Encontrei com a Morte outro dia. Estava seguindo apressado e ela veio cheia de frases prontas para tudo. Profecias sublinhadas de livros de bancas. Filosofias de telejornais e comerciais de TV. Eu com uma revista Cult em baixo do braço. Chato. Mas tentei fazer sentido a toda aquela frivolidade.
Desci do pedestal e a olhei na cara, com suas rugas e idade evidente. Conversamos sobre nossa futura relação e os medos até achar um pano comum. Paramos. E de repente ficou claro; o futuro é tão real para coisas estáticas, quanto a morte é para àquelas que simplesmente seguem. Uma anomalia de nosso raciocínio temporal. E se o tempo é no mínimo um agora adelgaçado e a eternidade é no máximo um agora sincero, não há progressão nem encadeamento.
O que há são fagulhas esparsas de vida. Nada nascerá onde não se configuram instantaneidades, e nada morrerá se vivenciarmos toda a centelha de experiências humanas sinceramente. Sem profecias, sem recalque parnasiano, sem medo de ser kitsch. Sem medo de parar para conversar com a morte sobre futilidades e poder acreditar que ela está certa. Sem medo de sempre retornar a ela e entender que talvez esteja mais viva que qualquer um de nós.