Se encontrá-lo na rua, você não diz que é um campeão mundial. Nem acha que é um lutador de qualquer coisa. É um tipo magro. É pacato. Mas no ringue se transforma. Bate duro com as duas mãos

Meu pai gostava muito de boxe.




Em sua juventude, quando chegou ao Brasil, frequentou academia naquela São Paulo agitada dos anos 20. Mas desistiu da carreira quando viu que precisaria quebrar o nariz para lutar de verdade.

Foi o fim da promissora carreira daquele canhoto de coração de ouro. Mas o boxe foi uma paixão que permaneceu em sua vida até sua partida. Amava Éder Jofre, me levava às lutas no Pacaembu, Ibirapuera, Parque Antárctica.

E eu, mesmo sem propensão alguma para lutador, me via na infância socando sacos plásticos cheios de papel como se estivesse treinando em uma academia.

Já terminando o curso de Comunicações, o destino me colocou como estagiário por duas semanas no Jornal da Tarde e minha primeira tarefa foi cobrir a morte de Kid Jofre, na Academia do São Paulo, na Rua Santa Ifigênia. Depois fui trabalhar na Gazeta Esportiva e lá fiz reportagens de muita luta de boxe e conversei milhões de vezes com Newton Campos.

Acompanhei as carreiras de Miguel de Oliveira, Juarez de Lima, João Henrique, João Mendonça, Danilo Batista, Maguila. Trabalhei na Folha, no Estadão e na ESPN Brasil e vi muita gente boa: de Servílio de Oliveira a Xuxa e Popó, de Sertão a Lino Barros, Yamagushi, Esquiva, Adriana Araújo, Robson Conceição.

Tudo isso para dizer que assisti às primeiras lutas de Patrick Teixeira e logo percebi que o cara era diferenciado. Pegava duro este lutador nascido em Sombrio, cidade de Santa Catarina. Se encontrá-lo na rua, você não diz que é um campeão mundial.

Nem acha que é um lutador de qualquer coisa.

É um tipo magro.

É pacato.

Mas no ringue se transforma.

Bate duro com as duas mãos.

Tem no ringue a orientá-lo o ex-pugilista Xuxa, que fez história no boxe nacional.

Por isso, Patrick Teixeira é o campeão mundial dos médios-ligeiros da Organização Mundial de Boxe.

Poucos sabem disso aqui em nosso país, porque o boxe saiu de moda.

Patrick vai fazer sua primeira defesa do título no próximo dia 13.

Nos Estados Unidos.

O adversário é o argentino Brian Castaño, osso duro de roer.

No cartaz de apresentação da luta, os organizadores puseram a foto dos dois pugilistas e, atrás deles, Pelé e Maradona.

Se meu pai estivesse aqui na Terra, com certeza iria reservar o horário para ver a luta. E eu iria fazer de tudo para que ele não assistisse. Nessas horas, o velho Jamil se transformava, erguia os punhos e parecia lutar junto com o brasileiro da vez. Ele sofria do coração e ficava muito nervoso.

Talvez eu também não deva ver essa luta: vocês sabem como é um confronto entre Brasil x Argentina.