Por Washington Luiz de Araújo, jornalista, Bem Blogado
Das boas e singelas coisas da vida. Semana passada, minha vizinha de muro em Paquetá, Viviane Botton, me perguntou de sua casa se eu tinha o livro “As Veias Abertas da América Latina”, de Eduardo Galeano. Fui ver na estante, tinha. Passei a ela pelo muro e observei que, em 2010, o entrevistei para a Revista Brasileiros. Levado pelo amigo cineasta, uruguaio\Brasileiro Guilhermo Planel, fui de carona para a entrevista do documentário “Mais Naufrágos do que Navegantes” (título aliás, doado por Galeano).
Emprestei o “Veias Abertas” na semana passada, por volta do 03 de setembro, por coincidência aniversário do autor.
Pois bem, neste 10 de setembro, recebo um “zap” da Vivi (sim, por que mesmo separados por muros nem sempre usamos a voz para nos comunicarmos). “Isso é uma dedicatória? Do Galeano? Decifra”, pergunta da vizinha, professora de Filosofia, depois do envio de uma imagem.
Vi a imagem com a dedicatória, mas respondi que não sabia se era, pois fui instruído de que o escritor não gostava de falar muito do livro, como dizia: “As Veias Abertas de América Latina foi um porto de partida e não de chegada”, e procurava navegar sobre outras obras do seu vasto, lírico e sempre contundente itinerário. E eu não iria cometer a indiscrição de levar o volume para pedir autógrafo, sendo que já estava conformado em não mencionar a obra. Ou iria?
Mas a inquieta Vivi foi ao Google e verificou que a assinatura era do Eduardo Galeano mesmo. E lá vai eu escarafunchar minha mente sobre aquele dia no Café Brasilero (assim mesmo, sem o i), em Montevidéu, local que Galeano considerava seu escritório para receber amigos e imprensa. Ressabiado em destacar o livro, mesmo assim devo tê-lo levado e pedido o autógrafo, pois o mês é setembro de 2010, o mesmo em que estivemos com Galeano.
Ah, eu caçador de coincidência, vejam aí: Galeano nasceu em setembro, a entrevista se deu num mês 09, a Vivi me pede o livro emprestado num setembro e descobriu o autógrafo neste 10 deste mês de outono\primavera.
Coincidências a parte, fiquei feliz em saber que, além da entrevista publicada na Revista Brasileiros, de ter participado, carregando instrumentos e me intrometendo em perguntas para a filmagem do documentário, da foto que tenho na parede física e da memória com o grande escritor, sou o orgulhoso proprietário de um autógrafo do mesmo. Não é pouca coisa para quem é tão pouco no mundo das letras.
No site do Brasil de Fato, encontrei texto de Michele de Mello sobre esta primeira obra de enorme repercussão de Eduardo Galeano, quando completava 50 anos, em 2021. “Em As Veias Abertas, Eduardo Galeano narra a história de exploração desse continente que dessangra suas riquezas desde o século 15 até o período atual. Uma investigação jornalística profunda, que une dados históricos com antropologia, mitos, realidades e sabedoria popular, numa narrativa que conduz o leitor a percorrer as realidades mais terrenas às experiências mais sublimes”, afirma a autora do texto.
“Eduardo rompeu qualquer fronteira de estilo. Uma prosa poética, coloquial, uma profunda pesquisa histórica. A obra do Eduardo é uma obra essencial, não só para entender a América Latina, mas para entender a vida e o mundo”, comenta o escritor brasileiro e tradutor de várias obras de Galeano ao português, Eric Nepomuceno., também no texto do Brasil de Fato.
Veja aqui texto completo sobre a obra, em 2021, quando esta completou 50 anos de sua publicação.