Pelas ruas de São Paulo

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Por Renato Flor, jornalista e repórter fotográfico –

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Essa semana, depois de um rolê a pé pelo bairro, descobri coisas interessantes pelo caminho. Sabe aquela necessidade de inicio de ano em por as coisas em ordem? Pois é, comecei pelo carro. Deixei-o numa oficina mecânica na Mooca, para revisão e resolvi voltar a pé pra casa.




passarela 3Fiquei sabendo que próximo dali, junto ao Museu da Imigração, havia uma passarela do final do século 19, importada da Inglaterra e instalada quando sequer a rua Visconde de Parnaíba era dividida em duas. Naquela época, onde hoje fica a estação Roosevelt/Brás da CPTM, havia uma porteira que controlava o tráfego de veículos e bondes entre os dois lados da ferrovia. Hoje a tal rua é dividida por ela.

Não foi fácil encontrar. A passarela fica entre a parede do fundo do Museu e a cerca da estrada de ferro. Escondidinha, bem a esquerda. Apesar do valor histórico está completamente abandonada, toda enferrujada, remendada e esburacada, mas nem por isso deixa de ser um espetáculo.

É construída em ferro, com o guarda corpos em treliça, também de ferro, que dá a ela um visual retrô capaz de nos transportar no tempo ao cruzarmos sobre ela. Os degraus são trabalhados. Não é apenas uma chapa de ferro, foi construído em relevo, provavelmente para garantir a aderência. Não sei por que ao passar sobre eles me lembrei do apoio de pé das antigas cadeiras de barbeiro.

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Pena que está abandonado. Mas dá pra entender. Não é apenas o poder público que lhe deu as costas, nós também. A região transformou-se em uma área de pouca circulação. Apesar da faculdade Anhembi Morumbi, estacionamentos, Museu, Templos religiosos, Albergues e algum comércio local poucas pessoas circulam por lá. Da mesma forma, o lado norte da estrada de ferro é tomado por grandes galpões de empresas ligadas a manutenção de máquinas operatrizes, além da Rua Piratininga com suas lojas de ferramentas e máquinas usadas. Há pouco movimento no local, quando passei havia apenas alguns desocupados que usavam o lugar para fumar um cigarrinho e aliviar a mente.passarela 10

Meio perdido segui o caminho orientado por minha bússola interior. Sabia o sentido que deveria seguir, mas não por qual rua, porém tinha como referencia a linha do trem que acabará de cruzar. O problema é que esse ramal segue até a estação Roosevelt, no Brás, onde há um entroncamento de linhas e uma nova passarela.

Novamente me vi limitado pela estrada de ferro e salvo por uma passarela. Essa, das modernas, segue paralela ao viaduto do Largo da Concórdia, sobre a linha do trem que vai sentido Lapa. Devido a proximidade da estação ferroviária e o comércio popular, o movimento ali é grande, muitos que usam o trem ou mesmo metrô cruzam por ela. Essa passarela é quase uma extensão da rua. Já do lado oposto, sob o viaduto, uma feira de camelôs vende todo tipo de bugigangas e artigos falsificados. Uma passagem estreita da acesso a entrada da estação.

passarela viaduto 1Mais uma surpresa. O prédio que abriga a estação é majestoso e bem cuidado. Impossível não entrar. Muvuca geral, apesar de cedo, o volume de circulação é grande, muita gente saindo, entrando, olhando, descansando, apreciando o céu ou comprando algo de um camelô. O espaço comporta tudo isso, são cerca de seis portas grandes que desvendam um enorme salão. Ao fundo as plataformas, guardadas por uma bateria de catracas. O pé direito é altíssimo e, claro, usaram para pendurar um banner de publicidade. Havia uma delimitação de espaço, na área mais a esquerda onde fica a bilheteria, creio que a colocam para organizar a fila de entrada na hora do rush, a coisa deve ferver.

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Já ciente de onde estava e senhor do caminho, continuei meu safári urbano. O lado oposto da estação é onde fica o comércio de roupas popular do Brás. Onde eu estava as ruas são tomadas por lojas de produtos do nordeste, como chapéus de couro, camarão seco, favas e cachaça. Os estabelecimentos usam toda área possível, alguns avançam sobre a calçada tornado o local como um grande mercado. Engraçado que todos vendem a mesma coisa.

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Um pouco a frente a paisagem muda e começam a surgir empresas de viagens. Isso mesmo. Tudo muito simples; são pequenas portas decoradas com cartazes anunciando viagens para o nordeste. Era possível avistar alguns ônibus, em péssimo estado de conservação, sendo carregados ou recebendo algum cuidado, mas o estado geral deles era muito ruim. Por ali também pequenos hotéis baratos, onde se hospedam sacoleiros que vêm à região buscar mercadoria para revender em suas cidades.

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Abrigo Lar Nazaré, na Rua Brigadeiro Machado

O lugar lembra uma rodoviária, cada loja é como se fosse uma plataforma de embarque. O comércio gira em torno dos viajantes, tem tudo que se precisa para uma longa jornada, de loja especializada em malas até guarda volumes. Me espantou o elevado número de salões de beleza que existe por ali. São bem simples, alguns até sujos. Provavelmente destinados a nordestinos que vieram tentar a vida em São Paulo e não alcançaram o seus objetivos, mas para manter a alta estima voltam para suas terras com a aparência em dia.

Estava caminhando há algum tempo e me envolvido com a paisagem urbana. Não havia percebido que o tempo havia mudado e em breve começaria a chover. Estava longe de casa e tive de apertar o passo e deixar o resto desse safári urbano para depois.

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