PF de Bolsonaro “lava as mãos” para segurança de Lula e poupa radicais bolsonaristas

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Internamente, a cúpula da corporação sofre críticas por supostamente deixar de repassar à equipe do petista informações sensíveis

Por Rodrigo Rangel, compartilhado de Metrópoles




Jair Bolsonaro Polícia FederalMarcos Corrêa/PR

O silêncio da Polícia Federal em relação ao plano de extremistas apoiadores de Jair Bolsonaro de detonar explosivos em Brasília às vésperas da posse de Luiz Inácio Lula da Silva é só um sinal da postura leniente da atual direção da corporação em relação aos militantes bolsonaristas.

Para não desagradar a Bolsonaro, a PF tem agido com estranho comedimento. Até esta segunda-feira, por exemplo, a corporação não havia informado oficialmente que providências está adotando para investigar a ação terrorista que pretendia explodir uma bomba no aeroporto da capital — um atentado que, se executado com sucesso, poderia deixar centenas de vítimas.

Sob reserva, integrantes da direção afirmam apenas que está tudo sob controle. Mais não dizem, embora se trate de um caso clássico para a atuação da PF, que tem a atribuição de investigar ameaças à segurança nacional e eventuais ações terroristas. Sob o guarda-chuva da portentosa Diretoria de Inteligência Policial, uma das mais importantes da estrutura da instituição, há uma estruturada coordenação cuja tarefa é justamente cuidar de operações antiterror.

O caso, até onde se sabe, está a cargo unicamente da Polícia Civil do Distrito Federal. Não tem havido troca de informações com a Polícia Federal, que virou espectadora de luxo de uma ameaça que o país talvez nunca tenha visto antes. Curiosamente, no dia seguinte à descoberta da bomba o ministro da Justiça, Anderson Torres, fiel aliado de Bolsonaro, anunciou que pedira à PF para “acompanhar a investigação” — como se essa não fosse uma obrigação, por tudo o que o episódio representa.

A hesitação ante a ameaça terrorista é apenas uma faceta do comportamento institucional que distancia a PF daquela imagem de polícia de Estado da qual muitos dos seus integrantes se gabam, ou se gabavam até há pouco. A polícia de Estado parece ter assumido, sem disfarce, a cara de polícia-do-governo-que-está-no-fim.

Comunicação obstruída

Para além da postura no caso da bomba, a cúpula da Polícia Federal tem sido criticada por estar supostamente “lavando as mãos” em relação à própria segurança de Lula, o presidente eleito que será empossado no próximo dia 1º. Uma situação ilustrativa da tal omissão envolve a baderna promovida por militantes bolsonaristas há duas semanas, em Brasília, com carros incendiados e prédios depredados.

Fontes a par da situação sustentam que em nenhum momento a direção da PF alertou a equipe de segurança do petista de que um grupo inflamado de apoiadores do (ainda) presidente estava a caminho da região central da cidade, a mesma onde Lula estava hospedado, disposta a quebrar tudo.

Essas mesmas fontes dizem que dirigentes da instituição souberam com a devida antecedência da ameaça porque havia agentes infiltrados no acampamento mantido pelos militantes bolsonaristas em frente ao QG do Exército, onde tudo foi planejado. Mesmo assim, a opção teria sido pelo silêncio.

Naquela famosa reunião ministerial de abril de 2020, Bolsonaro deixou evidente que queria uma PF para chamar de sua. Pode até ter demorado um pouco, mas claro está que o desejo presidencial foi atendido. Da pior maneira possível.

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