Paulo Freire é o terceiro pensador mais citado em trabalhos pelo mundo

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Por Beatriz Montesanti, Nexo Jornal –  

De acordo com o Google Scholar, ‘Pedagogia do Oprimido’ é uma referência constante em estudos na área de humanas




ENQUANTO REPRIMIDO NO BRASIL, O EDUCADOR TORNA-SE REFERÊNCIA INTERNACIONAL

“Pedagogia do Oprimido” (1968), principal obra do pedagogo pernambucano Paulo Freire, é a terceira mais citada em trabalhos da área de humanas, segundo um levantamento feito no Google Scholar – ferramenta de pesquisa dedicada à literatura acadêmica.

O professor associado da London School of Economics, Elliott Green, analisou as obras mais citadas em trabalhos disponíveis na ferramenta, criada em 2004, que é desde então uma referência crescente para pesquisas, graças a sua acessibilidade.

Segundo ela, Freire é citado 72.359 vezes, atrás do filósofo americano Thomas Kuhn (81.311) e do sociólogo, também americano, Everett Rogers (72.780). Ele é mais referido do que pensadores como Michel Foucault (60.700) e Karl Marx (40.237).

OBRAS MAIS CITADAS#

Patrono da educação no Brasil, Paulo Freire é considerado um dos pensadores da pedagogia mais relevantes no mundo, com sua teoria sobre como aproximar o conteúdo acadêmico do universo dos estudantes, fazendo com que eles se apropriem da educação.

Na década de 1960, desenvolveu uma metodologia de alfabetização popular que ficou conhecida como Método Paulo Freire. Com ela, seu grupo de trabalho alfabetizou em 45 dias 300 cortadores de cana de Angicos, pequeno município no Rio Grande do Norte.

A experiência fez com que o governo brasileiro, então sob o comando de João Goulart, lançasse o Plano Nacional de Alfabetização, prevendo a formação em massa de educadores. Meses mais tarde, porém, o Golpe Militar pôs um fim ao plano e levou o educador ao exílio.

Enquanto reprimido no Brasil – sua teoria sobre educação e valores  é ponto de controvérsia até hoje – o educador tornou-se referência internacional, influenciando metodologias educacionais em países tão distintos como os Estados Unidos e Kosovo.

A constatação de sua influência em pesquisas internacionais vem em um momento em que o Brasil, país de origem do pedagogo, vive um extensodebate sobre o que deve ser ensinado às crianças do país e como, com o processo de  construção da Base Nacional Comum – um currículo unificado prevendo os conhecimentos essenciais que todos os estudantes, da creche ao ensino médio, devem ter acesso. A ideia é que o documento sirva de referência  para professores e aproxime famílias da educação dos filhos.

A pesquisa de Elliott Green#

Green fez o levantamento baseando-se em um estudo semelhante da revista “Nature”, realizado em 2014. A revista listou as 100 publicações mais citadas em todas as áreas, porém as ciências naturais dominavam a tabela – apenas uma, no “top 10”, era de humanidades.

Na lista de Green, são 20 mil as citações enumeradas, subdivididas em livros e revistas acadêmicas, devido ao fato, segundo ele, de que algumas disciplinas tendem a publicar mais em um ou em outro formato.

Green selecionou apenas as citações feitas a edições publicadas em inglês de obras originalmente publicadas em inglês, e selecionou tanto a edição inglês e na língua original para obras publicadas originalmente em outras línguas. A exceção foi justamente “Pedagogia do Oprimido” que, curiosamente, tem sua edição em espanhol mais citada do que seu original em português.

Algumas questões chamaram a atenção do professor no resultado final. Como, por exemplo, o fato de que nenhuma disciplina aparece em número maior entre as 20 primeiras obras da lista. No entanto, livros de economia tendem a aparecer mais que obras de outras áreas, seguidos por sociologia e psicologia.

Outra curiosidade é que a frequência das publicações considerando as datas formam um gráfico em U, estando a maior parte delas concentrada na década de 1960 ou de 1990.

Apenas na 19ª posição aparece uma obra cuja autora é uma mulher “Stress, Appraisal and Coping” (Estresse, estima e convivência, em tradução livre), de Susan Folkman em coautoria com Richard Lazarus. “Problemas de Gênero: Feminismo e Subversão da Identidade”, de Judith Butler, é a segunda, em 27º.

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