Oscar: outsiders da extrema direita são os verdadeiros parasitas

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Por Luiz Zanin, jornalista, no Facebook

Bom, por esta ninguém esperava mesmo. Mesmo badalado pela crítica e cheio de prêmios (inclusive a Palma de Ouro em Cannes) quem adivinharia que o coreano Parasita levaria o Oscar principal, de melhor filme, e ainda os de direção (Bong Joon-ho), roteiro e melhor filme internacional? É uma novidade total – a primeira vez que um filme estrangeiro, falado em seu idioma, vence o Oscar (houve o precedente do francês O Artista, mas que é um filme mudo, e que celebra Hollywood).




Parasita, não. É um filme de puro DNA coreano, ambientado no país, produzido e falado em sua língua, trazendo para a tela a realidade social coreana. A meu ver, Parasita tem trunfos muito fortes, como a originalidade no tratamento do tema e o rigor na direção. Ao mostrar a família pobre que se infiltra na residência da família rica, problematiza a noção de parasita (quem suga a seiva de quem?).

Constrói personagens críveis, complexos, em ambientes que equivalem a verdadeiras dramaturgias (o porão onde mora uma família, a residência modernista onde habita a outra). E dialoga com o cinema de gênero (como já havia feito por exemplo em O Hospedeiro), levando o terço final do filme para um ambiente fantástico e imprevisível.

Cabe dizer que a vitória de Parasita se beneficia da mudança estrutural da Academia de Hollywood que, incorporando profissionais do exterior, ganha em universalidade. E, mais importante, leva a prestar atenção ao cinema coreano, fortemente amparado pelo governo e dispondo de leis de proteção, até mesmo no quesito exibição. Lá não ocorre o que aqui acontece com frequência, com blockbusters norte-americanos praticamente monopolizando o circuito exibidor.

Enfim, são lições a serem aprendidas. Mas por quem?, pode-se perguntar aqui no Brasil, onde o governo hostiliza de forma aberta tanto o cinema quanto as artes em geral e sente-se frágil e ameaçado diante de qualquer obra crítica.

Se Parasita foi o grande vencedor, quais foram os maiores derrotados?

Sem dúvida, 1917, o épico de guerra que entrou como favorito e saiu apenas com prêmios técnicos, fotografia, mixagem de som e efeitos visuais. Ou seja, foi considerado apenas uma proeza técnica, com sua simulação de um plano sequência único. Perde, pelo menos aos olhos da Academia, a condição de obra antibelicista para marcar época.

Outro perdedor foi Martin Scorsese e seu grande épico O Irlandês. Dez indicações sem emplacar nenhum prêmio! Qual o recado da Academia? O mestre estaria fazendo um cinema superado? Ou a questão é com a Netflix, a poderosa plataforma de streaming, produtora do filme, e ainda vista com desconfiança por parte significativa da indústria?

Outro mestre ignorado foi Pedro Almodóvar, cujo maravilhoso Dor e Glória saiu de mãos abanando. Faço uma aposta: é um filme que ficará e será visto com emoção por muitos e muitos anos. Às vezes, as premiações podem ser cruéis.

Foi assim também com outro filme maravilhoso, Honeyland, da Macedônia do Norte, que competia nas categorias filme internacional e documentário com sua história da apicultora artesanal isolada nas montanhas. Perdeu em ambas. Mas também ficará, acredito.

Foi o caso, igualmente, do concorrente brasileiro Democracia em Vertigem, de Petra Costa. Perdeu para Indústria Americana (American Factory), documentário de fato muito bom sobre o choque cultural entre trabalhadores norte-americanos e chineses.

Registra e prenuncia o agravamento da crise do trabalho, que acontece em todo mundo. Ninguém escapa à modernização estrutural do trabalho, mas este produz desemprego em massa. Com o aumento do desemprego, quem irá comprar as mercadorias que o capitalismo produz? E como as sociedades poderão assimilar as multidões excluídas do mundo do trabalho? São contradições do capitalismo, como dizia aquele velho filósofo barbudo alemão.

Enfim, Democracia em Vertigem perdeu mas ganhou. Não trouxe o Oscar, mas ganhou visibilidade imensa para este filme pessoal, que fala do transe político brasileiro.

É, como já se disse, uma imersão na realidade brasileira, mas que também tem valor universal, pois fala do desgaste da democracia em vários países do mundo e da ascensão de outsiders de extrema-direita, que se beneficiam do caos, do desespero, do ressentimento e da ignorância alheia para se instalar no poder. E, de lá, trabalham para minar a própria democracia que os elegeu. Acontece no Brasil, acontece em outras partes. São os verdadeiros parasitas.

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