Por Fernando Brito, publicado em O Tijolaço –
Para nós, que vivemos na poeira da planície, é por vezes, difícil entender o que se passa nos olimpos do dinheiro.
Hildegard Angel, colunista social, conhece bem estes salões e, num artigo em que fala dos deslumbramentos de novo rico de Sérgio Cabral Filho com jóias, diz da diferença entre os ricos-ricos e os que, ao se locupletar, como Cabral, viram porquinhos da ostentação, como outros, a desfilar seus Rolex, carrões, iates, por aqui ou lá fora. Quem não chegou a Paris, lambe os beiços com Miami. É um sistema de códigos e de sucesso, do qual a mídia é a maior propagandista e cúmplice.
Destes personagens, o antropólogo Michel Alcoforado escreveu em seu Coisas de Rico:Tempo, Valores e Posição Social:
(…)os usuários das coisas de rico estão aptos a frequentar os salões por onde também circulam o dinheiro, a influência e o poder. Trata-se de um sistema de pertencimento e exclusão existente em outros grupos. Porém com poder de fogo muito, muito maior: aqui, os caciques usam Rolex e definem os rumos políticos e econômicos da nossa sociedade.
Mas eles são os dependentes – e agentes, econômicos e políticos – dos ricos-ricos, aqueles que descreve o texto da Hildegard, publicado pela Fórum:
O rico brasileiro de verdade já desistiu do Brasil. Está pouco se lixando se tem gente pobre, vivendo e defecando nas ruas. Não é que ele seja insensível, é que ele não vive aqui. Ele está por aqui. Tem seu apartamento à beira mar, frequenta seu clube, onde joga tênis, convive com seu reduzido círculo de amigos e ponto. Depois, embarca no seu jato para a residência lá fora. O Brasil é para ganhar dinheiro e remeter dinheiro. Este rico não tem mais o embaraço da língua, como alguns ricos de gerações anteriores, pois os filhos e netos já dominam o inglês desde que nascem e sequer conhecem a nossa História. O rico brasileiro é globalizado, não tem brio patriótico, ao contrário, sente bastante preconceito e desprezo em relação ao nosso país, onde lamenta ter nascido. Existem, naturalmente, as raras exceções. Por isso mesmo, louváveis.
Como diz o sempre arguto professor Nílson Lage, “para os brasileiros ricos de verdade, o Brasil é o lugar onde se ganha o dinheiro, não onde se gasta.”