Por Paulo Harkot, oceanógrafo*
O mar, agrupado em oceanos, ocupa a maior parte da superfície de um planeta que, não fosse nomeado pelos seres que viviam e dependiam do ambiente terrestre, teria recebido o nome de Água. Ou Planeta Mar.
Mar gigante, como um grande oceano primitivo, que assegurou a origem da primeira forma viva algum tempo depois de formação da Terra e possibilitou a sua evolução, por meio de milhões de espécies que a sucederam, até chegar a nós, seres humanos capazes de se sensibilizar e se emocionar com o mar, seus seres, suas paisagens, suas cores, seus cheiros, seus sons, e seus sais. Todos responsáveis por sua capacidade de produzir alimentos e garantir trabalho e renda para gente que, há muitas gerações, dependem desse grande mar oceano.
Mar, oceano fornecedor da infraestrutura de transporte, responsável por 95% dos produtos e mercadorias negociados pelas nações, pelo acúmulo de gigantescas reservas de recursos energéticos e minerais, além de toda energia que acumula.
Mar, destino que atrai os humanos para suas proximidades para vivenciar e aproveitar das suas benesses, responsável pelo crescimento das maiores megalópoles do mundo e concentração de mais de 50% da população mundial.
Mar, prazer a possibilitar o lazer, recreação e tantas outras atividades e serviços com peso importante em todos os níveis da economia.
Mar, solução de água acrescida de todos elementos químicos existentes na Terra – ou Planeta Mar -, capaz de curar, tal qual as lágrimas também salgadas, feridas externas, internas, emocionais e psicológicas daqueles todos que aprenderam apreciar e respeitar tão lugar.
Mar latrina que, desde os primórdios da civilização humana, recebe os efluentes e resíduos gerados como subprodutos dos mais diversos tipos de atividades, cotidianamente a chegar e magoar as suas águas, seus ambientes e os seres viventes.
Mar termostato, principal responsável pelo manutenção da temperatura da Terra em níveis adequados à nossa existência, transportando calor para os polos e refrigério para as regiões tropicais, condicionador de ar gigante, porém sensível e ainda em grande parte desconhecido, adaptando-se pelas mudanças impostas pelos tempos geológicos e às ações humanas.
Mar ameaçador, ambiente inóspito e perigoso para os seres vivos que não sejam marinhos, muitas vezes a cobrar o preço maior, muitas vezes pago com a vida, como resultado de ações impensadas, mal planejadas, inconsequentes ou irresponsáveis levadas a cabo por aqueles que, por não conhecê-lo, pecam pela imprudência. Ou mesmo em decorrência da impossibilidade de se prever e evitar a ocorrência de infortúnios e acidentes.
Mar limite, última fronteira da Terra – ou Planeta Mar – onde, espera-se que a nós, seres humanos, não nos seja possibilitado cometer os mesmos erros responsáveis pela geração e manutenção das mazelas, perversidades, violência e injustiça a causar tantas e tamanhas dores a tantos, inclementemente sempre presentes em terra.
Mar inimaginável, para demonstrar que os seres humanos, agora seres tecnológicos e urbanos, quase nada são ao se deparar com tamanha imensidão e energias incontroláveis que demonstram que têm o controle da situação.
Mar celebração, a inspirar tantos poetas, músicos, artistas plásticos entre diversos outros tipos de manifestação para comemorar tamanha beleza, amplidão e profundidade dos temas afeitos ao mar e as coisas do mar.
Para homenagear o mar, nada como Dorival Caymmi para nos lembrar das belezas e das dores associadas ao mar…
“O mar
Quando quebra na praia
É bonito
É bonito…”
*Paulo Harkot, oceanógrafo, atua na área de gestão costeira e marinha, unidades de conservação, recursos hídricos, pesca artesanal, fontes de energia alternativa, controle de erosão costeira e educação desde 1985.