As reportagens são a essência do jornalismo. E repórter fora da redação é o que dá sentido à essa profissão. A matéria apresentada no Globo Esporte mexe com qualquer um. E mexeu comigo: a história do menino Endrick, do seu pai Douglas e do goleiro Jaílson.  

Os pais dos meninos bons de bola sonham muito.

Sonham que seus garotos serão os craques que eles não foram.




Marcarão os gols que eles perderam numa juventude cheia de trabalho e sacrifícios.

Os pais dos meninos bons de bola não medem esforços para ver seus garotos vestindo uma camisa de futebol de verdade.

E aí as histórias são muitas.

E verdadeiras.

Uma vez na Baixada Santista fiquei sabendo de um menino que foi aprovado nos testes. Tinha vindo de longe, trazido por seu pai, que vez ou outra aparecia nos treinos.

Onde morava o pai?

Vivia embaixo de um viaduto até que os velhos treinadores do Santos Futebol Clube descobriram e arrumaram um emprego para ele, que era cabeleireiro ou barbeiro.

Lembrei dessa história ao ler que o goleiro Jailson pagou todo o tratamento dentário do pai da nova promessa da base palmeirense.

Douglas, o pai do menino Endrick tinha sido contratado para trabalhar no Centro de Treinamento do Palmeiras e aparentemente tudo estava bem. Só que Jailson percebeu que enquanto os demais funcionários se alimentavam com a comida do local, o pai do menino tomava sopa. Não tinha lá muitos dentes.

Agora tudo está resolvido, com os implantes dentários.

A vida precisa de gente como Jailson.

Como Telê Santana que, quando os jovens jogadores começavam a aparecer, logo dava seus conselhos.

Eu convivi um bom tempo com seu Telê.

Ele foi o comentarista do SBT na Copa do Mundo de 1994.

Conversávamos muito no Centro de Imprensa, em Dallas.

Ele me contava que sempre queria saber da família dos jovens jogadores. Queria saber se a mãe e o pai tinham onde morar? Se as condições eram dignas.

Como era a situação dos irmãos?

Por isso, algumas vezes ele me dizia que mandou devolver os carrões que a meninada deslumbrada comprava de “amigos” que freqüentavam o ambiente futebolístico.

E a pergunta de seu Telê Santana era sempre a mesma. Uma só:

“Já comprou a casa para sua mãe?”

A resposta dos jovens:

“Ainda na não, mas eu estou comprando o carro com o dinheiro dos ‘bichos’, porque agora eu sou titular”.

Então seu Telê dava o xeque-mate.

“Você era titular…”

No dia seguinte o carro era devolvido à concessionária.

Há tempo para tudo nesta vida.

Para comprar carrões.

E para arrumar os dentes.

“Primeiro a saúde e uma vida digna!”, diria o Mestre Telê.