Pedro Amorim fala sobre seu amigo Carlos Cachaça, ídolo dele  e nosso

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Foi num dia 3 de agosto que nasceu Carlos Moreira de Castro. Em 1902. Carlos Cachaça, o grande poeta de Mangueira, foi um homem exemplar. Tive o privilégio de ser seu amigo, frequentei muito sua casa na Mangueira, e depois no Engenho da Rainha, pra onde ele se mudou quando foi ficando muito complicado morar no morro.

Vivi muitas histórias ali. No seu aniversário eu estava sempre lá, invariavelmente fazíamos uma roda de samba, com pouca gente mas muito carinho, respeito e consideração por este mestre. E muita alegria, ele se divertia, ria muito, algumas vezes ouvi ele falar que “a vida é muito boa”; e ele aproveitou a vida.




Eu morava no Grajaú, e frequentemente ia pra lá, de bicicleta ou mesmo a pé, e quando eu chegava ele já tinha lido os jornais, comentávamos os fatos do dia, e ouvi muitas histórias sobre o morro: “Aqui não tinha samba. Tinha jongo, candomblé, folia de reis. O samba não veio do morro: ele subiu o morro, vindo do Estácio. Nós íamos lá, e eles vinham aqui visitar a gente, em embaixada”.

Carlos Cachaça, testemunha ocular da história.

Nas festas do seu aniversário era certo eu me encontrar lá com Monarco da Portela, Marília Trindade.Se bem me lembro, Marilia era encarregada do bolo. Monarco, aquele bom papo, um conhecimento gigantesco de música brasileira.

Lembrando agora de uma vez em que estive lá – não era dia de aniversário – e ouvi uma história de que Carlos havia construído aquela casa, com as próprias mãos, desde as fundações até o acabamento. Aparecendo uma oportunidade, perguntei a ele se era verdadeira essa história. Resposta dele, com aquele sorriso e o olhar moleque:

” – Não, não é verdade. Eu não coloquei os ladrilhos. Não gosto de serviço de ladrilheiro.”

Ele começou a ter problemas de audição, uma surdez leve, e experimentou um aparelho, muito discreto, quase não se percebia. Só que o diabo do aparelho desregulou, e fazia uns barulhos que o incomodavam mais do que a surdez – que afinal nem era grave, eu conversava com ele pausadamente, explicando bem as sílabas, e nem precisava altear a voz.

Bom, chamou-se o técnico, que foi lá e resolveu o problema, ele então voltou a usar o aparelhinho, agora com a audição perfeita.

Tinha um amigo, frequentador da casa, que era um cara legal, mas, digamos, um pouco chato. Estava eu conversando com o Carlos, distraidamente, quando chega o citado indivíduo, e já vem lá de fora falando umas gracinhas. Carlos interrompeu a conversa comigo, ficou com o rosto sério, e quando o camarada entrou, ele lascou: – ” Ih, fulano, meu aparelho pifou, nem adianta falar comigo que eu não tô ouvindo nada!”

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