Após susto com ascensão da ultradireita nas primárias, em agosto, campo progressista se recompõe e candidato pede voto contra o obscurantismo: “somos o futuro contra o passado”
Por Felipe Bianchi, de Buenos Aires (Argentina), compartilhado de ComunicaSul
Aposta total na capacidade de mobilização dos setores progressistas para barrar o retrocesso. Essa é a fórmula que Sergio Massa, candidato à presidência argentina pelo Unión por la Pátria, estabeleceu, nesta quarta-feira (18), para avançar ao segundo turno das eleições no país – a primeira etapa ocorre no domingo (22).
O presidenciável participou do ato de encerramento de campanha de Leandro Santoro, que concorre ao cargo de chefe de governo da cidade de Buenos Aires, em um Luna Park repleto – cerca de sete mil militantes e apoiadores acompanharam a atividade na capital argentina.
“Estamos construindo a famosa virada, vamos reverter”, brada o candidato e atual ministro da Economia. Há dois meses, quando o eleitorado foi às urnas para escolher seus candidatos favoritos nas PASO (Primarias Abiertas Simultáneas Obligatorias), a surpreendente votação obtida pelo candidato da ultradireita, Javier Milei, resposta argentina a figuras como Jair Bolsonaro e Nayib Bukele (mandatário de El Salvador que estabeleceu o bitcoin como uma moeda corrente em seu país), ligou o alerta máximo no campo democrático e popular.
Com as pesquisas de intenção de voto revelando tendência de segundo turno entre Milei e Massa, com Patricia Bullrich (Juntos por el Cambio) seguindo-os de perto, o cenário enseja uma busca antecipada pela virada de votos. “Muita força nesses quatro dias que temos pela frente até domingo. Peço que façamos um último esforço e mostremos, em cada rincão do país, que temos projeto e que somos o amor versus o ódio, o futuro frente ao passado”.
De acordo com Massa, ainda que sejam três candidatos no páreo, há dois projetos em disputa: um que coloca o Estado como central para reduzir as desigualdades e promover justiça social e outro, privatista, que visa entregar todos os bens e serviços públicos para os empresários.
“Nós acreditamos no subsídio estatal, como no caso dos transportes. Eles, na privatização”, argumenta Massa. Para elucidar o que significa na prática a agenda ultraliberal, o ministério dos Transportes da Argentina passará a oferecer, a partir de sexta-feira (20), a opção de que os cidadãos paguem o valor cheio da passagem de ônibus, trem e metrô.
Sem o subsídio do governo para “rachar” a passagem com os cidadãos, os valores dos bilhetes de ônibus que hoje custam 60 pesos saltariam para cerca de 700 pesos (algo como sair de R$ 0,90 para R$ 10). Já bilhetes de trem que hoje valem 90 pesos passariam a custar ao redor de 1.100 pesos (de R$ 1,30 a quase R$ 16).
Contra o obscurantismo de seus oponentes, Massa garante: “Vamos defender direitos consolidados e que, agora, estão sendo questionados”. Em um país que acumula cinco prêmios Nobel (1936, 1947, 1970, 1980 e 1984]), complementa, é inaceitável que proponham privatizar e sucatear o sistema de educação. “A educação deve ser pública, de qualidade e inclusiva”.
As imagens em vídeo foram captadas pela coalizão União pela Pátria @porlapatria . A edição é de Vanessa Martina-Silva
Santoro busca segundo turno contra primo de Macri
Na disputa pelo posto de chefe de governo da cidade de Buenos Aires, a Unión por la Pátria apresenta como candidato Leandro Santoro, politólogo, docente e deputado nacional, para frear a hegemonia de 16 anos do Propuesta Republicana (PRO), partido de Maurício Macri.
Santoro tem como bandeiras metrô 24 horas, plano de saúde mental integral, políticas de acessibilidade e uma “verdadeira revolução” no que tem sido, até agora, o plano diretor da cidade. “Buenos Aires é vibrante e pujante, mas também é uma cidade injusta e hostil. Estamos aqui para corrigir essa cidade injusta, cheia de contrastes e que precisa suturar suas feridas. Para corrigir as dívidas éticas da direita, que não fará agora o que não fez em 16 anos”, sublinha.
“É terrível que uma cidade como a nossa tenha o poder passado de mãos em mãos de gente das mesmas famílias, que usam a política para beneficiar a si mesmos e a seus amigos”, critica o politólogo. “Por isso Macri colocou seu primo [Jorge Macri] para concorrer comigo”.
De acordo com ele, a direita tem utilizado o Estado para o acúmulo privado. “Todos os serviços da cidade foram entregues para os amigos do poder. Privatizaram todos os bens públicos”, dispara.
Quanto ao pleito pelo cargo máximo do país, Santoro é contundente: “A batalha que estamos vivendo em 2023 é contra uma direita radicalizada, fanática. Milei já disse que sua governabilidade seria garantida por Macri, o que revela um bloco que milita pelo egoísmo e também pelo ódio. Temos de derrotá-los”.
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