Perseguição, espionagem, ameaças e medo na General Motors durante a ditadura

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Durante ditadura, General Motors permitiu prisão dentro da fábrica, fez ´lista suja´ e mobilizou sociedade para classificar grevistas como bandidos

Por EDUARDO REINA e MARIA ANGÉLICA FERRASOLI, compartilhado de Ópera Mundi




Havia passado 15 dias da comemoração do oitavo aniversário do golpe militar de 1964. Naquela manhã de sexta-feira, 14 de abril de 1972, Martinho Leal Campos trabalhava num dos escritórios da fábrica da General Motors na cidade de São Caetano do Sul, região do ABC paulista. Contratado desde outubro de 1970, era redator de publicações técnicas para traduzir ao português os manuais dos veículos que começavam a ser fabricados no Brasil. O relógio andava depressa e o esforço estava concentrado na elaboração do texto do manual do Chevette, que seria lançado dentro de um ano, em 24 de abril de 1973.

Por volta das 11 horas, um grupo de pessoas estranhas ao escritório entrou no local e começou a andar por entre as mesas. Eram policiais à paisana: procuravam por uma pessoa. “Estavam à minha procura. O gerente do departamento conversava com eles, querendo ganhar tempo. Eu tentei sair. Aí ocorreu um caso quase cinematográfico. Uma moça que voltava de férias, enquanto eu ia saindo, gritou meu nome para me cumprimentar. Eu já estava na beira da escada. Os agentes viram e foram pra cima de mim”, relembra hoje Martinho, aos 81 anos, vivendo em seu estado natal, Paraíba. Ele era filiado ao PORT (Partido Operário Revolucionário Trotskista) e já havia sido condenado antes por subversão, em 1964, pela Justiça Militar de Pernambuco.

Martinho foi dominado. “Não consegui ter nenhum tipo de reação. Me seguraram, algemaram e começaram a bater. Me bateram ainda dentro da empresa. Fui colocado em uma viatura, uma perua Veraneio [fabricada pela própria GM], onde continuei a apanhar”, conta. Ele foi levado para o DOI-CODI (Destacamento de Operações de Informação – Centro de Operações de Defesa Interna), na cidade de São Paulo. “No DOI-CODI, o primeiro a me bater foi o Brilhante Ustra. Nas muitas sessões de tortura que passei, o Ustra me quebrou os dentes”, afirma.

Além de Martinho, outros trabalhadores também foram perseguidos e torturados, perderam emprego e passaram por maus momentos devido à cooperação ativa da GM com o regime de exceção. Principalmente no que refere à repressão aos críticos do regime.

É o caso de Sebastião Penha Filho, ex-operário da unidade São José dos Campos da montadora, que pensou em cometer suicídio devido à forte pressão psicológica sofrida na demissão e à inclusão de seu nome, entre muitos outros, na chamada “lista suja”, uma relação com os funcionários demitidos que tiveram participação em movimentos de trabalhadores e sindicalistas durante greves. Com o nome nesta lista, os trabalhadores não conseguiam recolocação profissional.

E há ainda o desaparecimento de Assis Henrique de Oliveira, na unidade de São Caetano do Sul. Ele foi demitido em 1985, após participar de uma greve. Três anos depois, sumiu, sendo procurado pela família até hoje. Ao ser demitido, entrou num processo autodestrutivo, dizia viver em medo constante e temer pela segurança da filha e da esposa. Pode ter se envolvido com a direção da empresa e agentes da repressão, numa história que vamos contar mais adiante. A situação de Assis foi desvelada pela reportagem, mas permanece inconclusiva.

Militar na segurança

O setor de segurança da fábrica de São Caetano do Sul era chefiado pelo coronel aposentado da Força Aérea Brasileira Evaldo Herbert Sirin. Em 16 de janeiro de 1961, o militar foi agraciado com a medalha do mérito Santos Dumont, da Aeronáutica.

Sirin era um dos representantes da GM nas reuniões do Centro Comunitário de Segurança no Vale do Paraíba (Cecose-VP), uma organização integrada pelos chefes de segurança de indústrias e empresas da capital, região metropolitana de São Paulo, interior, litoral e região do Vale do Paraíba, além de agentes de informação de diversos órgãos como Exército, Marinha, Aeronáutica, Polícia Federal e estadual, de acordo com relatório do Serviço de Informações da Aeronáutica (CISA). O Cecose atuou nas décadas de 1970 e 1980 com o objetivo de trocar informações sobre as lideranças e ativistas sindicais e monitorar os movimentos dos trabalhadores. 

Quem é Martinho?

A prisão de Martinho Leal Campos dentro das dependências da General Motors do Brasil no dia 14 de abril de 1972 demonstra a cooperação existente entre a empresa e os órgãos de repressão na ditadura. Reproduz situação já comprovada dentro da Volkswagen do Brasil na mesma época, com perseguição, tortura e prisão de trabalhadores. Ocorreu no período de maior repressão no país, com a caça e desmantelamento de partidos e organizações opositoras ao regime militar e defensores da democracia.

Fotos tiradas do trabalhador da General Motors Martinho Leal Campos após sua prisão na fábrica da empresa

O registro da prisão no DOI-CODI de Martinho foi elaborado quatro dias depois de sua detenção dentro da fábrica da GM. Informa que o motivo da prisão foi “subversão”. O documento, assim como os registros de depoimento e autos de apreensão de objetos de Martinho foi escrito por um conhecido árbitro de futebol, Dulcídio Wanderley Boschilia.

Na época, Boschilia era sargento da Polícia Militar e fora colocado à disposição do DOI-CODI especificamente para acompanhar o caso Martinho. Foi apresentado no dia 19 de abril ao delegado Renato D’Andrea do DOPS, a polícia política da ditadura.

O mandado de prisão de Martinho foi expedido em 15 de agosto pelo juiz José Paulo Paiva, da 1ª Auditoria Militar da 2ª Circunscrição Judiciária Militar (CJM). A justificativa para a prisão é que Martinho era um “subversivo”, pertencente à organização “subversivo-terrorista” PORT (Partido Operário Revolucionário Trotskista).

A ficha no DOI-CODI apresenta dados e sinais particulares de Martinho, como barba e bigode raspados. Mas chama a atenção a anotação de que usava óculos por sofrer de astigmatismo, uma informação contida em registros médicos particulares ou trabalhistas.

Outra informação importante anotada na ficha é o local de prisão de Martinho Leal Campos: “no local de trabalho”.

Ficha de prisão do trabalhador da GM Martinho Leal Campos detalhe o local da prisão: “no local de trabalho”

Paraibano de João Pessoa, Martinho sempre esteve ligado a partidos de esquerda. Ficou preso na capital do Estado e também em Pernambuco de 1964 a 1966. Sua prisão ocorreu quando estava com exemplares do jornal Frente Operária.

Uma matéria publicada no jornal O Globo em 6 de novembro de 1964 narra a prisão de Martinho e outras pessoas ligadas ao PORT. Mostra a versão dos militares para o episódio: “Os comunistas presos confessaram que queriam iniciar no Nordeste um extenso plano de destruição”, diz o título. 

Na abertura do texto está escrito que “graças à ação vigilante das autoridades policiais e militares, não se consumou, no Nordeste, o plano terrorista que seria posto em execução pelos integrantes do Comitê Regional do Nordeste, do Partido Operário Revolucionário (trotskista), Seção Brasileira da IV Internacional, que, seria o estopim para o início da baderna e da subversão. Agindo com rapidez, as autoridades conseguiram prender, como já informamos, os dirigentes do POR (sic), obstando, assim, o plano sangrento.”

Em documentação da Comissão Nacional de Anistia do Ministério da Justiça há uma certidão da ABIN (Agência Brasileira de Inteligência) com os registros de Martinho no órgão. São anotações elaboradas pelo então Serviço Nacional de Informações (SNI) e pelo DOPS. De acordo com o material do SNI, o paraibano redigia e distribuía boletins, jornais e manifestos considerados subversivos, voltados aos movimentos estudantil e operário.

Ficha de Martinho feita pelo SNI e DOPS detalham atuação política do trabalhador desde 1963, um ano antes do golpe

Ele ficou preso no Nordeste de 1964 até o início de 1966, quando foi solto. Por decisão da cúpula do PORT, Martinho viajou para São Paulo e em agosto de 1966 a Auditoria Militar em Pernambuco o condenou a oito anos de detenção, com perda dos direitos políticos por dez anos.

Na capital paulista passou a viver na semiclandestinidade com a esposa Maria do Socorro Cunha Campos, que também havia sido presa em João Pessoa. Socorro conseguiu transferência da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) para o curso de Letras da Universidade de São Paulo (USP).

Inicialmente, Martinho trabalhou no comércio, mas depois obteve emprego em firmas do ramo metalúrgico. Fez curso de torneiro mecânico no Senai, foi torneiro de têmpera. Por um tempo exerceu a função de operador de máquinas na fábrica da Bombril, em São Bernardo do Campo, onde formou um comitê de fábrica e organizou uma paralisação na empresa.

Atuou no PORT na região do ABC paulista, junto a operários históricos ligados ao movimento sindical, como Olavo Hansen (assassinado no DOPS em 1970), Sidney Fix Marques dos Santos (sequestrado e morto pela repressão na Argentina em 1976) e Rui Oswaldo Aguiar Pfützenreuter (assassinado pela ditadura em São Paulo em 1972).

As torturas 

Depois da prisão dentro da GM, Martinho foi levado para o DOI-CODI em São Paulo. “Assim que chegamos fui chamado de terrorista e xingado com palavrões. Algemado, me transferiram para uma sala com uma cadeira no meio”, conta.

Foi agredido com tapas no rosto, socos e “telefones” nas orelhas pelo major Carlos Alberto Brilhante Ustra, comandante do DOI-CODI. Queriam que ele revelasse seu nome de guerra usado no partido. A ficha policial mostra que era conhecido como Samuel. 

Depois foi levado para outra dependência no aparelho de torturas, onde estavam vários presos, entre eles a esposa, Socorro, além de Barnabé Medeiros Filho, Almério Melquíades, Antônio Cláudio Gomes, Heriberto Back e outros.

A tortura consistia em sessões de espancamentos, que chegaram a fazê-lo desmaiar. “Fui reanimado e colocado na cadeira do dragão, onde passei a receber choques elétricos nos testículos, língua, ânus e várias partes do corpo. Depois foram buscar a Socorro e ameaçaram dar choques nela também”, explica.

Na sequência foi arrastado para outra sala, onde quatro torturadores já o aguardavam. Desses homens, rememora hoje Martinho com veemência, estava Aderval Monteiro, o “Carioca”, que de acordo com trabalhadores no ABC e na GM também atuava dentro de várias fábricas na região. 

Foi torturado por um agente chamado Lourival Gaeta, codinome Mangabeira, pelo agente Roberto, o “Padre”, identificado posteriormente como sargento da Aeronáutica e integrante da equipe B de interrogatório no DOI-CODI. Passou ainda pelas mãos de Edizio Lima Maciel, o “Zé Bonitinho” ou “Oberdan”.

Mas o que ele considerou mais violento durante as sessões de tortura foi o homem identificado como JC. O torturador JC, ou Jesus Cristo, apelido dado por causa do cabelo comprido e crucifixo que usava numa corrente pendurada no peito, era Dirceu Gravina, delegado da Polícia Civil. Costumava entrar nas celas e falar “eu sou Deus. Eu sou Jesus Cristo. Tenho o poder da vida e da morte”.

JC, diz Martinho, estava disposto a matá-lo. “Numa sessão de tortura me bateu tanto, de forma sádica, que cheguei a desmaiar. Continuou o espancamento até que outros torturadores entraram na sala e interromperam a sessão de terror, conforme me contou depois um carcereiro do DOI-CODI de nome Marechal [da equipe C do Destacamento desde 1969]”. 

Gravina morreu no interior de São Paulo no último dia 2 de agosto, aos 74 anos de idade. Em 18 de janeiro de 2023 havia sido condenado a pagar indenização de R$ 1 milhão, a título de dano moral coletivo devido à sua participação em sessões de tortura e mortes de presos políticos na ditadura. A sentença foi dada pela juíza Diana Brunstein, da 7ª Vara Cível Federal de São Paulo, que acolheu pedido do Ministério Público Federal (MPF). O Agente “Carioca” não foi localizado.

“Lembro que fomos torturados pelo JC, que era um sádico, com seus cabelos compridos e disposição de bater muito na gente. Lembro que ele pegou a maquininha [de choque] e disse ‘esse cara não escapa’”, conta hoje o jornalista Barnabé Medeiros Filho, que esteve preso com Martinho no DOI-CODI, depois no DOPS, no presídio Tiradentes e no Pavilhão 5 do Carandiru, em São Paulo. Medeiros integrava a célula paulistana do PORT.

Martinho permaneceu preso no DOI-CODI por cerca de 30 dias. Em agosto de 1973 foi condenado a dois anos e meio de prisão pela Auditoria Militar de São Paulo. No fim desse mesmo ano recebeu liberdade condicional, depois que o Superior Tribunal Militar (STM) revogou os oito anos de condenação no processo de Pernambuco.

Em 1975, quando saiu da prisão no mês de janeiro por meio de liberdade condicional, ele e Socorro retornaram a João Pessoa. Ele voltou à universidade para concluir o curso de Economia, iniciado em 1964. Hoje, aposentado, segue vivendo em João Pessoa, onde cuida da esposa enferma.

Pedro Marin / OperaMundi
Portão principal da fábrica da General Motors em São Caetano do Sul

Cumplicidade

 A prisão de Martinho Leal Campos é um dos casos que revelam a cumplicidade e responsabilidade da General Motors do Brasil na criminalização de lideranças sindicais e ativistas e a colaboração clandestina com a polícia política para reprimir o movimento de oposição ao regime militar e proteger os interesses da empresa.

São fatos semelhantes aos registrados na fábrica da Volkswagen em São Bernardo do Campo, cidade vizinha a São Caetano, onde houve também perseguição, espionagem, tortura e prisão de trabalhadores dentro das instalações da empresa durante a ditadura. As revelações levaram a Volkswagen do Brasil a assinar, em setembro de 2020, um acordo extrajudicial assumindo sua colaboração e aliança com os militares na fábrica em São Bernardo do Campo. Foi gerada uma indenização de R$ 36,3 milhões aos ex-funcionários presos, perseguidos, espionados e torturados dentro da empresa.

A General Motors do Brasil se limitou a enviar uma nota negando envolvimento da empresa em ações repressivas e colaborativas ao governo militar durante a ditadura. “A GM é uma companhia que defende a democracia, respeita a legislação nos países onde atua e segue rígidas regras de compliance em todo o mundo. Não há nenhum histórico de que a empresa tenha se envolvido nas atividades relacionadas durante o período da ditadura militar no Brasil. Reiteramos nosso compromisso com os ideais democráticos e refletimos esses valores em todas as nossas operações”, informa a nota da assessoria da montadora.

Mas além do apoio à manutenção do regime militar, a General Motors do Brasil adotou ações de repressão por própria iniciativa. Extrapolou os limites das fábricas, pois além de colaborar com os órgãos de repressão, internamente, seu departamento de segurança patrimonial atuava, em algumas situações, como polícia política interna. Espionava e perseguia trabalhadores que tinham atuação sindical e críticas ao regime militar, confiscava material considerado subversivo e, principalmente, elaborava dossiês sobre os funcionários, enviando dados pessoais dos trabalhadores aos órgãos de repressão. Também participou de organização que reuniu setores de segurança de inúmeras empresas em São Paulo, onde havia troca de informações sobre os operários e as atividades sindicais.

Houve violação de direitos, produção e fornecimento de informações por parte da GM para execução de processos repressivos, prisão dentro da fábrica (sem informar o paradeiro das vítimas), perseguição de lideranças sindicais, repressão a greves, demissões em massa. Os trabalhadores que eram espionados acabavam demitidos e passavam a ter seus nomes incluídos numa lista de pessoas indesejadas, consideradas inimigas do regime. Essas listas eram compartilhadas entre diversas empresas, o que dificultava a recolocação profissional.

A empresa chegou a enviar representantes até as residências dos ativistas com o objetivo de pressionar as famílias, de acordo com depoimento ouvido pela reportagem. Sob a alegação de que poderiam perder o emprego caso não parassem com as manifestações.

Além do engajamento na ditadura, a General Motors também colaborou com os órgãos militares e a polícia política na repressão ao movimento sindical. Forneceu, por exemplo, equipamento de proteção auricular ao estande de tiro existente dentro do Departamento de Ordem Política e Social (DOPS) em São Paulo, conforme atestou o escrivão Manoel Aurélio Lopes, codinome Pinheiro.

A existência do estande de tiro dentro das instalações do DOPS é comprovada por relação de telefones e ramais do órgão ligado à Polícia Civil descoberto pela reportagem. De acordo com essa relação, encontrada ao final de um dos livros de entrada no DOPS, o estande ficava no primeiro andar, com o ramal telefônico de número 72.

Relatório da Comissão da Verdade do Estado de São Paulo registra que o escrivão Manoel Aurélio Lopes, que foi escrivão de polícia no DOPS/SP e no DOI-CODI/SP, relatou “a visita do diretor da General Motors ao DOPS, bem como a doação, por essa mesma empresa, de abafadores de ruído para os instrutores de tiro e a montagem e aparelhamento dos estandes de tiros, para que a empresa Cofre Bernardini teria feito o revestimento de aço”. A informação foi dada em audiência realizada no dia 25 de fevereiro de 2014. O escrivão relatou que os aparelhos de proteção para os ouvidos foram pagos pela GM depois de ele mesmo ter sofrido um acidente no estande de tiros, onde perdeu parte da audição.

Na obra “A participação da indústria paulista na repressão política – o caso Volkswagen”, coordenada por Guaracy Mingardi, e também no relatório final da Comissão Nacional da Verdade (CNV), a General Motors do Brasil, entre várias empresas brasileiras e internacionais, é citada como uma das financiadoras da implantação da Operação Bandeirante (Oban), que antecedeu o DOI-CODI. A Oban foi o primeiro aparato repressor criado pelos militares, que funcionava à margem das estruturas oficiais.

Maior produtividade

 A colaboração da GM brasileira com o governo militar e a repressão dentro da fábrica também revela favorecimento para manter maior produtividade da empresa, conforme registrado num memorando do Consulado Geral dos EUA sobre reunião realizada no dia 29 de novembro de 1976. A pauta desse encontro, de acordo com o documento classificado com “Uso oficial limitado”, é “Relações Trabalhistas da General Motors International; funcionário vê avanço dos sindicatos trabalhistas no Brasil. Mais perto da negociação coletiva”. 

Memorando do Consulado Geral dos EUA com representantes da GM demonstram cumplicidade

Raymond M. de Castro, do setor de relações do trabalho da matriz GM em operações no exterior, segundo a ata da reunião, se mostrou surpreso com a constatação do alto ritmo da produção da fábrica da GM em São Caetano do Sul – a mais rápida que já havia visto entre as outras unidades GM no mundo -, e relacionou isso à baixa moral dos trabalhadores no chão da fábrica.

“Comentando a atitude dos trabalhadores da GM, de Castro disse que em sua caminhada de duas horas e meia pela fábrica da empresa em São Caetano em 22 de novembro, ele foi atingido pelas fileiras quase ininterruptas de desanimadas expressões entre os trabalhadores. Ele observou que a produtividade da empresa era boa, mas perguntou aos supervisores sobre o preço de longo prazo do produto ‘mantendo os seus funcionários mal-humorados’”, diz o texto. Disse ainda que “achou que o ritmo acelerado da linha de montagem da fábrica São Caetano, mais rápido do que em qualquer outra instalação GM de produção que ele tinha visto no mundo, foi um fator importante que contribui para a baixa moral do trabalhador”.

Trecho de memorando do Consulado Geral dos EUA com representantes da GM: linha de montagem de São Caetano era mais rápida que qualquer outra instalação da GM no mundo

No documento, de Castro se mostra favorável à criação de uma comissão de trabalhadores na GM, bem como de “um meio para a empresa avaliar atitudes dos trabalhadores e evitar problemas antes que eles saiam do controle”. Mas Antônio Cursino de Alcântara, gerente de relações do trabalho da GM do Brasil, afirma que prefere aguardar o resultado dessa experiência, as chamadas comissões de fábrica, na Scania. Alcântara é falecido.

Além de Castro e Alcântara também estavam presentes na reunião no consulado dos EUA Salvador Evangelista, gerente assistente de relações do trabalho da GM do Brasil e James F. Mack, diplomata encarregado do setor de relações trabalhistas do escritório político do governo dos EUA.

(*) Eduardo Reina é jornalista, Mestre em Comunicacao Social (2021) e Graduado (1985) pela Universidade Metodista de São Paulo, com passagens pelas redações de O Estado de S. Paulo, Diário de S. Paulo, Diário do Grande ABC, Comércio do Jahu, Diário Popular, Guia 4 Rodas, entre outros veículos. Foi vencedor dos prêmios Abril (1986, 1987), Estado (2010) e Imprensa Sindical (1993) e recebeu menção honrosa no prêmio Excelência Jornalística da Sociedade Interamericana de Imprensa (2010). Autor de Cativeiro sem fim (2019), Depois da Rua Tutoia (2016) e No Gravador (2003); integrante dos livros O Conto Brasileiro Hoje, vol. 5 (2007) e Contos e Casos Populares (1984).

(*) Maria Angélica Ferrasoli é jornalista e escritora. Mestre em Comunicação pela Universidade de São Caetano do Sul, Pós-graduada em História pela Unisanta (IFGE/EAD) e Graduada em Comunicação Social (Jornalismo) pelo Instituto Metodista de Ensino Superior (atual Umesp) em 1985.

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