Por Valentim Frateschi* –
Hoje eu cheguei lá na escola, na hora do lanche, e me deparei com as seguintes opções de lanche: coxinha ou bolinho de carne.
Adoro comer coxinha, mas hoje não podia nem pensar que já dava enjoo. A vontade mesmo era de comer um daqueles lanches enormes do mercadão com 600 gramas de mortadela. Mas, infelizmente, não tinha.
Para mim, não dava para comer carne moída àquela hora da manhã, muito menos uma coxinha. E aí? O que fazer?
Eu sabia que se eu desse uma mordida naquele bolinho de carne, não ia me fazer bem por causa da gordura e tal, mas, definitivamente, eu não queria dar uma mordida naquela coxinha e sentir o gosto de golpe.
Não estava a fim de sentir um gostinho de derrota, um gostinho de “coisa ruim vindo por aí”. Não estava dentro dos meus planos engolir o Temer e sua turma de golpistas: Cunha, Aécio, Janaina Paschoal, Jair Bolsonaro, etc.
Nessa hora, eu já estava pensando em passar fome ou então comer aquele bolinho de carne que não me faria bem pelo resto da manhã. Era tudo menos coxinha.
Engolir um pequeno pedaço daquela coxinha me faria engolir um golpe fascista, que engloba muitos preconceitos, inclusive o machismo e o racismo.
Você pode até achar besteira minha, mas então me responde: Por que não tem nenhuma mulher no novo ministério de Temer? Sequer a Janaina (que ingratidão hein, Michelzinho?!). Aliás, não tem nenhuma mulher, nenhum negro, nenhum gay, nem bissexual (pelo menos assumido). Agora… bandido? Até parece… Só tem sete investigados na lava jato e um advogado do PCC. Nada de mais…
Entendeu por que essa coxinha ia me fazer tão mal? Uma pequena mordida já era muito temerária. No final das contas, não comi nem mesmo a sobremesa, porque a única opção era picolé de chuchu.
*Valentim Frateschi tem 12 anos, mas já sabe quando deve evitar comer coxinha. O texto foi feito no dia 12 de maio, dia do golpe.
Foto da capa: montagem sobre foto de Marcello Casal Jr / Agência Brasil