Crimes vão desde ataques à democracia até obtenção de vantagens indevidas, como a entrada ilegal de joias no país
POR JULINHO BITTENCOURT, compartilhado da Revista Fórum
Uma organização criminosa agiu no Brasil nos últimos anos sob o comando do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). A Polícia Federal (PF) afirma já ter provas suficientes de que este grupo que se deslocava no entorno do então mandatário atuou em várias frentes, que vão de ataques à democracia à obtenção de vantagens indevidas, por meio do aparato público, como a entrada ilegal de joias no país.
Nesta quinta-feira (31), a PF deve usar o depoimento simultâneo de Bolsonaro e mais sete comparsas, entre eles a ex-primeira-dama, Michelle Bolsonaro, para entender os papéis de cada um na organização criminosa, além de explorar contradições nas diversas versões já apresentadas por cada um deles (Veja a lista completa abaixo).
Caso haja combinação de narrativas ou mentiras, agentes da PF podem até mesmo dar voz de prisão aos integrantes da OrCrim.
O tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, uma espécie de operador da organização, resolveu colaborar com as investigações e presta, nesta quinta-feira, seu terceiro depoimento ao longo dos últimos seis dias.
Os investigadores da PF têm como meta, segundo a coluna de Bela Megale no Globo, entregar até dezembro o relatório final dos inquéritos que devem complicar de vez a situação do ex-presidente e seus “auxiliares”. Os primeiros indiciados deverão vir do caso que está mais adiantado, o que apura a falsificação de certificados de vacina de Bolsonaro, Cid e seus familiares.
Há ainda, de acordo com informações da PF, a possibilidade de acordos de colaboração com membros da OrCrim, a delação premiada.
Os interrogatórios
Além de Bolsonaro, serão ouvidos nesta terça-feira, a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, Mauro Cid e o pai, o general Mauro Lourena Cid, os advogados Fábio Wajngarten e Frederic Wassef, e os ex-assessores do ex-presidente, Marcelo Câmara e Osmar Crivelatti.
A dificuldade de combinar narrativas, no entanto, se deve ao fato de Mauro Cid ter resolvido colaborar com as investigações em depoimentos já prestados nessa semana.
Além disso, o advogado Cezar Bitencourt, que assumiu a defesa do tenente coronel, tem um compromisso com a família, de livrar o militar da prisão – mesmo que isso custe responsabilizar Bolsonaro.
As versões e contradições dos depoentes também se deparam com a farta quantidade de provas coletadas pela Polícia Federal, que pretende terminar os relatórios sobre a investigação até dezembro.
Até o momento, nenhuma tese ventilada pelos advogados de defesa confrontaram a linha de investigação – e as provas – já coletadas.
A PF também aguarda relatório da polícia dos EUA, que colabora com as investigações, e está responsável, entre outros, por investigar um suposto esquema de lavagem de dinheiro com a compra de imóveis que envolve Bolsonaro e Wassef.