Pasadena: mais um factoide para se estudar na faculdade

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Por Miguel do Rosário, publicado em Tijolaço – 

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Professores de jornalismo de todo o Brasil!

Eis mais um caso para apresentar a seus alunos, sobre factoides políticos do jornalismo brasileiro.




O Estadão publicou matéria dizendo o seguinte:

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É manipulação em vários níveis.

Reparem no verbo “indica”.

Não há informação nenhuma dizendo que a reunião entre Paulo Roberto Costa, então um diretor importante da Petrobrás (funcionário há décadas na estatal, diga-se de passagem, e que recebeu várias promoções na era FHC), e o presidente Lula tratou da refinaria de Pasadena.

Por isso, o verbo usado é “indicar”.

“Indicar”, no dicionário do jornalismo verdadeiro, significa exatamente o contrário: “não indica”.

Porque no jornalismo verdadeiro não existe mulher “meio grávida”. Ou existem fatos ou não.

Lula negou que a reunião tivesse sido sobre Pasadena. Essa é a única informação concreta.

Olha só este parágrafo do Estadão, que modelo maravilhoso de manipulação babaca:

“Conforme o documento obtido pelo Estado, o encontro entre Lula e Costa se deu em 31 de janeiro daquele ano, no Palácio do Planalto,exatos 31 dias antes de o Conselho de Administração da Petrobrás, na época chefiado pela então ministra da Casa Civil Dilma Rousseff, dar aval à aquisição de 50% da refinaria.”

Exatos 31 dias…

O que significa “exatos 31 dias”?

E se fossem 32 dias, ou 27 dias, ou 54 dias?

O que o fato de serem “exatos 31 dias” prova? Nada.

Mas a expressão “exatos 31 dias” dá a impressão, e esse é o objetivo, de que a reunião entre Costa e Lula só podia ser sobre Pasadena, como se a Petrobrás não tivesse centenas de outros assuntos mais importantes a serem tratados.

Estamos ainda no primeiro nível da manipulação.

A Folha repercute a matéria, perdendo os escrúpulos. O verbo indicar é esquecido e lá vamos nós.

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Agora a coisa virou certeza. Parece brincadeira de telefone sem fio.

A “auditoria” apenas tinha mencionado reunião entre Costa e o presidente, não havia falado sobre o que discutiram.  A Petrobrás, naqueles anos, estava fazendo as mudanças que resultariam na descoberta do pré-sal. Havia vários assuntos a serem discutidos com Paulo Roberto Costa e Gabrielli. Pasadena era a menor das preocupações da Petrobrás naquele ano.

Essa é a manipulação em segundo nível.

O terceiro nível da manipulação, que para mim é a pior de todas, vem do próprio relatório do TCU, um órgão profundamente politizado, que apontou um “prejuízo” de mais de 700 milhões de dólares na refinaria de Pasadena.

Esse prejuízo foi meio que forçado pela pressão da mídia, que tratou, desde o início, a refinaria de Pasadena como uma “sucata velha” e a sua compra como uma coisa completamente inútil.

Onde já se viu, a Petrobrás adquirir uma refinaria nos EUA?

Na era FHC, a Petrobrás vendia suas refinarias para os EUA! Isso é o certo a fazer, na mentalidade colonizada de nossa mídia!

Comprar refinarias? Aumentar o patrimônio da Petrobrás? Expandir seus negócios? Isso é crime!

Esse prejuízo é uma manipulação, porque a refinaria está aí, dando lucro. A própria Folha, na época do escândalo, enviou uma repórter à Pasadena e descobriu isso. A matéria foi publicada no site, mas não no jornal impresso e nunca teve repercussão em outras mídias.

Trecho da matéria publicada na Folha:

“(…) a Pasadena Refining System Inc. (PRSI) teve, nos dois últimos anos, seu melhor desempenho desde 2005, operando com uma boa margem. Em 2013, o grupo de refinarias do qual ela faz parte teve uma média de 95% de aproveitamento.

Consultada, a Petrobras diz que a refinaria “opera em plena capacidade –de 100 mil barris/dia– com resultado positivo”.

O momento favorável é explicado pelo boom de produção do óleo não convencional leve, conhecido como tight oil, no golfo do México.

Incrustada num “cinturão” de refinarias localizado às margens do Houston Ship Channel, canal por onde circula grande parte da produção do golfo, a Pasadena Refining System se beneficiou da grande oferta de óleo leve, de boa qualidade e –por enquanto– barato nos EUA.”

***

Pois é, o petróleo continua barato nos EUA…

Como é possível apontar o “prejuízo” pela compra de uma refinaria alguns anos depois da operação, sem antes aguardar que ela dê resultados, e sem avaliar a sua importância estratégica?

Pasadena é um caso emblemático de manipulação, e que engolfou até mesmo a Dilma, que entrou no jogo da mídia, ao dar aquela declaração desastrada, de que “desconhecia os aspectos prejudiciais do negócio”.

Não tinha  “aspecto prejudicial” nenhum. As cláusulas eram comuns e explicáveis pelo fato de que o interessado na compra era a Petrobrás, não a Astra.

Com o fim do embargo econômico de Cuba, o porto de Mariel (construído pelo Brasil em Cuba), o novo canal do Panamá na China, as descobertas de petróleo no Golfo do México, a produção de petróleo de xisto no Texas, a refinaria de Pasadena passa a ser um ativo estratégico da Petrobrás, porque está situada no coração de tudo.

Todas as pipelines que abastecem os Estados Unidos de gasolina e diesel se encontram em Pasadena.

A mídia omite as informações. Parece que a Petrobrás comprou uma fábrica velha de reciclagem de papel na Sibéria.

Não, Pasadena é uma refinaria situada no lugar mais nobre do mundo do petróleo, às margens do canal de Houston, Texas.

***

Eu escrevi muitos posts sobre Pasadena. Procure no Google: Pasadena e Tijolaço ou Pasadena e Cafezinho.

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