Documentário premiado retrata a violência dos desaparecimentos forçados na Baixada Fluminense
Por Edu Carvalho, compartilhado de Projeto Colabora
No dicionário, ‘desova; ação de desovar’, ligação com a palavra ‘desovado’, que significa ‘largar um cadáver ou carro em algum lugar distante; dar sumiço: desovou o corpo no matagal’. O que também pode ser explicado didaticamente com o ato que acontece regularmente na Baixada Fluminense, no Rio Janeiro, e que agora ganha visibilidade através de um documentário da Quiprocó Filmes, Fórum Grita Baixada e Observatório Fluminense, da UFRRJ, que reflete sobre os desaparecimentos forçados na região. A ação, que tem requintes profissionais, inclui a participação do Estado numa dinâmica que deixa mais denso o entendimento sobre segurança pública.
A realização da obra é parte do projeto Grita Baixada 2020, organizado pelo Fórum Grita Baixada, com apoio da Fundação Heinrich Böll. Já as cenas remontam a área do KM 32, em Nova Iguaçu, onde há depoimentos de mães que se organizam em coletivos e em grupos de arteterapia para lidar com a dor da ausência. É a partir disso que pesquisadores da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) desenham, na teoria, o que acontece, vira e mexe, na prática.
“O impacto que se espera que essa obra possa ter na sociedade é despertar a conscientização e a empatia em relação à realidade das vítimas, além de expor as dinâmicas e as técnicas utilizadas pelo Estado nesse contexto. Através da narrativa e da representação emocional dessas histórias, o curta busca gerar reflexão e debate sobre a violência institucional, os direitos humanos e a importância de enfrentar essas questões sociais”, conta Laís Dantas, diretora do filme, nascida e criada em Duque de Caxias, que já gabaritou o Prêmio de Melhor Filme na Competição Oficial Internacional de Curtas-metragens do 12º Festival Internacional de Cine Político – FICIP, em Buenos Aires, na Argentina.
“Espero que ‘Desova’ possa sensibilizar o público, levando as pessoas a questionar a impunidade e a falta de resposta diante desses casos, bem como estimular a demanda por justiça e a necessidade de medidas efetivas para prevenir e combater a desaparição forçada. Ao expor a magnitude do vazio deixado pela perda e o impacto profundo nas vidas das famílias afetadas, a obra busca promover uma mudança social e contribuir para a construção de uma sociedade mais justa e solidária”, resume Laís, que estará presente na live que acontece na próxima quarta-feira (30), Dia Internacional das Vítimas de Desaparecimentos Forçados, marcando o lançamento do documentário de 25 minutos.
A temática é esmiuçada em ricos detalhes pelo Fórum Grita Baixada, que reúne diversas organizações e pessoas da sociedade civil articuladas em prol de iniciativas voltadas aos direitos humanos, sistema de justiça e a uma política de segurança pública cidadã para a Baixada Fluminense. Não por coincidência, ganhou espaço nesta coluna há um ano, quando lançou um levantamento sobre o assunto compilando dados oficiais do Instituto de Segurança Pública e Disque Denúncia nos últimos cinco anos. A insistência sobre o debate só mostra que o cenário por lá não mudou.
Assim, o debate se coloca posto, num chamado para que a sociedade olhe, de maneira real, para aqueles que somem, vítimas do Estado e do poder paralelo, que dita o ritmo da vida enquanto as coisas acontecem fora das lentes do Fantástico. É preciso frear a desova. Vocês podem ver o trailer em primeira mão aqui.