Por Pablo Villaça, crítico de cinema, escritor e cineasta
Na primeira fase de sua carreira política – que numa sociedade civilizada deveria ter sido interrompida ali -, Bolsonaro confessou o desejo pela execução de pelo menos 30 mil pessoas que ele considerava indesejáveis em sua visão de mundo. Hoje ele atingiu um número dez vezes maior.
No afã antiesquerdista, no desespero para implementar um neoliberalismo que sabidamente vem aumentando as desigualdades sociais, destruindo o meio-ambiente e arruinando o mundo política, social e economicamente, as elites brasileiras ajudaram a colocar no poder um genocida.
E elas sabiam que ele era um sociopata, um fascista em potencial – ele nem tentava esconder isso. Mas por interesse econômico, estas elites convenceram outras camadas da sociedade a votarem contra os próprios interesses. E aí está o resultado: 300 mil mortos. 300 mil.
Se eu achasse ter sido responsável direto pela morte de uma pessoa, eu não daria conta de seguir vivo. Não conseguiria.
Que Bolsonaro tenha matado 300 mil pessoas e faça piadas nas suas livres imitando pessoas sufocando é…a sociopatia exposta numa vitrine.
O Brasil elegeu isso. O Estadão ajudou a eleger isso. Luciano Huck ajudou a eleger isso. Vera Magalhães. William Bonner. Ali Kamel. Gentili. Moro. Lobão. Olavo de Carvalho.
Qualquer um que não tenha se colocado claramente do lado diametralmente oposto ao genocida. Que não tenha dito “ele não”. Todos estes deram sua contribuição para onde estamos hoje.
E aqueles que dizem se arrepender, mas que ainda assim não teriam votado em Haddad ou que “depende de quem for o oponente de Bolsonaro em 2022” também demonstram não ter aprendido nada mesmo depois de 300 mil mortes.
Raramente a História pode ser vista de modo tão óbvio; normalmente, os tons de cinza tornam qualquer análise complicada. Mas há alguns momentos em que a divisão entre o certo e o errado é clara demais para justificar hesitação.
Este é um desses momentos. Se nem 300 mil mortes fizerem a pessoa constatar o erro do voto… é porque esta pessoa tem desvio de caráter incorrigível e deve ser considerada cúmplice do genocídio.
Trezentas mil pessoas mortas deveriam ser muito mais do que o suficiente para que as instituições digam “Chega.
Temos que interromper essa loucura.” Mergulhamos num pesadelo. Numa distopia.
E temos que nos lembrar de que, por mais barulhentos que sejam (especialmente com a ajuda de bots), no final das contas os bolsonaristas são minoria numérica e já causaram estragos demais graças à passividade gerada pela tolerância.
300 mil pessoas. Não podemos enxergar isso com naturalidade. Não podemos normalizar o genocídio. Não podemos.
O impeachment de Bolsonaro é mais do que uma questão política; é exigência humanitária.