Por José Eduardo Mendonça, compartilhado de Projeto Colabora –
Mudanças já atingem desfiles e eventos do setor de roupas que, de acordo com a ONU, responde por 8% a 10% das emissões de gases estufa do mundo
A indústria da moda tem que se preparar para mudanças profundas. Com a pandemia, o varejo não deve desistir de seus compromissos com sustentabilidade. Na verdade, agora é a hora de refletir sobre seus processos, e ainda sobre os danos que eles causam ao planeta. Apenas um efeito de sua atividade, que não se relaciona ao varejo, é o das viagens. A consultoria Zero to Market calcula que foram produzidos 21 mil toneladas de carbono com os os desfiles e eventos da indústria da moda – o equivalente às emissões de um pequeno país.
No caso da Shangai Fashion Week, 2,5 milhões de pessoas viram seminários e palestras só nas primeiras três horas de streaming, o que resultou no consumo de uma enorme quantidade de energia. A semana de moda chinesa, a primeira sem público e com transmissão dos desfiles pela internet, ainda sem gerou emissões também com a movimentação de pessoas para produzir, desfilar e transmitir.
De showrooms produzidos digitalmente até amostras e campanhas digitais, a mudança se estenderá a outros processos na cadeia de produção para que compradores economizem viagens. O varejo deve procurar soluções sustentáveis baseadas na tecnologia para onde forem possíveis, incluindo uma criatividade maior nas plataformas sociais.
De acordo com a Aliança da Moda Sustentável da ONU, o setor de roupas responde por 8% a 10% das emissões de gases estufa do mundo, Com o coronavírus os céus ficaram mais claros mesmo nas regiões mais impactadas, mas isso pode ser temporário.
Com lojas físicas fechadas e o atraso nas entregas, com o varejo assoberbado, os consumidores estão se adaptando a viver com menos, no conceito de “comprar menos, comprar melhor”. A demanda de roupas para ficar em casa, como os moletons, continua a subir, com o trabalho de casa se tornando o novo normal. Depois dos vírus os compradores mais que nunca se sentirão inclinados a procurar marcas com as quais mais se alinham, com a ênfase recaindo em produtos feitos com consciência.
Para atender a demanda da fast fashion, ou barata e de curta duração, as peças do varejo vêm do exterior, onde a mão-de-obra é mais barata. Em muitos dos países, como China e Bangladesh, lockdowns e a obrigação de ficar em casa, com exceção apenas de atividades fundamentais, foram fechadas muitas fábricas e deixou trabalhadores sem renda. Cerca de 2 milhões de trabalhadores do setor estão no momento sem emprego. A roupa pronta para vender feita em Bangladesh responde por 85% de suas exportações, ou mais de 40 bilhões de dólares.
Ainda, há os compradores que adquirem toneladas de peças para abastecer o pequeno e médio varejo e os camelôs. Os fregueses destas redes de distribuição compram não qualidade, mas preço – sem se dar conta que, na ponta do lápis, as roupas de melhor qualidade têm no tempo uma relação custo/benefício mais vantajosa.
Os dados globais são preocupantes. As emissões causadas pela moda são mais que as de vôos internacionais e navegação comercial juntas. Uma única lavagem libera 700 mil fibras, que vão parar nos sistemas de esgoto e muitas vezes passam os sistemas de reaproveitamento sem detecção. Um consumidor médio consome 26.7 quilos de roupas novas por ano, ou o tamanho de uma mala grande. E usamos na maior parte apenas 20% destas peças.
Hoje compra-se no mundo 400% de roupas a mais que vinte anos atrás. E nos EUA, 235 milhões de toneladas vão terminar no lixo a cada ano. Uma das soluções propostas pela Aliança é a criação de diversas mini-confecções em grande cidades, que trabalhariam com alta tecnologia, o que pode reduzir custos e de onde os produtos partiriam para o mercado local e das cidades próximas, economizando também os custos e a poluição causados pelo transporte.
Seja lá como for, a indústria da moda, com 2.5 trilhões de faturamento por ano. Terá de ser mais inteligente e mais sustentável para se recuperar das enormes perdas que chegaram com a Covid-19.