Padre Nixon de Paquetá

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Por Washington Luiz de Araújo, jornalista

Fiz a escalada da montanha da vida removendo pedras e plantando flores. (Cora Coralina)




A Ilha de Paquetá não encontrará mais fisicamente pelas ruas, pela igreja e capela, pelas casas, pelos saraus, o nosso amigo, Padre Nixon Bezerra.

Sempre brincava com ele sobre nossos nomes, Washington e Nixon se encontrando em Paquetá. Ele sorria e me dizia o motivo de ter o nome Nixon: nascido em 1973 em Caicó, Rio Grande do Norte, o nosso amigo ganhou este nome em razão de seu pai, o sargento da Polícia Militar, José Arildo de Brito, ter admirado a coragem do então presidente dos EUA, Richard Nixon, ter sido o primeiro daquele país a visitar a China (1972) no cargo presidencial.  

O filho de José Arildo e Lucinete sempre foi um libertário, um rompedor das fronteiras da intolerância. Padre católico, nunca discriminou ateus ou adeptos de religiões diferentes da sua. Pelo contrário, congregava.

A foto deste post foi feita por mim em agosto de 2018, na Festa de São Roque. Dei a ele o bóton “Lula Livre”, fruto da campanha pela libertação do hoje presidente da República. Nixon me perguntou o que eu faria com a foto e eu pedi para divulgá-la nas redes sociais. De pronto, com o sorriso de sempre, me disse: “Pode divulgar. Vão falar contra, mas deixo claro que nas minhas homilias não faço proselitismo político-partidário, mas, nas ruas, sou um cidadão e prezo pela liberdade de ter posições políticas”.

No entanto, uma pessoa, que não preza a liberdade coletiva, resolveu, literalmente, reclamar ao bispo (arcebispo do Rio de Janeiro, Dom Orani Tempesta) por ter visto a foto no Facebook do Jornal A Ilha, de Paquetá.

 O fato virou notícia na coluna de Ancelmo Gois, de O Globo, que procurou o padre e dele ouviu a mesma frase que havia me dito naquele dia em que se celebrava São Roque, padroeiro da Ilha, cujo nome é dado a uma Capela, praça e praia em Paquetá.

Não deu em nada a fofoca da pessoa intolerante. Ficou a história que comprova o firme caráter do Padre Nixon.

Foi fundamental em nossa luta para reavermos um horário digno das barcas. Do final de 2019 até 2023, a população da Ilha de Paquetá manteve-se mobilizada para que a empresa que (des)organiza o transporte de barcas (único que nos leva ao continente) nos devolvesse a grade de horário que nos foi tirada na base do autoritarismo.

Padre Nixon, protamente, abriu a igreja e o salão paroquial para receber a população em concorridas assembleias que decidiram lutar nas ruas e na justiça por um horário que não escorchasse mais ainda nossa rotina.

Esteve conosco numa histórica audiência pública na Alerj – Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, levando sua palavra corajosa contra os desmandos da empresa e do governo do Estado; participou de um encontro inter-religioso, no Iate Clube de Paquetá pela volta da grade horária.

No livro “O Pequeno Príncipe”, Saint-Exupery afirma: “Aqueles que passam por nós não vão sós, não nos deixam sós. Deixam um pouco de si, levam um pouco de nós”. Padre Nixon deixou muito dele em nós. Paquetá é uma ilha cercada de solidariedade por todos os lados; nosso amigo foi e é muito responsável por isso.

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