Por Washington Luiz de Araújo, jornalista –
Tem gente de direita com caráter, com boas intenções, solidárias; tem, sim. Sem maniqueísmo de achar que só na esquerda há virtudes. Feita ressalva, vamos aos fatos.
Os xingamentos que os conservadores, que estão mais para fascistas, têm feito nos últimos tempos aos que pensam de forma diferente da deles dão conta que esse povo, com diz um amigo, extrapolou as raias da cordialidade. Os gaúchos utilizam a expressão “a luta não quita a fidalguia”. E não desobriga mesmo; é possível lutar e ser gentil, educado, mas não é isso o que se tem visto nas ruas, nos facebooks, nos twitters e whatsapps da vida nesses tempos bicudos.
E a raiva, a estupidez, a boçalidade têm se voltado principalmente contra as mulheres que pensam de maneira diversa daqueles que vão às ruas de verde e amarelo, como se as cores da bandeira lhes dessem carta branca para proferir termos de baixo calão contra as mulheres e também para agredir os héteros e LGBTs, bastando que não se alinhem a seus códigos e suas referências.
Na abertura da Copa do Mundo mandaram um “VTNC” para a presidenta do país. Depois disso, tem sido um tal de “vaca” pra lá, “vagabunda” pra cá, “puta” aqui e acolá.
Recentemente, a atriz Letícia Sabatella foi ofendida por um grupo fascista em Curitiba. Os termos acima citados (sim, nem nisso são originais) foram vociferados por um tal de Gustavo Arbage. Este ganhou nos últimos dias seus 15 segundos de fama. E que fama!
Em 2014, após os xingamentos à presidenta Dilma Rousseff, na abertura da Copa do Mundo, um meu amigo, pelo facebook, chamou-a de “vaca”, “vagabunda” e mandou-a “lavar roupa suja”. Não é mais meu amigo. Como na frase atribuída a Luiz Fernando Veríssimo, você só deve considerar alguém como pessoa legal até que o veja tratar mal um garçom.
Entrevistei em 2011 o grande Eduardo Galeano e ele disse o seguinte para a Revista Brasileiros a respeito das agressões dos homens contra mulheres: “A Declaração dos Direitos Humanos fala da igualdade de gêneros, que ainda é um direito a se conquistar. Na maior parte do planeta, as mulheres são muito maltratadas. Eu diria que, na realidade, elas são tratadas pior que nas letras de tango. Como se sabe, nesse ritmo musical, as mulheres são todas putas, menos a mama. E essa realidade de tratar as mulheres pior do que são tratadas nos tangos se traduz em muitíssimos casos, lugares e na violência direta que o macho exerce sobre a fêmea”.
O que temos visto nos tempos recentes é que, se uma mulher demonstrar pensamento de esquerda, merece todos esses xingamentos, inclusive feitos por mulheres da direita. Estas, na lógica deles, estão isentas. Elas e as mamas.
É flagrante não só a violência abjeta contra as mulheres, mas também aos integrantes de comunidades LGBTs e héteros, bastando que cometam o “crime” de cruzarem seus caminhos. Mas, reiterando, tem, sim, gente boa no espectro da direita. No entanto, seria muito bom que essas pessoas aparecessem para criticar essas atitudes agressivas. A chamada grande mídia também está convidada a fazer o mesmo. Quem sabe, assim, possamos começar a nos conhecer melhor e aprender a conviver de maneira mais civilizada, madura e construtiva.
O que importa, afinal de contas, é a integridade. Pensar diferente deve ser algo não apenas merecedor de tolerância e respeito, mas, sobretudo, encarado como um fator de riqueza cultural, política e humanística. A diversidade de pensamento e o respeito à opinião do outro é o que nos torna livres enquanto sociedade. É o que nos capacita a evoluir como nação.