Publicado em Jornal GGN –
Jornal GGN – Para não dar crédito ao furo da CartaCapital, os jornais O Estado de S. Paulo e O Globo deram a notícia de que as investigações da Lava Jato não se limitam à Petrobras com quase uma semana de atraso. Apenas quando o juíz Sérgio Moro tocou no assunto foi que os periódicos destacaram o fato, em 5 e 6 de dezembro. Mas a revista de Mino Carta já havia publicado, com exclusividade, e no final do mês passado, uma reportagem sobre quase 750 obras que Alberto Youssef intermediou com outras empresas públicas além da Petrobras. (Leia mais aqui)
Mino Carta escreveu sobre o episódio.
Por Mino Carta – Na CartaCapital
As manchetes que ornam esta página encabeçaram recentemente o noticiário de dois jornalões nativos. Acima (por incrível que pareça) o Estadão de sexta 5 de dezembro, abaixo O Globo de sábado 6. As duas manchetes poderiam ter saído uma semana antes. Bastaria ter dado repercussão à reportagem de CartaCapital, nas bancas em São Paulo na sexta 28 de novembro e no dia seguinte no Rio e em todo o País. É o que teria acontecido se a nossa mídia fosse digna de um país contemporâneo do mundo, democrático e civilizado.
O Estado de S. Paulo e O Globo, cada qual a seu modo, fazem questão de ignorar CartaCapital. Não estão sozinhos nesta prática, e não me refiro apenas a uma reação midiática. Uma porção conspícua da sociedade nativa repudia o jornalismo honesto, ou, por outra, aquele que não diz, ou não escreve, quanto não aprecia ouvir ou ler. Nada disso parece digno de um país democrático e civilizado. E não se daria, digamos, na Europa e nos Estados Unidos, quem sabe não se desse na Argentina, na Bolívia, na Venezuela.
Sem levar em conta a ofensa à própria razão e às regras do bem-viver, o fenômeno confirma o desrespeito a uma equipe de colegas profissionais e a um repórter, titular da primazia, no caso o excelente Fabio Serapião. Segundo a nossa mídia, só vale o que noticia. É como se CartaCapital e seu site, frequentado por milhões de navegantes, não existissem. Fica assim demonstrado o apego selvagem à virtualidade, exato oposto da realidade.
Há sinais inúmeros de tentativa, praticada em todos os quadrantes possíveis, de construir um país virtual, nas mais diversas manifestações, ancorado à visão e às crenças do indivíduo e dos grupos. Há fatias da sociedade graúda, por exemplo, dispostas a acreditar que, ao sabor do escândalo da Petrobras, o impeachment de Dilma Rousseff é inescapável, quando, a bem da verdade factual, a presidenta só poderia ser derrubada pelo golpe, habilitado a jogar a Constituição no lixo.
A oposição tucana porta-se como se tivesse ganho a eleição, enquanto o PT apresenta-se como o partido que deixou de ser faz muito tempo, no mínimo desde que chegou ao poder. Nem se fale dos demais. E ali, no centro da reação, dispara Fernando Henrique Cardoso, o cientista político que ninguém leu, a acusar a presidenta de prometer para não cumprir, quando foi ele o autor do maior engodo eleitoral da história do País ao conduzir a campanha eleitoral de 1998 à sombra da estabilidade, para desvalorizar o real 12 dias depois de empossado para o segundo mandato. E quebrar o Brasil.
O procurador-geral pede a demissão da diretoria da Petrobras, sem motivo e autoridade para tanto. Já o ministro da Justiça, do alto de sua pompa provinciana, não perde a ocasião para proferir impávidas falastronices, convicto de impressionar o auditório. E o ministro Gilmar Mendes? Em lugar de fazer justiça, dedica-se ao exercício da política, secundado pelo jovem colega Antonio Dias Toffoli, pupilo súbito. Tivesse sido Toffoli nomeado hoje por Dilma, o mesmo Gilmar o definiria como bolivariano. Mas o Brasil é o único país em que crimes contra a humanidade prescrevem e uma Lei da Anistia imposta pela ditadura continua em vigor.
Vejam só, não faltava quem alimentasse a certeza de viver na sucursal de Miami, agora prefere Dubai.