Publicado em Tijolaço –
O noticiário dos jornais sobre as alegações finais da defesa do ex-ministro e ex-deputado Antonio Palocci, publicadas na íntegra pelo Poder360, estão sendo tratadas pela mídia como uma discussão se R$ 3 milhões cabem ou não numa mochila, tendo em vista os R$ 500 mil dados a Rocha Loures terem lotado um mala.
Trato do problema geométrico, menor ao final, mas destaco, para quem quiser ler e pensar outra dúvida que o texto levanta: está mesmo Antonio palocci negociando uma delação premiada onde assuma o papel de arrecadador de dinheiro para o PT pela via de propina?
É exatamente o contrário o que se extrai da leitura das longas 192 páginas do documento apresentado ontem por seus advogados.
Palocci nega em toda a linha ter negociado ou extorquido doações da Odebrecht pelo contrato de construção das sondas para o pré-sal, disparado o maior negócio da empreiteira com a Petrobras.
Nada, nem mesmo uma concessão de “contrapartidas”, é admitido por Palocci, que diz serem voluntárias e legais as doações da Odebrecht.
A leitura é cansativa, até porque 50 páginas buscam demonstrar o óbvio: que Sérgio Moro enfeixou em si a onipotência de ser o juiz de todo e qualquer caso que envolva a Petrobras e o governo petista, numa violação absoluta ao princípio do juiz natural.
Que, de resto, pouco importa, porque seja qual for o juiz está moralmente impedido de desqualificar qualquer acusação ou absolver qualquer acusado porque, “se fosse com o Moro ele condenaria”.
Mas chama a atenção a veemência com que são rebatidas as acusações dos procuradores e as delações de Marcelo Odebrecht.
É difícil pensar que se faça três advogados assinarem algo que viesse a ser desmentido cabalmente em dez ou 15 dias.
Possível, é. Provável, não. Até porque os advogados que assinam a defesa são profissionais qualificados, não guris aventureiros que se prestassem a este papel.
Ou é, no máximo, um sinal do que o que diria em uma delação não é o que diz sem ter uma barganha penal.
A tão propalada delação de Palocci pode ser verdade, mas também pode ser uma pressão.
Que, ao menos pelos termos em que sua defesa se manifestou ontem, não teria sido aceita.
A ver. No tempo do salve-se quem puder, o que é dito hoje pode ser desdito amanhã.
PS. Após a publicação deste post, surgiram notícias de que Palocci estaria “empurrando” para Guido Mantega os pagamentos para o casal de marqueteiros. Não parece ser o que os promotores querem para fechar delações. O alvo é Lula.