O hotel #MaksoudPlaza encerrou as atividades. E daí?
Por Adriana do Amaral, compartilhado de Construir Resistência
Para mim, que nunca me hospedei no hotel cinco estrelas, ícone de uma geração que visitou São Paulo ou frequentou os seus espaços, vai deixar saudades como sempre acontece com os espaços que são desocupados. A minha pergunta é: será que paredes coloridas serão preservadas? Ou o novo proprietário mudará tudo modificando a paisagem de quem caminha pela região da #AvenidaPaulista?
Frequentei o lugar nas décadas de 1980 e 1990, como jornalista. Subi naqueles elevadores e conheci algumas personalidades. Destaco as entrevistas, em clima intimistas, com alguns dos meus ídolos: #AstorPiazzola e #GilbertoGil.
O primeiro, que se apresentaria no teatro do hotel, queria falar mais sobre aventuras do que de música. Principalmente das caçadas às baleias, em épocas onde inexistia o politicamente correto. Gil também não falou sobre música, mas política e os seus planos para a cultura brasileira, nos tempos do governo popular, do #PT.
Sobre política também tentou falar o vice-presidente da#Cost Rica de então, mas uma colega que esqueceu-se de cruzar as pernas o distraia. Eu, sentada ao lado dele, sem sucesso, fazia sinais que o vestido dela mostrava mais do que devia, sem sucesso.
Entrevistei dezenas de médicos, cobri congressos, eventos etc.. A entrevista mais divertida foi com um chef de cozinha japonês, que comandaria o serviço de um jantar para poucos – na época a culinária japonesa não era tão popular no Brasil. Ele me contava que mesmo com toda a competência e boa vontade dele os sabores em São Paulo seriam muito diferentes dos originais, pois na terra dele seriam usados apenas peixes frescos, pescados nas águas gélidas, em alto mar, poucas horas antes. Sincero, ousou dizer que nunca usaria peixe congelado ou resfriado #Japão, o que considerava uma heresia. Ou seja, o preço da globalização fez os grupos seletos comerem comida sem sabor.
Desta entrevista, curiosíssima, mediada por uma intérprete, lembro-me das perguntas curtas e respostas sem fim. Na ocasião eu usei um gravador e lembro-me de ter mostrado as vozes e o idioma tão diferente aos meus filhos crianças, que riam perplexos sem entender nada, mas encantados com a sonoridade das palavras não compreendidas.
Foi no Maksoud que eu assisti ao meu primeiro show de jazz, que confesso foram poucos. Alguns de #MPB que foram vários.
Outra aventura foi a tarifa do taxi. Desavisada fui passageira de um, que peguei na porta do hotel sem saber da preço (tabela) majorado. Na hora de pagar, imaginem o susto que- e prejuízo- que levei.
Um hotel 100% nacional, mas que envelheceu em conceito, idade e gestão.
Tomara que os novos proprietários não apaguem as cores que enfeitam o céu.