Para a atenção de saúde básica, “Menos Médicos”

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Por Fernando Brito em seu Blog – 

A reportagem de capa de hoje na Folha de S. Paulo mostra que os problemas de saúde pública que vieram à tona com o “Mais Médicos” são algo não apenas distante de serem resolvidos quando em severo processo de agravamento.

Num país de 210 milhões de habitantes, pouco mais de mil dos 17 mil médicos formados a cada ano se interessam por fazer sua residência em medicina de família e algo em torno de 1,7 mil em clínica geral, as especialidades que mais se ligam aos cuidados primários de saúde que são o pesadelo de um “sistema de doença”, que é o nome que merece, de fato, a Saúde no Brasil.

Sistema que, aliás, é bom negócio, que atrai cada vez mais empresas do exterior para vender serviços a quem pode (é certo que muitos com a corda no pescoço) pagar por eles, é certo que com a ajuda do Estado, com as renúncias fiscais no setor de saúde (notadamente os “planos”) que andam na faixa dos R$ 40 bilhões por ano, o equivalente a um terço, aproximadamente, do orçamento da Saúde.




A estratégia é bem sucedida. Cada vez temos mais médicos, mas menos médicos que desejam se voltar para a saúde pública:

Dos recém-formados, apenas 4% miram unidades de saúde Considerada uma área estratégica e capaz de solucionar até 80% dos problemas que chegam ao SUS, a atenção básica em saúde tem registrado baixa adesão de recém-formados em medicina quando o assunto é a preferência no mercado de trabalho.
Dados inéditos de uma pesquisa com 4.601 graduados entre 2014 e 2015 mostram que só 3,7% deles desejavam trabalhar exclusivamente nesse setor, responsável pelo atendimento nas unidades de saúde.
Já 30,1% dizem que até aceitam trabalhar na área, mas também assinalam outras, como hospitais e consultórios particulares.
Na outra ponta, 66,2% dizem que não desejam atuar na atenção primária. Os dados fazem parte de um novo recorte da pesquisa Demografia Médica, divulgada neste ano pela USP e Conselho Federal de Medicina.

E nem se diga que há falta de oportunidades: das 3.587 vagas oferecidas em residência médica para recém-formados, dois terços (o equivalente a quase todo o incremento de vagas nos últimos 5 anos) estão ociosas. Também não são os baixos salários, apenas, porque há forte oferta de complementação e até as vagas do “Mais Médicos”, com oferta de remuneração de R$ 11 mil são “esnobadas”.

É claro que o que ocorre merece um diagnóstico mais amplo, que começa mesmo no que é incutido aos jovens  como valor na formação profissional, mas é evidente que não haverá solução em prazo aceitável – saúde não pode ser algo para 2050 – sem a intervenção do Estado e algum grau de compulsoriedade no exercício de medicina generalista mesmo para os que desejem seguir especialidades, que seja no início de carreira, ao menos.

Não há nada de “comunista” nisso e basta ver o que se passou na Inglaterra dos pós-guerra com o National Health System (NHS), que tornou pública quase toda a atividade médica no país.

O que acontece na medicina é o retrato de um Brasil doente – ultramoderno e farto para algumas partes do corpo nacional e, ao mesmo tempo, deixando necrosar-se imensas partes do organismo nacional.

Nem é preciso dizer que um corpo assim está doente, seriamente doente e, seguindo desta forma, “evoluirá a óbito”.

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