Um recado de Chico Whitaker –
Assisti ontem à noite o longo programa da Globo News comentando a pesquisa eleitoral do Data Folha divulgada também ontem. Não tive paciência para assisti-lo até o fim, mas o que vi já me deixou estarrecido e preocupado. Não pelos resultados da pesquisa, dando ampla vantagem a Bolsonaro, porque imaginava que hoje mesmo outras pesquisas relativizariam esses resultados – como realmente já aconteceu, com a pesquisa da Vox Populi. O que me deixou estarrecido e preocupado foram as calmas e posadas interpretações dadas pelos jornalistas presentes – o famoso “time” da Globo News – após as explicações técnicas do responsável pela pesquisa.
Era como se, ao lado da sala em que estavam, o fogo estivesse crepitando e eles nem o ouvissem nem vissem a fumaça escapando pela porta. Davam de barato que a eleição estava resolvida, certamente imaginando que poderiam dessa forma desanimar milhões de ouvintes que ainda não aceitaram Bolsonaro, levando-os a jogar a toalha e desistir de “virar o jogo” nesta última semana. Não diziam nem uma palavra – num belo exemplo de mau jornalismo – sobre a descoberta da milionária caixa 2 de Bolsonaro para disparar milhões de mensagens visando continuar a espalhar mentiras para induzir a parcela da população, que caiu na armadilha do antipetismo, a votar no capitão reformado.
Candidamente diziam que Bolsonaro e seus apoiadores foram mais rápidos e tiveram maior habilidade que Haddad para usar esse instrumento moderno de comunicação que são as redes sociais. E ingenuamente procuravam interpretar, como se estivessem num seminário acadêmico, porque a maioria dos eleitores, segundo a pesquisa, prefere Bolsonaro ao mesmo tempo em que 75% o consideram o mais autoritario e 55% o que mais defende os ricos. Pareciam nunca ter sido informados que, por detrás do uso que Bolsonaro está fazendo da tecnologia das mensagens mentirosas e dirigidas, estão especialistas internacionais regiamente pagos, que já mostraram sua eficácia em eleições como a de Trump nos Estados Undios ou a do Brexit na Inglaterra. É inacreditável que não o saibam – no mundo inteiro se fala disso, com muita preocupação com o futuro das democracias. Não caberia pelo menos dar alguma informação sobre o Caixa 2 de Bolsonaro e conjecturar sobre o efeito explosivo desse “fato novo”, que pode vir até a embaralhar totalmente o processo eleitoral em curso?
Como esse “time” é formado por pessoas que se supõe serem inteligentes e bem informadas, só se pode concluir que estavam obedecendo ordens. De quem? Do General de pijama designado para “assessorar” o Presidente do STF? Do General Etchegoyen, que assinou há pouco com Temer um estranho decreto que se assemelha ao AI-5? Do General Mourão, que se tornaria Presidente se Bolsonaro fosse eleito mas sofresse mais do que se deseja e se espera na operação já marcada para janeiro de 2019?
Há generais demais nessas conjecturas. Agreguemos uma envolvendo um civil: estariam esses jornalistas recebendo ordens de João Roberto Marinho, dono da Globo, de quem o mínimo que se espera é que tenha percebido, entre as “operações” que se escondem detrás da eventual eleição de Bolsonaro, a comandada por Edir Macedo para a Record desbancar a Globo no domínio da TV brasileira?
Se estas reflexões chegarem até Haddad, atrevo-me a uma sugestão: que ele constitua desde já, na semana que vem, um Conselho de Crise, constituído por personalidades nacionais que gozem do respeito de muita gente para assessorá-lo, eleito ou não eleito, a partir de já, na batalha jurídica e politica que está começando a se armar em torno do “caixa2noticiasfalsas” de Bolsonaro. Entre estes conselheiros porque não também Fernando Henrique Cardoso, cuja neutralidade, num momento tão decisivo para o país, causa estranheza até entre os intelectuais seus pares, aqui e no mundo inteiro?
É possível que essa batalha leve agora à cassação do registro do candidato ou, depois das eleições, à sua não diplomação e até à negação de sua posse. E na pior das hipóteses, à necessidade de se construir uma Frente Ampla de Oposição a um Governo Civil ou – por que não? – a um regime militar, como aliás metade dos brasileiros já consideram que há chance de acontecer, segundo pesquisas divulgadas hoje mesmo, pela mesma Data Folha. Na hipótese mais favorável para o Brasil, que será a eleição de Haddad, um Conselho como esse permitiria que o novo Presidente contasse com o grande apoio social de que terá necessidade, consideradas as condições em que o país lhe será confiado.
Com meus 86 anos já não tenho tanto tempo à frente para ver qual será o futuro do Brasil. Mas penso nos meus filhos e netos, assim como nos jovens pobres, negros, indígenas, quilombolas, homossexuais, portadores de deficiências, ativistas de esquerda, que podem ser vitimados pela logica de guerra estimulada por Bolsonaro, apoiada em armas e na violência. E peço a todos, dos jovens aos idosos como eu, que estejamos 24 horas por dia, desta semana em que entramos, atentos a aproveitar toda e qualquer possibilidade de, pacientemente, procurar convencer, a mudar o voto, bolsonaristas que foram enganados com as mentiras espalhadas. E estimular apoiadores de Haddad a se engajarem incansavelmente nesse trabalho cívico.
Quem ouviu, pelo radio ou pela Internet, uma entrevista de Bolsonaro com alguns jornalistas, há alguns dias, deve ter ficado impressionado, como eu, com as vezes em que ele disse essa frase, antes de responder a cada uma das perguntas que lhe faziam. Mas nós é que devemos repeti-la – “pelo amor de Deus, Ele não!” – diante do desastre que pode acontecer no Brasil no domingo 28!