Fundo árabe que comprou Refinaria Landulpho Alves (atual Mataripe) pela metade do preço promete investir R$ 12 bilhões em tecnologia de diesel verde desenvolvida pela própria Petrobras
Compartilhado de RBA
Andre Valentim/Agência PetrobrasRlam também pode estar envolvida no escândalo das joias milionárias que Bolsonaro tentou se apropriar
São Paulo – No último sábado (15), o governo da Bahia assinou um acordo com a Acelen, empresa do fundo privado Mubadala Capital, para investir R$ 12 bilhões nos próximos 10 anos na refinaria Mataripe. O termo de compromisso, firmado durante visita oficial da comitiva brasileira aos Emirados Árabes Unidos, prevê investimentos na produção de diesel verde na antiga refinaria Landulpho Alves (Rlam), privatizada durante a gestão Bolsonaro.
A Federação Única dos Petroleiros (FUP), no entanto, recebeu com ressalvas a notícia. Isso porque os petroleiros defendem uma negociação com os árabes para a retomada do controle da refinaria baiana.
“Investimentos novos no país são muito importantes. Porém, o anúncio da Acelen é uma intenção de investimentos futuros”, afirmou o coordenador-geral da FUP, Deyvid Bacelar. “No presente, o que estão investindo na refinaria? Qual a estratégia de abastecimento do mercado baiano, e a que preço para o consumidor, diante da concorrência com a Petrobras, que disputará o mercado baiano com preços competitivos, como já disse o presidente da companhia, Jean Paul Prates?”
Em nota, Bacelar disse que Acelen não tem compromisso com o abastecimento nacional. E destaca que o projeto de diesel verde da Rlam foi todo desenvolvido pela Petrobras. “Ele já estava pronto quando Mubadala comprou a refinaria”, afirmou.
Troca de ativos
Assim, para ampliar a capacidade de refino da Petrobras, os petroleiros defendem a “reintrodução” da Rlam aos ativos da estatal. Nesse sentido, propuseram ao governo Lula “negociações diplomáticas” para estabelecer outras parcerias entre a estatal e a Acelen. O objetivo é atrair os investimentos árabes para outros negócios no Brasil, em especial no estado da Bahia. O fundo Mubadala demonstra interesse, por exemplo, em adquirir a Braskem, petroquímica criada em parceria entre a Petrobras e a Novonor (ex-Odebrecht).
“Segundo fontes que acompanham o processo, nessas situações, podem ser estabelecidas trocas ou parcerias entre os dois negócios (Rlam e Braskem), tendo a Petrobrás, contudo, o controle operacional, acionário desses ativos. O fundo Mubadala, via Acelen, e em parceira com a Petrobrás, poderia investir não apenas em petroquímica, mas também em projetos de energias renováveis, como hidrogênio verde, que tem grande potencial na Bahia, devido ao Polo Petroquímico de Camaçari estar próximo à rede de transmissão que traz energia dos parques baianos de energia eólica e solar”, afirma a FUP.
Negócio suspeito
O Mubadala Capital – fundo dos Emirados Árabes Unidos – pagou US$ 1,8 bilhão pela Rlam, negócio que foi concluído em dezembro de 2021. No entanto, o Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Naturais e Biocombustíveis (Ineep) apontou, em estudo, que a Rlam valia entre US$ 3 e 4 bilhões. Bancos de investimento – como XP e BTG – também estimaram o valor da refinaria nesta mesma faixa de preço.
Além disso, há suspeitas que as joias milionárias que o ex-presidente Jair Bolsonaro recebeu do governo da Arábia Saudita – e que tentou se apropriar indevidamente – tenha relação com a venda da Rlam. No início de março, a FUP apresentou denúncia ao Ministério Público Federal (MPF) sobre o caso. Além disso, a própria Petrobras teria se comprometido a investigar a suspeita de propina.
Na última sexta (14), o portal g1 revelou que o conjunto de joias avaliado em R$ 16,5 milhões – incluindo um colar de diamantes – foi entregue pelos sauditas a representantes do governo brasileiro em uma reunião que discutiu a venda de ativos da Petrobras, em outubro de 2021. No início de novembro, um assessor do então ministro de Minas e Energia Bento Albuquerque tentou desembarcar com as joias no aeroporto de Guarulhos, sem declará-las a receita. De lá para cá, nomes ligados ao governo Bolsonaro fizeram diversas investidas para tentar reaver o “presente”.