Publicado em Jornal GGN –
O neurocientista Miguel Nicolelis esteve presente no Grito pela Democracia, realizado no último sábado (21) na Casa de Portugal, no bairro da Liberdade, em São Paulo. Ele afirmou que “o mundo hoje sabe que é golpe” o processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff e chamou de “mafioso, medieval, medíocre”, o governo interino de Michel Temer.
“Fui embora do Brasil para perseguir a minha utopia, ser cientista. Mas a ciência só existe quando vem do homem. A felicidade de milhões não pode ser subjugada pela ganância de uma minoria”, disse.
“Este Brasil não pertence aos homens brancos, milionários e alguns deles criminosos, que ocuparam o poder neste momento”, continuou. “Eu quero o meu voto de volta. Eu quero no Palácio do Planalto a brasileira que foi eleita por 54 milhões de brasileiros. Eu só aceito a verdadeira presidente do Brasil sentada na cadeira da Presidência da República”.
Da Rede Brasil Atual
Zé Celso, Laerte, Tata Amaral, Nicolelis: cultura, ciência e democracia
Por Vitor Nuzzi
“A ciência só existe quando vem do homem. A felicidade de milhões não pode ser subjugada pela ganância de uma minoria”, afirma neurocientista. “Quero o meu voto de volta”
São Paulo – “O mundo hoje sabe que é golpe”, disse o cientista Miguel Nicolelis, que ajudo a repercutir internacionalmente o processo de impeachment no Brasil. No ato Grito pela Democracia, realizado neste sábado (21) em São Paulo, ele lembrou de quando foi estudante secundarista e participou de passeatas contra a ditadura. “Fui embora do Brasil para perseguir a minha utopia, ser cientista. Mas a ciência só existe quando vem do homem. A felicidade de milhões não pode ser subjugada pela ganância de uma minoria”, afirmou Nicolelis, atacando o “mafioso, medieval, medíocre” governo interino e pedindo a volta de Dilma Rousseff.
“Este Brasil não pertence aos homens brancos, milionários e alguns deles criminosos, que ocuparam o poder neste momento”, acrescentou o cientista. “Eu quero o meu voto de volta. Eu quero no Palácio do Planalto a brasileira que foi eleita por 54 milhões de brasileiros. Eu só aceito a verdadeira presidente do Brasil sentada na cadeira da Presidência da República.” Para Nicolelis, o golpe atacou “o coração e a alma” dos brasileiros: a cultura. “Todos somos artistas, somos poetas.”
A cartunista Laerte Coutinho identificou diferença entre o golpe atual e o de 1964. “Por que fechar o Congresso? Foi o Congresso que deu o golpe”, afirmou. Para ele, os partidos tradicionais estão em crise e as pessoas são convocadas a participar politicamente de uma forma difusa. Neste momento, acrescentou, é preciso se preocupar não apenas em derrotar o golpe, “mas construir o depois do golpe”, para restabelecer a normalidade democrática e retomar as demandas sociais. “Estamos no meio. Fora Temer”, disse Laerte.
Com uma mensagem em vídeo, a cineasta Tata Amaral, que está em Cannes, destacou o protesto feito por equipe e elenco do filme Aquarius. “Foi lindo, muito aplaudido”, afirmou, ressaltando a “sensação incrível” de deixar o país com Dilma Rousseff na presidência e voltar com Michel Temer no poder. “A gente apenas começou na conquista de direitos. A gente não pode e não vai voltar atrás”, disse Tata. “Sou contra o governo golpista de Temer. Não estamos à venda. Esse projeto não foi eleito.”
Ela também fez referência à extinção do Ministério da Cultura, que após pressões do meio artístico deverá ser mantido por Temer. Segundo Tata, é um órgão para estabelecer políticas e garantir inclusão e democratização, e isso se evidencia pela quantidade de autores produzindo. “Isso é uma política pública, não acontece à toa”, afirmou, manifestando também contra o fim da Controladoria-Geral da União e as ameaças ao SUS.
Com uma jaqueta vermelha e um enorme cachecol branco, o diretor teatral José Celso Martinez Corrêa comentou artigo do diretor do Sesc São Paulo, Danilo Santos de Miranda, para quem a cultura está em coma. “Não é a cultura, é o Estado que está em coma. A República foi enterrada com esse golpe”, disse Zé Celso, aludindo ao “espetáculo ridículo” de 17 de abril, quando a Câmara aprovou a admissibilidade do processo de impeachment. “Todos aqueles corruptos se abrigaram nesse golpe”, afirmou o diretor, referindo-se a José Serra (que lembrou ter sido presidente da União Nacional dos Estudantes) como “entreguista”.
Ao mesmo tempo, Zé Celso que o fechamento do Ministério da Cultura, agora revogado, sinaliza algo positivo, uma “revolução cultural da juventude”. “Porque cultura é uma coisa transversal. A cultura é simplesmente a coisa mais importante da vida. É a infraestrutura da vida.” Para o diretor do Oficina, “resistência” é uma palavra superada. “Você tem de re-existir”, afirmou.
Muitos participantes do “Grito” fizeram referência à mídia tradicional e às ameaças à comunicação pública. O professor Laurindo Leal Filho, por exemplo, destacou a criação da Empresa Brasil de Comunicação (EBC), que ajudou a “aumentar o patamar civilizatório da sociedade brasileira”. “A Globo é inimiga do povo, da democracia”, acrescentou.
“Não acreditem no que sai na mídia”, disse o jornalista e publicitário Chico Malfitani, um dos fundadores da torcida organizada Gaviões da Fiel, do Corinthians. “A mesma mídia que criminaliza a Gaviões e as torcidas organizadas é a mesma que criminaliza as esquerdas”, afirmou, destacando o apoio dado a movimentos como à greve dos professores estaduais e à ocupação das escolas em São Paulo. Ele lembrou ainda que há 18 integrantes da Gaviões presos há mais de um mês”, jogados na delegacia e esquecidos”, por protestar contra o desvio de recursos da merenda escolar. Há uma audiência prevista para esta segunda-feira (23).