O engenheiro de software e pesquisador de computação musical Vinícius Fernandes precisou passar por cirurgia após agressão e agora estuda como processar agressor: “Classifico o ataque como tentativa de homicídio”
Por Raphael Sanz, compartilhado da Revista Fórum
Na foto: Pesquisador da USP é espancado por bolsonarista em São Paulo.Créditos: Reprodução/Instagram@viniciustabu
O engenheiro de software e pesquisador de computação musical na USP, Vinícius Fernandes, foi espancado por um bolsonarista na última terça-feira (1), perto das 11h30 da manhã, enquanto andava pelas ruas da Lapa, na zona oeste de São Paulo, e realizava atividades comuns da sua rotina. A vítima não conseguiu identificar o agressor naquele momento, que fugiu, mas alega que desde a última segunda (7) já sabe sua identidade.
“Fui vítima de um ataque bolsonazista (sic) na última terça-feira de manhã enquanto andava na rua e fazia minhas coisas normalmente. Minha voz está ruim e não consigo falar direito por conta de tudo isso. Fui surpreendido por um senhor, no meio da rua, de cerca de 50 e poucos anos e ele fez isso com a minha cara [apontou para o rosto enfaixado. Eu achei que fosse morrer e classifico o ataque como uma tentativa de homicídio”, declarou a vítima em sua página na Instagram.
Procurado pela Revista Fórum, Vinícius explicou que estava voltando pra casa após ida a uma loja onde comprou um chip novo para seu celular. “Diante da escalada vertiginosa da violência bolsonarista, que permanece crescendo, como forma tímida de protesto silencioso, retirei uma bandeirola, dessas de plástico, vendidas por ambulantes, de um carro estacionado, sem ocasionar nenhum dano ao veículo”, contou.
Ao dar mais alguns passos, um senhor o abordou para pedir informações sobre uma rua próxima, que estava procurando para encontrar um caixa eletrônico. Enquanto prestava esclarecimentos a este senhor, um outro carro parou na rua, diferente daquele ao qual foi retirada a bandeirola, e o motorista interrompeu a explicação de Vinícius ao senhor que pedia informações.
“Ele começou a verbalizar ameaças de agressão física e insultos pela retirada da bandeirola do carro, que ele sequer tinha relação pessoal com o dono ou dona. Tentei ignorá-lo e seguir a conversa com o senhor na rua, entretanto o agressor começou a escalar os insultos a ponto de descer do carro e começou a me tocar. Fiquei muito irritado e comecei a pedir para ele não encostar em mim. No entanto, sua resposta foi me empurrar para o meio fio e começou a desferir socos na minha cara, quebrando meu nariz e diversos ossículos da face. Com medo de ser assassinado, comecei a gritar pela polícia, momento no qual o agressor respondeu ‘pode chamar, pode chamar’, dando a entender que não haveria socorro para mim. Após me deixar com lesões corporais graves, levantou de cima do meu corpo e voltou para o carro”, declarou a vítima.
Vinícius disse que tentou fotografá-lo mas que como o celular era novo, não pôde ser rápido o suficiente. “Consegui neste fim de semana uma imagem da chapa do carro do sujeito com ajuda de um comércio local que me auxiliou disponibilizando imagens da câmera de segurança. Ontem no 7° DP, da Lapa, conseguimos achar o nome da mulher do agressor, pois o carro está no nome dela. Trabalho com tecnologia e não foi difícil achar, por meios absolutamente legais, muitas informações sobre ela e família, incluindo seu marido, meu agressor, que consegui identificar. Não falo o nome do sujeito pois ainda não divulguei para ninguém. Primeiro porque estou com muito medo e acuado, e em segundo lugar porque acredito que preciso de orientação jurídica para saber como agir nesse caso”, justificou.
O agressor é descrito como um homem branco, de meia idade, próximo dos 50 anos, com cabeços grisalhos. Ele vestia calça jeans, camiseta polo verde e óculos escuros no momento da agressão. Também dirigia um Hyundai Tucson. A vítima disse que ao fazer uma rápida checagem das redes sociais do agressor, pôde constatar que se trata “inequivocamente de um senhor de extrema-direita, muito ativo na divulgação de fake news e discursos de ódio contra esquerda”.
Após a agressão, no mesmo dia, Vinícius conta que foi registrar um boletim de ocorrência no 7° DP da Lapa e após atendimento na polícia foi até o IML fazer o exame de corpo de delito. Em seguida foi levado por amigos ao hospital São Camilo, na avenida Pompeia, onde ficou internado por alguns dias e passou por cirurgias de reconstrução facial.
A vítima agora conversa com advogados e tenta o apoio de comerciantes locais que possam ceder imagens de segurança. Ele estuda a melhor maneira de reunir informações sobre o caso para processar seu agressor. Em um detalhe, Vinícius afirma que algum sangue proveniente do seu nariz caiu dentro do carro do agressor, o que talvez possa, em sua opinião, facilitar o trabalho da perícia. Nesta terça ele volta a fazer exames e avaliações físicas relacionadas às cirurgias recorrentes da agressão.
Vinícius também avaliou o caso em que foi vítima dentro de um contexto maior de casos de agressões e violência política. “Não foi só comigo e está acontecendo quase todo dia. No geral acho que este caso deflagra a ubiquidade do senso de justiçamento pessoal no pensamento bolsonarista de extrema-direita, muito parecido com o caso da Carla Zambelli”, avaliou.