Publicado em Jornal GGN –
“Em toda a América Latina e Caribe, 56% dos cidadãos acham que fake news geralmente são disseminadas próximo às eleições”, diz ainda estudo da Transparência Internacional
Jornal GGN – Pesquisa feita pela Transparência Internacional, no âmbito do Barômetro Global da Corrupção: América Latina e Caribe, mostra que quatro em cinco brasileiros acreditam que notícias falsas, às fake news, foram disseminadas para influenciar nas eleições.
O resultado da pesquisa, feita em outros 17 países, foi divulgado nesta segunda-feira (23). “Em toda a América Latina e Caribe, 56% dos cidadãos acham que fake news geralmente
são disseminadas próximo às eleições, enquanto 30% dos entrevistados acham que ocorre
raramente ou ocasionalmente”, aponta o estudo.
“No Brasil, mais de três em quatro pessoas acham que fake news são disseminadas com frequência ou muita frequência”, prossegue. Ao mesmo tempo, 82% dos brasileiros entrevistados (cerca de quatro em cinco pessoas) avaliaram o uso de “informações falsas ou notícias falsas sendo disseminadas para influenciar os resultados das votações”.
Nesse quesito, o Brasil aparece tecnicamente empatado com Bahamas (85%), Argentina (81%) e Venezuela (80%). Os países que apresentaram índices menores da população que acredita que as fake news foram usadas para influenciar nas eleições são a Costa Rica (52%) e o Chile (59%).
“Nesta pergunta sobre fake news, o Brasil tem, de fato, um resultado assustador. As pessoas falam com que frequência a notícia falsa é utilizada para influenciar os resultados políticos do país. Isso sem dúvida se deve a esse momento durante as eleições de 2018 em que fake news foram muito disseminadas”, afirmou Guilherme France, coordenador da pesquisa no Brasil, em entrevista ao UOL.
A pesquisa da Transparência Internacional foi realizada pelo Instituto Ipsos com cerca de mil pessoas em cada país. No Brasil, a população foi ouvida entre fevereiro e abril. A margem de erro é de 2,8 pontos percentuais para mais ou para menos, com 95% de confiabilidade.
A pesquisa perguntou também se as pessoas achavam que a corrupção aumentou nos últimos 12 meses em seu país. No Brasil, 54% responderam que sim. O país com o maior percentual de pessoas que responderam afirmativamente foi a Venezuela (87%), seguida pela República Dominicana (66%) e Peru (65%). Os países onde foi menor o percentual de pessoas que acham que a corrupção aumento nos últimos 12 meses são México (44%), Guiana (40%) e Barbados (37%).
Na média, a maioria dos cidadãos da América Latina e do Caribe (53%) avalia que a corrupção aumento em seu país nos últimos 12 meses, enquanto uma taxa de 16% considera que ela diminuiu.
Ao responder à pergunta sobre se a corrupção no governo é um problema em seu país, a maioria esmagadora na região (85%) disse que sim, a corrupção é um grande problema. Somente 13% afirmaram que a corrupção não é um problema ou é um problema pequeno. No Brasil, 90% responderam que a corrupção no governo é um grande problema para o país.
A transparência internacional também perguntou se a corrupção contribui para o fim da confiança dos cidadãos nas instituições (governo, tribunais e polícia). O levantamento revelou que apenas 21% da população latino-americana e caribenha confiam no governo, enquanto 27% disseram confiar nos tribunais e 33% na polícia.
Por outro lado, 57% acham que o governo de seu país não está fazendo um bom trabalho no controle da corrupção; enquanto 39% acham que sim, que o governo está se saindo bem na luta contra a corrupção.
“No Brasil, a pesquisa foi realizada durante os primeiros meses da administração do presidente Bolsonaro, muito cedo para avaliar quaisquer novas medidas adotadas pelo governo. No entanto, no início de 2019, as pessoas tinham expectativas muito altas para o desempenho de Bolsonaro, com base em sua plataforma de campanha e, principalmente, sua retórica”, diz a organização no relatório divulgado hoje.
A pesquisa procurou saber o percentual de pessoas que acham se grupos ou instituições estão envolvidos em corrupção. Para 53% dos caribenhos e latino-americanos, o chefe do Executivo (presidente ou primeiro-ministro) está envolvido em corrupção. Outros 52% acreditam que os membros do Congresso participam de algum esquema corrupto. Para 45% e 42%, policiais e juízes, respectivamente, são corruptos. Organizações Não Governamentais e jornalistas foram apontados por 27% e 21%, respectivamente, como envolvidos em corrupção.
“Com relação a esse dado de imprensa, a pesquisa mostra que a mídia é uma das instituições que a população vê como menos corrupta se comparada com as outras instituições avaliadas. Mas esse número reflete também a campanha que existe em determinados setores da sociedade, não só contra a imprensa, mas também contra a sociedade civil”, disse France.
No Brasil, 23% acreditam que jornalistas estão envolvidos com corrupção e 36% que há corrupção em organizações não governamentais. “Esse número reflete o impacto desta campanha coletiva de criminalização da imprensa e da sociedade civil”, pondera France.