.
Passadas mais de três décadas, não se sabe por obra e graça de que forças dominantes na Academia das Agulhas Negras, quase todos os oficiais brasileiros que emergiram nos últimos anos, parecem-se mais e mais com aqueles nativos bonzinhos que ainda aparecem nos filmes americanos. E que sonham em ser americanos. Ou ao menos queridinhos dos americanos.
Alguém observou que os militares de antanho, não tivessem outra opção, eram ( alguns pelo menos), razoavelmente cultos. Sabiam de história,de geografia, tinham pinceladas de sociologia. Muitos foram muito mas longe que supunha seus conhecimentos de logística, de matemática, e até do seu país. Euclides da Cunha, o grande Euclides da Cunha, foi um deles; Nelson Werneck Sodré, um historiador hoje esquecido, foi outro. Rondon era considerado um herói por Darcy Ribeiro. Mereceria a homenagem que o estado de Rondônia lhe prestou. Mesmo um dos mais reacionários militares de todos os tempos, o general Cordeiro de Farias, não negava a Luis Carlos Prestes – último grande dirigente comunista – uma retidão de caráter inigualável e a ciência de um dos maiores estrategistas formados pela Escola Militar do Rio de Janeiro.
Hoje o que vemos, são apenas e tão somente agentes de caserna. A forma com que os militares brasileiros aceitaram o fim do projeto do submarino atômico, o desmantelamento da aquisição de alta tecnologia, em tudo compatíveis com um país das dimensões e do poder do Brasil, faz supor que não temos nada a discutir sobre a soberania nacional num país que tem no próprio presidente, o exemplo a ser seguido por seus ministros acusados de corruptos.
Em contraste, a se crer num Bolsonaro e no que ele diz – ainda vivemos em plena guerra fria. Bolsonaro acha, sob os aplausos de muitos de seus colegas da ativa – que o que os governos petistas fizeram para tornar o Brasil uma potência, só nos conduziria para um socialismo que eles mesmos não sabem definir qual seja.
Vivemos uma ignorância generalizada entre os militares brasileiros, algo que faria corar mesmos os mais empedernidos anti-comunistas da ditadura – mas que ao menos proclamavam sua fidelidade “à pátria”.
Ernesto Geisel, um dos últimos ditadores do regime militar, se era um direitista, nunca foi um entreguista. Deve estar rolando no túmulo de farda e tudo.