Pesquisas mostram que crise climática está reduzindo a qualidade da água no mundo

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Aumento das temperaturas das águas e crescimento das algas nos rios vêm provocando uma diminuição geral nas concentrações de oxigênio

Por Agostinho Vieira, compartilhado de Projeto Colabora




Na foto: Mulher lava roupas com água vinda de um buraco cavado por uma nascente em um rio seco na aldeia Ketro de Grobogan, Java Central, Indonésia. Foto Dasri Roszandi/Anadolu Agency via AFP

Pesquisadores de 13 universidades da Europa, da Ásia, da África e do Canadá se reuniram para analisar 965 estudos realizados nos últimos 20 anos, em todos os continentes, sobre os efeitos que as mudanças climáticas e os fenômenos meteorológicos extremos vêm causando nas águas dos rios de todo o planeta. Os resultados, divulgados na revista Nature, no último dia 12 de setembro, mostram que a crise climática tem aumentado, consideravelmente, as temperaturas da água e a quantidade de algas nesses cursos hídricos, o que provocaria uma diminuição geral nas concentrações de oxigênio.

O trabalho, liderado pela Universidade de Utrecht, nos Países Baixos, revelou ainda que os registros mais frequentes de secas e as ondas de calor provocaram um aumento da salinidade e a elevação da concentração de poluentes, como produtos farmacêuticos. Para os pesquisadores, esses resultados são muito preocupantes. Previsões anteriores já apontavam para esse risco, mas agora ficou claro que os fenômenos extremos estão se repetindo no mundo todo:

“A comparação de 965 estudos de caso indica que a qualidade da água dos rios geralmente se deteriora sob secas e ondas de calor (68% dos casos compilados), tempestades e inundações (51%) e sob alterações climáticas de longo prazo (56%). Também são relatadas melhorias ou respostas mistas devido a mecanismos de neutralização, por exemplo, aumento da mobilização de poluentes versus diluição durante cheias”, explica o texto do relatório sobre o impacto da crise climática.

Seca no sertão de Alagoas. Vários pontos de maior redução da superfície da água encontram-se próximos a fronteiras agrícolas. Foto Custódio Coimbra
Seca no sertão de Alagoas: estado tem a maior porcentagem de terra atingida pela desertificação (Foto: Custodio Coimbra)

Um documento do IPCC (Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas), divulgado em agosto de 2021, já alertava que, com a temperatura média da Terra 1°C mais quente na comparação com o início do século XX, as chances de uma de uma seca severa ocorrer seria 1,7 vezes maior. Já se a temperatura média da Terra subir 1,5° C, as estiagens prolongadas tenderiam a dobrar nos próximos dez anos.

Um outro trabalho, desta vez feito pelo MapBiomas, também em 2021, analisou a variação dos recursos hídricos no Brasil entre 1985 e 2020. O resultado mostrou que “o Brasil está secando”, como resumiu Tasso Azevedo, coordenador geral do projeto. Os dados, que estão disponíveis a todos os interessados no site do MapBiomas, indicam uma clara tendência de perda de superfície de água em 8 das 12 regiões hidrográficas, em todos os biomas do país. A superfície coberta por água no Brasil em 2020 era de 16,6 milhões de hectares, uma área equivalente ao estado do Acre ou quase 4 vezes o estado do Rio de Janeiro. Desde 1991, quando chegou a 19,7 milhões de hectares, houve uma redução de 15,7% da superfície de água no país. A perda de 3,1 milhões de hectares em 30 anos equivale a mais de uma vez e meia a superfície de água de toda Região Nordeste em 2020.

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