Por Sâmia Menezes, em Pensar Piaui –
Lula encanta. Escuta, olhando no olho, cada depoimento dado. Olha para a platéia atento, buscando entender os sussurros dados. Diplomou-se na arte de bem ouvir. E quando não podia falar durante a passagem da Caravana Lula pelo Brasil no Piauí, pela voz comprometida por problema na garganta, era gentilmente substituído pelo governador Wellington Dias, que exerce semelhante fascínio no público.
“Minha voz está igual carro quebrado pegando no tranco”, disse em Picos para uma multidão que o guardava desde as 6h da manhã. É nessa linguagem simples que o povo se identifica. Lula fala e o povo entende. Entende e se emociona. E é incontável, no palco e na plateia, a quantidade de pessoas que enchem os olhos de lágrimas ouvindo Lula falar da fome. “Só entende a fome que já passou por ela. Fome e uma coisa que não pode esperar”, observa ele em Altos, contando que só conheceu pão quando tinha sete anos e tomava café preto numa cuia cheia de farinha para deixar o “bucho cheinho”. Lula tornou a fome o tema principal do seu primeiro governo e 12 anos depois recebeu da ONU o reconhecimento de política mais eficiente de combate à fome no mundo e retirou o Brasil do mapa da fome e da miséria.
Para Lula, a elite brasileira nunca tratou o povo pobre com respeito. “A elite não via o povo pobre como uma pessoa que tem alma, coração, cabeça, pensamento.O povo pobre era visto como número estatístico”, declarou. “Quando eu era jovem, a gente sabia que filho de pobre não podia fazer faculdade. Então a gente sonhava com ensino básico e curso técnico. Na cabeça da elite que governou esse país por 500 anos, pobre não nasceu pra estudar. Nasceu pra trabalhar”, relembrou. “Mas nós mudamos a cara da universidade. Daqui a pouco vamos mudar a cara dos consultórios médicos, de dentistas, escritórios de engenheiros. E nós não tiramos nada de ninguém. Apenas colocamos o filho do mais pobre para disputar vaga com os mais ricos”, emendou.
Ao falar para a juventude em Teresina, reconhece que talvez não compreenda a realidade da juventude do século XXI, mas deixa dois recados que não podem ser esquecidos: “a desgraça de quem não gosta de política é que é governado por quem gosta” e “toda vez que você acharem que nenhum político presta, ainda assim vocês não podem desanimar e têm que tomar a decisão. O político honesto que queremos pode estar dentro de cada um de vocês”, ressaltou, chamado a juventude a se preocupar com a história do Brasil. Mais a frente acrescenta: “Sem luta não há razão de viver. Mais vale a amargura de uma derrota do que a vergonha de não ter participado da luta”.
A professora Neile Soares veio de Buriti dos Montes até Altos para ver, nas palavras dela, o “sempre-sempre presidente da República’. “E só vou sair daqui hoje quando tirar uma foto com ele”, avisa. Seu pedido é uma ordem. A foto com o presidente foi feita logo após o fim da solenidade.
Lula desce do palco e vai percorrendo o gradeado em abraço e beijos. Muitas fotos, lágrimas, todos querem tocar nele. “Lula é um mito brasileiro”, resume Fernando Meneses, do Partido dos Trabalhadores. “É um banho de povo no Lula. Um banho de Lula no povo”, poetiza a senadora Regina Sousa (PT-PI). “Uma esperança com confiança”, define o senador Lindbergh Farias (PT-RJ).
Foto da capa: Ricardo Stuckert
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