Perigo. O que propaganda do Fantástico da caneta emagrecedora não lhe falou do Ozempic

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Reportagem travestida de jornalismo pode mandar a pessoa à UTI

Por Antonio Mello, compartilhado da Fórum




Créditos: Imagem retirada do vídeo

Seguindo exemplo da Folha, que até recentemente fazia propaganda da gestão do prefeito de São Paulo Ricardo Nunes sem informar aos leitores que aquilo era informe publicitário e não jornalismo, o Fantástico da Rede Globo fez propaganda descarada da caneta emagrecedora Ozempic fingindo ser reportagem sobre obesidade e emagrecimento.

Logo no título no Globoplay a matéria já diz ao que veio: “Medicamento usado em tratamento da obesidade cai nas graças de quem quer entrar em forma rápido“. Detalhe: ele é usado, mas não é essa sua indicação, segundo o laboratório que o fabrica (veja mais à frente).

Na cabeça da matéria, o texto exalta as “qualidades” do medicamento, o que vai atravessar toda a reportagem.https://d-10378695882718519532.ampproject.net/2401191523000/frame.html

No ano passado, a revista Science, que é uma das mais respeitadas do mundo, considerou um medicamento usado para tratar obesidade uma das grandes revelações recentes da ciência, ele também passou a ser usado por pessoas que querem apenas perder uns quilos e aqui no Brasil se tornou o remédio que mais movimentou dinheiro nas farmácias. Mas, afinal, por que essa canetinha é tão cobiçada e virou febre nas redes sociais?

A propaganda travestida de reportagem segue falando maravilhas da caneta emagrecedora, porque ela oferece àquela pessoa que está acima do peso a solução mágica de como perder peso sem fazer força. 

Pelo que é apresentado na propaganda travestida de jornalismo do Fantástico, após fazer uso da caneta emagrecedora a pessoa perde peso porque perde a vontade de comer. Um pedacinho de chocolate, um copinho de chope, e a pessoa não quer mais nada… 

Chegam a apresentar como índice de sucesso nas redes, uma mulher que teve 142 curtidas num post do Instagram…

Agora, o que a propaganda travestida de reportagem não lhe falou do Ozempic, mas consta da bula do medicamento:

  • Não deve ser usado por menores de 18 anos, porque não foram feitos estudos com esse grupo
  • Não deve ser usado por grávidas; mulheres em processo de aleitamento devem consultar seus médicos
  • 1 em cada 100 usuários pode ter pancreatite aguda, uma doença grave e dolorosa
  • Na Anvisa, o medicamento é indicado apenas para o tratamento de diabetes tipo 2, não obesidade

Mais grave: Reportagem da BBC, de 25 de janeiro (15 dias antes da propaganda do Fantástico) denunciava os perigos do Ozempic para quem o utiliza sem acompanhamento médico e para finalidade não aprovada pela Anvisa e pelo fabricante.

Foi pensando em emagrecer que a maquiadora Larissa, de 28 anos, começou a usar por conta própria, no início do ano passado, o Ozempic, um medicamento em forma de canetinha com agulha na ponta.

Os resultados que ela queria apareceram nos três primeiros meses: ela conta ter perdido 8 kg e diminuído a numeração de suas roupas. Mas, quando a maquiadora decidiu parar de tomar o medicamento, uma vez que já tinha atingido seu objetivo, vieram as surpresas desagradáveis.

“Em quatro meses, engordei 15 kg e passei a ter compulsão alimentar, coisa que eu não tinha antes de usar o Ozempic”, conta.

A vendedora Marina, de 32 anos, passou por uma situação bem parecida.

Ela decidiu usar a medicação após ver vídeos na internet falando sobre seus benefícios.

Mesmo sem receita médica, ela não teve dificuldades em adquirir o remédio em uma farmácia na cidade de São Paulo.

Nas primeiras semanas de uso, ela conta que emagreceu 5 kg — mas ganhou tudo de volta quando interrompeu, também sem acompanhamento médico, o uso do remédio.

“Um mês depois de ter engordado o que eu havia emagrecido, decidi comprar mais uma caneta e voltar a usar o Ozempic”, conta.

“Porém, já faz um mês que estou usando e não sinto mais efeito nenhum, não emagreci nada.”

A reportagem da BBC reproduz informação do laboratório Novo Nordisk, que produz Ozempic:

“Ozempic, aprovado e comercializado no Brasil para o tratamento do diabetes tipo 2, não possui indicação aprovada pelas agências regulatórias nacionais e internacionais para o tratamento de obesidade.”

Se fosse reportagem, e não propaganda, poderia dar uma olhada também numa matéria do G1 (do grupo Globo) com o sugestivo título: “A publicitária que foi para a UTI após usar Ozempic sem orientação médica“.

Portanto, cuidado, se a propaganda do Fantástico despertou sua vontade de consumir o medicamento, consulte seu médico. Ou além de perder o dinheiro, que não é pouco (em torno de R$ 1000 cada caneta), você pode perder a saúde e, ao contrário do que espera, ganhar muitos quilos a mais.

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