Paulo Freire: Brasil para o mundo, universalidade do indivíduo

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Por Adriana do Amaral, jornalista

Cada tempo imortaliza um gênio.  Hoje, 19 de setembro de 2021, celebramos os 101 anos do Patrono da Educação Brasileira: Paulo Freire. O brasileiro que ensinou ao mundo que educação requer troca: de experiências, de histórias de vida, de motivação, de metas, de ideias e ideais, de sonhos.




Paulo Freire foi muito além ao criar um método de ensino. Ele desenvolveu um novo conceito na práxis pedagógica alicerçada no compartilhar libertário onde a relação entre professor alunos e colegas se equivalem em importância e não cabe o individualismo. Aprendizado que nasce da compreensão do saber com outro, e tem como didática o compartilhamento de experiências.

A prática dialógica, onde a aquisição da leitura e escrita é iniciada com a  compreensão da realidade individual só é possível devido à participação do grupo. A sala de aula se transforma em um ambiente multiplicador, facilitando a aprendizagem coletiva. De fato e direito.

É a chamada leitura do mundo. Saber construído no cotidiano. Onde a cultura individual é vista como um ativo e é considerada a vivência do grupo. Afinal, é conversando que a gente se entende, não é mesmo?

O mestre nos ensinou que ninguém aprende sozinho, e que “os homens se libertam em comunhão”. Uma visão que valoriza o indivíduo ao evidenciar a sua ação coletiva. Sobretudo, do entendimento sobre a opressão, que é o ponto de partida para a libertação e a emancipação social. Fundamental no passado e imprescindível na atualidade.

Ler a obra de Paulo Freire é descobrir um universo cujas ideias provam que há motivos para acreditar no ser humano. Atemporal, ele emancipou a pessoa humana ao defender que as respostas estão nelas próprias, mas a construção de uma sociedade diversa e mais igualitária requer o convívio inerente às relações interpessoais.  Um saber construído a partir da palavra, do diálogo, da reflexão e, por que não, do empoderamento.

Quando a troca é estimulada por perguntas elas geram respostas. E assim, quando o diálogo é possível, a reflexão acontece naturalmente. Paulo Freire encontrou um caminho que leva à compreensão da realidade comum, permitindo assim a consciência que emancipa e promove projeto a ser conquistado.

Do Brasil para o mundo

A obra de Paulo Freire é literatura, conteúdo e referência para a leitura do mundo em todos os tempos e vividos. Principalmente, numa época da realidade brasileira onde a dualidade de pensamento divide as opiniões e cria abismos culturais quase intransponíveis para os brasileiros divididos entre as próprias prioridades, com projetos antagônicos de construção de uma nação. A polarização que segrega, desconstrói e impede o desenvolvimento coletivo.

Um dos autores mais traduzidos e dentre os homens mais homenageados em todo o mundo na atualidade, é o terceiro teórico mais citado em trabalhos acadêmicos da área de Humanas. Paulo Freire acumula mais de 20 títulos concedidos por instituições de ensino nacionais e internacionais e mais de 30 títulos de Doutor Honoris Causa. Chegou a ser indicado para o Prêmio Nobel pela importância do conjunto da obra, com mais 20 livros que deixou como legado de 75 anos de vida.

Foi considerado Educador pela Paz, em 1986, pela ONU -Organização das Nações Unidas- e Educador dos Continentes, pela OEA -Organização dos Estados Americanos-, em 1992. Em 2012 foi declarado o Patrono da Educação Brasileira (Lei Federal No 12.612/2012), no governo da presidenta Dilma Rousseff.

O reconhecimento internacional virou marca, contudo Paulo Freire nunca foi unanimidade no país que nasceu. Foi assim no passado e é agora, no presente. Mas ele viveu e deixou o seu pensamento para incomodar. Ou melhor, questionar, a partir do antagonismo e as semelhanças, sempre pensando, como ele dizia, nos “esfarrapados do mundo”. Um brasileiro que teve a sua liberdade cerceada ao ser considerado comunista e subversivo no período da ditadura militar. Contraditoriamente, um homem católico.

Depois de ser preso por 72 dias, foi expulso na condição de exilado político. Em 1964 foi obrigado a se ausentar do país onde nasceu e amou a vida inteira, só retornando em 1980, um ano após a Lei da Anistia. Foi obrigado a deixar o Brasil, mas o Brasil nunca o deixou…

Conheci exilados assim. Amargurados, tristes, mas fieis ao sonho político por causa do qual foram desenraizados. Não me lembro de ter conhecido um, sequer, que tivesse se arrependido da utopia por causa da qual, lutando, terminou no exílio. [1]

Após breve estada na Bolívia, viveu no Chile, Estados Unidos, Suíça e teve passagens por países da África onde expandiu sua prática, pesquisas e pensamentos. Trabalhou no Instituto Chileno para Reforma Agrária; foi professor visitante na Universidade de Harvard, nos Estados Unidos; consultor do Conselho Mundial das Igrejas em Genebra, Suíça e um dos fundadores do Instituto de Ação Cultural, voltado para a educação pela independência. Dentre os inúmeros feitos levou o método Paulo Freire para a Guiné-BIssau.

Ao retornar ao Brasil estabeleceu-se em São Paulo, onde foi professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), da Pontifícia Universidade Católica (PUC-SP) e atuou na construção do Partido dos Trabalhadores.

A memória de Paulo Freire está envolta em fakenews – as chamadas notícias falsas – além de debates retrógrados, na tentativa de deturpar suas teorias. Ofensas que remetem aos anos de chumbo da história do Brasil, gerando confusão de pensamento num momento crucial onde o entendimento das ideias freirianas nos arma de ideias. Felizmente, os admiradores são em número maior do que seus desafetos e uma palavra criada por ele, Boniteza, norteia o programa de governo do Partido dos Trabalhadores, numa justa homenagem ao centenário.

Inspiração para a vida toda

Conheci Paulo Freire ainda adolescente ao ler “O que é o Método Paulo Freire”, da coleção  “Primeiros Passos”, editado pela Editora Brasiliense, nos anos 1980. A obra explica, resumidamente, o que é sistema de ensino a partir das palavras geradoras. Lembro-me de ficar encantada com o poder delas ao serem extraídas da vivência dos alunos e catalisadoras da arte das letras. Também, de tê-lo indicado inúmeras vezes, como facilitador na educação de adultos numa opção às tradicionais cartilhas.

Anos mais tarde, tive a oportunidade de conhecê-lo pessoalmente. Ele estava prestes a assumir o cargo de Secretário Municipal de Educação do governo popular do PT, na gestão da prefeita Luiza Erundina. Assumiu em 1989, mas deixou o cargo em 1991. A mídia hegemônica e os desafetos tentaram podar as asas do professor/secretário, que deixou um legado invejável de realizações, enquanto gestor. Eu o visitei em seu apartamento, em São Paulo, após agendamento com a sua primeira esposa, Elsa.

Como eu gostaria de voltar no tempo e poder reviver esse momento! Como deve ter tido paciência o professor ao dialogar com a jornalista inexperiente de então… Dizer como ele se tornou importante para a minha vida pessoal e profissional.

Na época, São Paulo teve a oportunidade de pensar um novo modelo de educação, idealizada por um advogado em primeira formação, mas que se tornou o mais importante professor do Brasil. A capital paulista deixou de retomar a história de luta pela alfabetização que foi interrompida pela ditadura militar.  A experiência que ficou conhecida como “Quarenta Horas de Angicos”, e que permitiu aos trabalhadores do corte de cana-de-açúcar, no Rio Grande do Norte a lerem e escrever.

Historicamente falando, foi quando a educação freiriana ganhou corpo. A aplicação do projeto-piloto reuniu 380 trabalhadores da base da pirâmide social. Era o ano de 1963 e às 40 horas-aulas foram divididas em 45 dias. A última delas, ministrada no dia dois de abril, foi assistida por ninguém menos do que o Presidente da República na época, João Goulart. Ele testemunhou o desenvolvimento dos alunos, inclusive que escreveram e leram o discurso de formatura.

Não havia material didático pronto. Tudo foi construído coletivamente. A realidade do lugar foi pesquisada pelos professores, estudantes universitários que doaram o seu trabalho voluntariamente durante as férias escolares por acreditar no projeto. Foram selecionadas 410 palavras geradoras, extraídas a partir da rotina dos alunos, respeitando a cultura do lugar e dos então analfabetos. As aulas baseavam-se em conversas que norteavam discussão sobre a vida, o trabalho e a sociedade. De uma palavras surgiam outras, que tinham a mesma raiz ou sentido, aumentando o universo vocabular e a compreensão da escrita.

O “Método Paulo Freire” divide-se em investigar, tematizar e problematizar, em sala de aula. Através do vocabulário, o professor conduz o trabalho, relacionando o contexto ortográfico e realidade.  O professor é o facilitador, mas os alunos os protagonistas. Dinâmica que gerava a politização e o pleno exercício da cidadania a partir da circularidade do pensar.

A vivência em Angicos serviria de modelo para um novo Programa Nacional de Alfabetização, que seria aplicado a partir de 1964. A experiência iria ser multiplicada em todo o país, beneficiando cinco milhões de adultos. Pelo menos, era a intenção do governo de então. Mas a conscientização dos trabalhadores levou a uma greve, que desagradou aos senhores de engenho.

A pedra no meio do caminho foi lançada no dia dois de abril de 1964. Toda a equipe foi presa e os alunos, com medo da repressão, queimaram todo o material produzido. Paulo Freire foi banido de sua Pátria. Mas quem consegue apagar a história? O professor ganhou o mundo, assim como o seu respeito.

Retorno ao país natal

De volta ao Brasil, Paulo Freire trouxe na bagagem o convívio com diferentes realidades e culturas. O que além de expandir o seu pensamento de cidadão e intelectual o fez compreender ainda mais a realidade brasileira. Para ele, cultura não se discute, mas se aceita.

O livro “A Sombra desta Mangueira”, publicado em 1985 e reeditado em edição comemorativa em 2013 (com revisão e notas de sua segunda esposa, Ana Maria Araújo Freire) permite-nos conhecer um pouco mais o cidadão e ser humano Paulo Freire. O livro atualiza o principal reconhecimento ao trabalho do intelectual.

Um homem de fé, que chegou a passar necessidades e apenas não passou fome, segundo ele, devido às frutas de época, fartas na sua infância, Paulo Reglus Neves Freire nasceu em 19 de setembro do ano de 1921, na cidade Recife, Pernambuco. Um menino que fez do próprio quintal um templo de contemplação, e que influenciou os pensares do mundo a partir do adulto que se transformou.

Reproduzo aqui as palavras do professor Paulo Freire, no livro, e que evidencia a sua escolha de vida pela promoção da emancipação política, social e econômica e cultural da pessoa humana: “a paixão com que conheço e com que falo ou escrevo não diminuem em nada o compromisso com que denunciou ou anuncio. Eu sou uma inteireza e não uma dicotomia.

Ele denuncia: “a minha terra é dor de milhões, é fome, é miséria, é esperança também de milhões igualmente famintos de justiça, porque a Terra da gente envolve também o processo de luta por sonhos diferentes, às vezes antagônicos, como os de suas classes sociais.

Mas a vida é assim mesmo. O diálogo, defendido à exaustão por Paulo Freire, nos faz avançar, regredir, progredir e insistir. Lições para toda a vida, gerações após gerações. Uma luta diária para não permitir ao dominador o direito de esmagar o dominado. Sobretudo, na prática da política que de quando em quando se aplica como acontece nesse início dos anos 2020, de combater a despolitização da educação.

Pois, não podemos nos esquecer:

Educação precisa tanto da formação técnica, científica, profissional quando do sonho e da utopia.

O que, para Paulo Freire, não é possível em “aliança com a direita”.

Saberes múltiplos e diversificados

Seus livros nos apontam o desenvolvimento dos saberes freirianos a partir das vivências e acúmulo de experiências trocadas. A partir da escrita e publicação, em ordem cronológica, a obra de Paulo Freire descortina o universo cidadão relacionado à construção do saber. Leitura que não envelheceu com o tempo, e sim nos estimula e gera uma vontade de aprender e ensinar, tocar e trocar. Eles nos sinalizam caminhos de construção.

A tese apresentada para o concurso da cadeira de História e Filosofia da Educação da Escola de Belas Artes de Pernambuco, em 1959, já sinalizava quem seria Paulo Freire. Educação e Atualidade Brasileira critica a prática da educação bancária e lança as sementes da educação como ferramenta de mudança na busca da promoção do indivíduo e sociedade.

Já a Propósito de uma Administração, de 1961, reavalia ações dos tempos que o autor participava da administração da Universidade do Recife (atualmente Universidade Federal de Pernambuco). Dois anos depois, em Conscientização e alfabetização: uma nova visão do processo, ele defende a sua visão sobre a educação libertadora e conscientizadora como alternativa aos métodos tradicionais de ensino.

Na condição de exilado político, em 1967, pela prática da educação dialógica, escreveu, em terras chilenas, Educação como Prática da Liberdade. Um ano depois lança Pedagogia do Oprimido, a obra-prima onde defende a práxis pedagógica e repudia a doutrinação. Livro que se tornou referência mundial.

Em Ação Cultural para a Prática da Liberdade e Outros Escritos, de 1970, avalia a realidade brasileira a partir de seu olhar crítico. A leitura de Cartas à Guiné-Bissau, de 1978, nos leva a conhecer a internacionalização da experiência da aplicação da metodologia de ensino criada por Paulo Freire. A partir da experiência na África, e através da troca de correspondência, em 17 cartas, é possível ler detalhes da experiência no diálogo entre o autor e seu interlocutor, Mário Cabral, na época Comissário de Educação e Cultura de Guiné-Bissau.

Na obra Os cristãos e a libertação dos oprimidos, de 1978, Paulo Freire aborda a questão da liberdade religiosa, tão debatida nos dias de hoje com os avanços da intolerância. Nascido em família de fé diversa, ele aponta como a formação religiosa que recebeu, no seio da própria família, foi o ponto de partida para, mais tarde, como educador, refletir sobre suas ideias e a forma como se relacionou com a diversidade humana. Ironia do destino ele ter sido banido do Brasil com a alcunha de comunista, não é mesmo?

Em 1979 analisa, em Extensão e Comunicação, a informação em meio à sociedade agrária a partir da realidade tão distinta como as vivências dos técnicos e os camponeses se comparado ao professor e o aluno. Já a universalização da experiência de Angicos, provando que o modelo criado no Brasil pode ser replicado em qualquer realidade, é retomada em “A Importância do Ato de Ler em Três Artigos que se Completam”, relatando, em 1982, detalhes da experiência pedagógica em São Tomé e Príncipe. Educação e Mudança, de 1979, relata pensares da construção de um novo Brasil que vivenciava o início da abertura política, evidenciando as relações do homem frente à realidade. Ao longo de toda a sua obra, Paulo Freire sempre retoma a importância da leitura na alfabetização de adultos.

A questão dialógica reaparece em Por uma Pedagogia da Pergunta, escrita em forma de conversa com o filósofo chileno Antonio Faundez, em 1985. Através do compartilhamento de experiências, eles defendem a prática do “repensar constante”. Uma temática que Paulo Freire retoma em Pedagogia da Esperança, de 1982, que é uma releitura em forma de atualização do que foi abordado em Pedagogia do Oprimido. Uma espécie de reaprendizado analítico de trinta anos de construção de ideias e trabalho realizado.

Paulo Freire sempre foi generoso na troca dialógica com os co-autores, companheiros de jornada que encontrou pelo caminho da vida. Muitas respostas sobre a evolução da educação do Brasil estão, por exemplo, em Pedagogia: Diálogo e Conflito, de 1985, escrito em parceria com de Moacir Gadotti e Sergio Guimarães. 

Em 1986, o interlocutor é o professor norte-americano Ira Shor, que divide com ele a autoria do livro Ousadia – O Cotidiano do Professor. Publicado pela Unicef, em 1989, Educadores de Rua, uma Abordagem Crítica – Alternativas de Atendimento aos Meninos de Rua aborda a essencialidade do papel da educação para àqueles que vivem à margem, em meio à pobreza e excluídos na sociedade e sala de aula.

Sempre instigante e contestador, Paulo Freire analisou, em 1992, um modismo da época na obra Professor Sim. Tia Não: Carta a Quem Ousa Ensinar, valorizando e estimulando o profissional de ensino. Em 1993, em Política e Educação, reflete sobre as verdades da classe dominante e o cansaço existencial enquanto na coletânea de 11 textos, Que fazer – Teoria e prática em educação Popular, ele dialoga com o jornalista Adriano Nogueira sobre o papel da educação para a transformação social.

Uma espécie de livro de memórias, Cartas à Cristina – Reflexões sobre Minha Vida e Minha Práxis, de 1994, fala de si próprio como pensador e no mundo. Em À Sombra Desta Mangueira, escrito em 1995, ele atualiza as suas reflexões e faz crítica à política neoliberal e retoma a questão ideológica.

O livro foi reeditado para celebrar o título de Patrono da Educação Brasileira. Em 1996 lançou Pedagogia da Autonomia, última obra escrita integralmente por ele, onde traz novas propostas, alicerçadas para a universalidade ética. Um ano depois, pouco antes de sua morte, acompanhou a elaboração de Pedagogia da Indignação, de autoria de sua esposa, Ana Maria, a partir de cartas escritas.

Atemporalidade

Seja a partir de suas ideias pessoais, da sua experiência de cidadão, professor e pesquisador, ou resultado da convivência com os alunos e outros autores, Paulo Freire escreveu sobre um tema comum, sempre expandindo as abordagens e estimulando os seus leitores. Não escreveu para a academia, mas para a sociedade. A partir dos títulos de seus livros podemos acompanhar a evolução e a maturidade de um homem que viveu além de seu tempo, e cujo saber não se esgotará nunca, pois pode ser aplicada a realidade atual vivida, acompanhando os novos rumos da sociedade.

O pensamento de Paulo Freire reflete o agora, a partir do passado aprendido  em lições de vida, mas vislumbram um futuro a ser construído. E como o futuro será sempre amanhã, o pensamento não envelhece e o método de ensino podem ser adaptadas e praticadas com o passar do tempo.

Boniteza – uma sociedade e construção

O livro A palavra boniteza na leitura de mundo de Paulo Freire foi organizado pela segunda esposa, Ana Maria, que reuniu amigos intelectuais para falar sobre o conceito cunhado por Paulo Freire. Inicialmente, a palavra buscava contextualizar o que o professor pensava sobre o amor na maturidade, porém o novo vocabulário se expandiu para uma visão de mundo. Junto com “esperançar”, a palavra da vez e política brasileira nos faz pensar e praticar dias melhores no Brasil.

Paulo Freire, na velhice, retomou uma promessa feita à sobrinha, para quem não escreveu no exílio. Universitária, ela queria entender o contexto brasileiro e as razões porque o tio havia deixado o Brasil. Mais tarde, ele materializou a dívida em livro, Cartas a Cristina, onde ele reafirma que “a pessoa conscientizada tem uma compreensão diferente da história e de seu papel nela. Recusa a acomodar-se e mobiliza-se, organiza-se para mudar o mundo”.

Vivo, ele não mudou o mundo, mas continua mudando as pessoas que leem os seus livros e se identificam com a sua história de vida. Pois, é impossível continuar sendo o mesmo indivíduo de antes após ler o professor amoroso, que viveu movido pela esperança e sempre lutou por um mundo melhor. Mesmo quando teve de esperar, agiu…

Para perpetuar a indagação, a esperança na transformação, Paulo Freire ajudou a criar, em 1981, seis anos antes da sua morte, o Instituto que leva o seu nome. Como está publicado no site do Instituto Paulo Freire, ele desejava “reunir pessoas e instituições que, movidas pelos mesmos sonhos de uma educação humanizadora e transformadora, pudessem aprofundar suas reflexões, melhorar suas práticas e se fortalecer na luta pela construção de “um outro mundo possível”.

O IPT é mantenedor da Editora e Livraria do Instituto, além da Universitas Paulo Freire, o Centro de Referência Paulo Freire e a Casa da Cidadania Plenetária. O IPT reafirma, fortalece e reinventa o legado do mestre.

Paulo Freire divulgou o nome do Brasil como poucos intelectuais o fizeram. Ele amou o país como poucos cidadãos brasileiros souberam amar, mas nem  por isso deixou de criticar, de fomentar a mudança, de gerar a conscientização. Por isso, foi banido no passado, recebido de volta de braços abertos e agora tem novamente a sua memória insultada.

O que temem os que menosprezam os saberes de Paulo Freire? Aqueles que não aprenderam as suas lições? O atual governo não honra o Patrono da Educação Brasileira e passa o vexame internacional de ser proibido pela Justiça de praticar atos institucionais contra a sua memória.

Se o analfabetismo persiste no Brasil é porque as escolhas políticas da classe dominante insistem na exclusão social. A ausência de educação formal e emancipadora perpetuam o abismo cultural, econômico e política que interessa a alguns em detrimento de poucos. Paulo Freire disse, em vida, que “gostaria de ser lembrado como um sujeito que amou profundamente o mundo e as pessoas, os bichos, as árvores, as águas e as vidas”. Um sujeito que pregava a sustentabilidade muito antes de o neoliberalismo preterir os homens.

O legado de Paulo Freire move gerações, pois ideias não morrem jamais.

Paulo Freire vive em sua obra. Paulo Freire vive em cada um dos seus leitores. Paulo Freire vive em mim. Viva Paulo Freire!

(19/10/1921 – 2/5/1997)

[1] A Sombra Desta Mangueira

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