Para entender os atentados no Rio de Janeiro, olho nos políticos em ascensão no Rio

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No Rio, hoje, não há grande operação policial que não seja decidida, desencadeada, balizada antes de tudo pela disputa miliciana de territórios.

Por Hugo Souza, compartilhado de Come Ananás




Foto: Reprodução/X/@MundoNoticiasRJ.

Quem quiser entender os atentados levados a cabo por milicianos nesta segunda-feira, 23, na Zona Oeste carioca, precisa saber das figuras em ascensão na política do Rio de Janeiro. Por exemplo: Márcio Canella, deputado estadual do União Brasil, e Rodrigo Bacellar, presidente da Alerj, do PL.

Oriundo de Belford Roxo, na Baixada Fluminense, o obscuro Marcio Canella foi campeão de votos na eleição para deputado estadual no Rio em 2022. Foi o mais votado, sufragado por 181.274 cabeças. Não foi por acaso, carisma ou imensos serviços previamente prestados à população. É que Marcio Canella foi o candidato de oficiais da ativa da PM do Rio e de notórios milicianos da Baixada, como Marcinho Bombeiro, Juracy Prudêncio, vulgo Jura, e Fabinho Varandão.

Em um vídeo de setembro de 2022, Varandão aparece em um comício no bairro Lote XV, em Belford Roxo, pedindo “encarecidamente que vocês ajudem os meus deputados a serem os deputados mais votados do Rio de Janeiro”.

Referia-se, o Varandão, a Márcio Canella e a Daniella do Waguinho, outra campeã de votos no Rio em 2022, outra ajudada por milicianos, ela para deputada federal. Quando Daniella virou ministra de Lula, do Turismo, as denúncias de suas ligações com milicianos sempre resvalavam em Marcio Canella.

“Meu grupo político que nunca me abandona”, disse Varandão ao microfone naquele dia, naquele palanque, naquele bairro de Belford Roxo, referindo-se sempre a Marcio Canella e a Daniela do Waguinho.

No ano passado, Waguinho – o da Daniela – e Márcio Canella, velhos parceiros, foram denunciados pelo Ministério Público do Rio por peculato, fraude a licitação e organização criminosa. A denúncia relata até licitação resolvida à mão armada na prefeitura de Belford Roxo.

Márcio Canella é ligado a Marcus Amim, um delegado de polícia do Rio de Janeiro que até pouco tempo atrás acumulava o cargo com o de comentarista de programa “espreme que sai sangue” do SBT, no qual anunciava chacinas na TV, ao vivo, dizendo coisas como “nós vamos manchar o ambiente com o sangue sujo de vocês”.

Em 2018, ano da execução de Marielle Franco, Marcus Amim ganhou a Medalha Tiradentes, maior honraria do estado do Rio, por indicação de Márcio Canella. Na época, o jornal O Dia, do Rio, apresentou assim o mais novo comendador da praça: “Amim é quem investiga a comercialização de 117 fuzis apreendidos numa ação que prendeu o sargento da PM reformado Ronnie Lessa, acusado de matar a vereadora Marielle Franco”.

Pois bem.

Na última quinta-feira, 19, Marcus Amin foi nomeado por Claudio Castro secretário de Polícia Civil do Rio de Janeiro. Até a estátua do Tiradentes, impávida na frente da Alerj, sabe quem foi o “pai” da indicação, ou pelo menos um deles: Marcio Canella. O “pai” ou il padrino, porque é de máfia que se trata.

Canella nega. É claro que nega.

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