Mário Gazziro confirma que vídeo que acusa o religioso de pedofilia é falso e desmonta laudo de 2020 apresentado por bolsonarista Rafael Moreno, que divulgou as imagens em meio à tentativa do fundador do MBL, Rubinho Nunes, de emplacar CPI.
Por Plinio Teodoro, compartilhado da Revista Fórum
O resultado da perícia encomendada pela Fórum e o jornal O Estado de S.Paulo ao professor de engenharia de informação na UFABC e instrutor de computação forense no MBA de segurança de dados da USP, Mário Gazziro, é contundente em afirmar que é falso o vídeo divulgado por bolsonaristas e apoiadores do MBL para acusar o padre Júlio Lancellotti de pedofilia.
“As evidências indicam que os vídeos e montagens NÃO PERTENCEM AO SUPOSTO ACUSADO, Padre Júlio Renato Lancellotti, após constatação de montagens sobre vídeos para simular vídeo-chamadas”, diz a conclusão da perícia – leia a íntegra ao final da reportagem.
Gazziro ainda desmonta o laudo que teve apenas a conclusão apresentada nas redes pelo bolsonarista Rafael Moreno.
Candidato derrotado a deputado estadual em São Paulo, ele divulgou o vídeo – que já havia circulado nas redes em 2020 – no dia 5 de janeiro, enquanto o fundador do MBL, Rubinho Nunes (MDB), tentava emplacar uma CPI contra a atuação do religioso junto aos pobres da região central da capital paulista.
Segundo ele, o autor da perícia feita em outubro de 2020 cometeu erros básicos ao analisar um vídeo filmado da tela de um celular “para não deixar rastro digital”.
“Ele não periciou o material original. Seria o mesmo que em um tribunal não chamar uma testemunha ocular, e sim um terceiro, que ouviu a história de uma outra pessoa”, explica Gazziro à Fórum.
Analisando o laudo anterior, o perito ainda afirma que o relatório não revela a origem do vídeo e, nem mesmo, quem encomendou o trabalho.
“A justificativa do perito anterior, Onias Tavares de Aguiar, no laudo de 2020, de que as imagens em seu laudo foram desfocadas por baixa resolução do celular de origem (visto que o material em se tratou da filmagem de um celular o qual exibiu os supostos vídeos – o que na verdade também é um artifício para ocultar rastros digitais forenses), sem fazer qualquer menção ao fato da técnica de borramento ser um indício cabal de tentativa de ocultação de geração por tecnologias deepfake, como apresentado nesse laudo em detalhes, invalida por completo seu laudo, o qual determinamos aqui, nessa nova perícia, ser SEM VALOR FORENSE OU POR SUA VEZ, JURÍDICO”, conclui Gazziro, que não descarta o uso de deep fake na edição do vídeo.
“Usando o ano de 2020 como base, procuramos por ferramentas de criação de deepfakes dessa mesma época, e encontramos a DeepFaceLab, uma ferramenta que iniciou em 2018 mas se tornou bastante madura e estável no ano de 2020, a qual poderia eventualmente ter sido utilizada para forjar a aparência do Padre Júlio Renato Lancellotti sob os vídeos em questão”, afirma o laudo.
Segundo o perito, a constatação do laudo de que houve montagem, edição e divulgação de material adulterado para simular uma vídeo-chamada para acusar padre Júlio de pedofilia é crime.
“Rafael Moreno, incorreu no crime de provocar a ação de autoridade, comunicando-lhe a ocorrência de notícia-crime ou de contravenção que sabe não se ter verificado, com pena de detenção, de um a seis meses, ou multa”, diz o laudo.
Leia a íntegra da perícia