Para não esquecer: 22 de janeiro de 1891 nasce Antonio Gramsci

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Por Ernesto Germano Parés,  jornalista, escritor

Antonio Gramsci nasceu no dia 22 de janeiro de 1891, em Roma, e é considerado um dos maiores filósofos marxistas. Participou da fundação do Partido Comunista Italiano e é, ainda hoje, uma das referências essenciais do pensamento de esquerda.




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Curiosamente, sem abrir mão do conceito de uma revolução proletária, como todos os marxistas, Gramsci tinha em mente que antes deveria haver uma “mudança de mentalidade”. Para ele, os agentes principais dessas mudanças seriam os intelectuais e um dos seus instrumentos mais importantes, a escola.

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Em minha mesa de estudos está sempre disponível o livro “Os intelectuais e a organização da cultura” (vejam no final). Gramsci foi talvez o primeiro a levantar a questão da cidadania como forma de educação das massas. Ele trouxe à discussão pedagógica a conquista da cidadania como um objetivo da escola. Ela deveria ser orientada para o que o pensador chamou de elevação cultural das massas, ou seja, livrá-las de uma visão de mundo que, por se assentar em preconceitos e tabus, predispõe à interiorização acrítica da ideologia das classes dominantes.

Gramsci dedicou grande parte dos seus trabalhos ao papel da cultura e dos intelectuais nos processos de transformação histórica.

Hegemonia significa, para Gramsci, a relação de domínio de uma classe social sobre o conjunto da sociedade. O domínio se caracteriza por dois elementos: força e consenso. A força é exercida pelas instituições políticas e jurídicas e pelo controle do aparato policial-militar. O consenso diz respeito sobretudo à cultura: trata-se de uma liderança ideológica conquistada entre a maioria da sociedade e formada por um conjunto de valores morais e regras de comportamento. Segundo Gramsci, “toda relação de hegemonia é necessariamente uma relação pedagógica”, isto é, de aprendizado.

Por que todo o ódio da múmia Olavo de Carvalho e dos seus seguidores com relação a Gramsci e qual o motivo de defenderem uma “escola sem partidos”?

Porque a maioria dos pensadores clássicos sobre o tema, desde Comênio até Jean-Jacques Rousseau, colocavam o sistema pedagógico como algo vinculado à natureza e diziam que a própria criança, ao evoluir, tomaria aos poucos a sua aprendizagem.

Gramsci não aceita esse pensamento e diz que “A educação é uma luta contra os instintos ligados às funções biológicas elementares, uma luta contra a natureza, para dominá-la e criar o homem ‘atual’ à sua época”.

Já escrevi sobre Gramsci, no ano passado, na data de seu falecimento, 27 de abril de 1937. Vou apenas repetir o que escrevi.

Gramsci foi preso e condenado no dia 8 de novembro de 1926. E tem início um longo périplo por prisões e cárceres.

Inicialmente foi condenado a cinco anos de confinamento na remota ilha de Ústica, mas, no ano seguinte, acontece uma nova condenação de vinte anos de prisão em Turi, próximo a Bari, capital da Apúlia. Sua saúde começava a se degradar rapidamente. Em 1932 a União Soviética começaram a discutir um acordo para trocar prisioneiros políticos e Gramsci poderia ter sido libertado, mas o acordo falhou pelas exigências da Itália.

Em 1934, sua saúde estava seriamente abalada, e ele recebeu a liberdade condicional, após ter passado por alguns hospitais em Civitavecchia, Formia e Roma. Gramsci morreu em Roma, Itália, no dia 27 de abril de 1937, aos 46 anos, algum tempo depois de ter sido libertado.

Mesmo submetido a torturas e maus tratos, Gramsci foi capaz de produzir uma grande obra “Cadernos do Cárcere”, que reúne uma revisão original do pensamento de Marx, adaptando-o às realidades italianas.

Alguns pensamentos de Antonio Gramsci:

“A crise consiste precisamente no fato de que o velho está morrendo e o novo ainda não pode nascer. Nesse interregno, uma grande variedade de sintomas mórbidos aparece.”

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“Existem dois tipos de políticos: os que lutam pela consolidação da distância entre governantes e governados e os que lutam pela superação dessa distância.”

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“Será possível amar a coletividade sem nunca ter amado profundamente criaturas humanas individuais?”

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“Na política de massas, dizer a verdade é uma necessidade política.”

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“O Estado é a organização económico-política da classe burguesa. O Estado é a classe burguesa na sua concreta força atual.”

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“Odeio os indiferentes também, porque me provocam tédio as suas lamúrias de eternos inocentes. Peço contas a todos eles pela maneira como cumpriram a tarefa que a vida lhes impôs e impõe quotidianamente, do que fizeram e sobretudo do que não fizeram. E sinto que posso ser inexorável, que não devo desperdiçar a minha compaixão, que não posso repartir com eles as minhas lágrimas. Sou militante, estou vivo, sinto nas consciências viris dos que estão comigo pulsar a atividade da cidade futura que estamos a construir. Nessa cidade, a cadeia social não pesará sobre um número reduzido, qualquer coisa que aconteça nela não será devido ao acaso, à fatalidade, mas sim à inteligência dos cidadãos. Ninguém estará à janela a olhar enquanto um pequeno grupo se sacrifica, se imola no sacrifício. E não haverá quem esteja à janela emboscado, e que pretenda usufruir do pouco bem que a atividade de um pequeno grupo tenta realizar e afogue a sua desilusão vituperando o sacrificado, porque não conseguiu o seu intento”.

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“Vivo, sou militante. Por isso odeio quem não toma partido, odeio os indiferentes”.

O livro citado… mas tem uma história

Eu estava indo para o bar, aqui perto de casa, beber uma gelada e vi um desses “sebos de calçada”. Um monte de livros espalhados no chão e uma placa “qualquer livro por R$ 1,00”. Parei e fiquei olhando… praticamente nada me interessava, mas vi esse de Gramsci.

Peguei e falei com o cara: “Você tem ideia do que está vendendo por um real?”. Ele me olhou assustado e disse “Não. Uma senhora me pagou para arrumar a garagem dela. Achei esse monte de livros e ela disse que podia jogar tudo fora. Resolvi tentar vender.” Peguei o livro, dei R$ 10,00 para ele e fui para casa… Agora é patrimônio e ninguém pega!

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