Um ano depois das queimadas históricas de 2020, as maiores que o Pantanal já sofreu, o fotógrafo Ricardo Martins visitou o bioma para fotografar as paisagens e moradores — entre animais e humanos — que comporiam seu livro lançado em março deste ano, Pantanal – um patrimônio natural e sua cultura.
Por Giulia Granchi, compartilhado da BBC News Brasil em São Paulo
Para a produção, feita na região pantaneira mato-grossense, Ricardo fez uma expedição de 50 dias, em um trajeto que mescla meios de transporte como automóveis, barcos, um avião, quadriciclos e até cavalos.
Com o objetivo de tornar a experiência interativa, algumas páginas do livro têm um QR code, que dá a possibilidade de assistir aos bastidores das fotos por meio de vídeos no YouTube.
O fotógrafo menciona que, durante a expedição, percebeu o poder de recuperação da vegetação.
“O Pantanal tem uma capacidade incrível de se regenerar, por isso não encontrei muitas cicatrizes visíveis da grande queimada de 2020. Mas encontrei uma seca brutal em 2021, que no meu livro chamei de ‘A Grande Seca’, ali presenciei e fotografei a busca de animais desesperados por água.
Segundo o Laboratório de Aplicações de Satélites Ambientais (LASA) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), entre janeiro e novembro de 2020, o Pantanal teve 30% de sua área atingida pelo fogo.
Levando em conta somente o pantanal mato-grossense, esse índice chega a 40% de área consumida por incêndios. O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) detectou mais de 12 mil focos de incêndio durante 2020.
São os maiores números da série histórica da instituição, que iniciou o monitoramento em 1998.
De acordo com o biólogo Gustavo Figueroa, que faz parte da ONG SOS Pantanal, o bioma tem uma influência muito forte do Cerrado, uma vegetação que cresceu sofrendo alterações pelo fogo.
“Há algumas sementes que têm sua ‘dormência’ quebrada com o fogo, que também serve para limpar algumas espécies que dominam as demais e abrir espaço para outras. Por isso, o Pantanal tem uma resiliência maior às queimadas do que outros biomas, como a Mata Atlântica, que não é um ambiente onde o fogo acontece naturalmente. Mas é importante reforçar que isso vai dimiuindo cada vez mais conforme temos fogos mais intensos e mais recorrentes.”
Figueroa também aponta que, ainda que a aparência verde dê a impressão de que o Pantanal já voltou ao “normal”, isso não é verdade.
“Há espécies que demorariam mais de 40 anos para voltar ao que eram, e muito do que se vê são cipós, vegetações primárias que conseguem crescer em ambiente degradado.”