Por Steve Austin, publicado em Visão Petroleira –
Até ai há um consenso, mas as ações práticas dos planos desmontam essa tese, já que são colocados à venda todos os ativos da companhia, sem nenhuma preocupação com a integração e a estratégia de longo prazo. Além disso, a proposta indica a redução de investimentos, o que, fatalmente, aumentará os riscos de acidentes.
O sucesso da Petrobrás, assim como o de todas as empresas de petróleo, está na sua integração. A estatal exerce atividade integrada no setor de petróleo e gás, atuando da produção até o varejo (do poço ao posto), maximizando suas receitas. Quando as coisas não vão bem em um setor, outro supre as demandas, evitando assim colapsos no negócio.
A venda de parte do Campo de Carcará (66%) por U$ 2,5 bilhões para a estatal norueguesa Statoil, da BR Distribuidora, e da Liquigás é um golpe fatal nessa integração e evidencia, acima de tudo, que o PE-PNG 2017-2021 não foi planejado para salvar a Petrobrás e sim para privatizá-la.
Gás natural
Não há dúvidas de que o gás natural será o substituto natural do petróleo. O crescimento da produção e do consumo demonstra que isso já é uma realidade e todo o setor está se reposicionando. Países centrais se movimentam nessa direção.
Os EUA investiram pesado na produção do Shale Gas (Gás de Xisto). Na Europa, as rotas estratégicas que ligam os campos de produção aos consumidores passaram a ser disputadas, aumentando os conflitos geopolíticos, como o da Rússia com a Ucrânia (o gás russo para chegar à Europa tem que passar pela Ucrânia). Nesse sentido, a venda dos gasodutos da Petrobrás desmente a intenção da diretoria em focar no gás natural como matriz principal da companhia.
O Conselho de Administração da Petrobrás aprovou a venda de 90% das ações da Nova Transportadora do Sudeste (NTS) para a Brookfield Infrastructure Partners, no valor de US$ 5,19 bilhões.
A Petrobrás investiu pesado nos últimos anos na malha de gás e nas unidades de compressão para atender o aumento do consumo e garantir o escoamento da produção do pré-sal. Passar a logística para outra empresa é abrir mão do controle do sistema e pagar pelo serviço de transporte, custo que a Petrobrás hoje não tem.
A própria expansão dos gasodutos fica em xeque. Uma empresa exclusiva de transporte não tem fôlego financeiro para garantir os investimentos. E, para garanti-lo, terá que aumentar o valor do serviço e repassar o reajuste para o consumidor.
Boa parte da geração de energia elétrica vem das termoelétricas, abastecidas a gás natural. A gestão Pedro Parente já tem pacotes prontos para privatizar as térmicas da Petrobrás, o que reafirma sua visão míope para o setor de energia elétrica – Parente é conhecido como o ministro do Apagão (apelido que ganhou em 2001, quando foi ministro de Minas e Energia, e o Brasil viveu um racionamento energético). Vender as termoelétricas é abrir mão de ser uma empresa de energia.
Energias alternativas
A necessidade de redução de emissões e da economia de baixo carbono vai levar a um esgotamento da produção de combustíveis fósseis. As empresas de petróleo que não estiverem sintonizadas com essas tendências estarão fadadas ao fracasso. A Petrobrás, atenta a essas mudanças, criou em 2008 a Petrobrás Biocombustíveis, no qual a companhia possui participação em dez usinas de etanol e construiu cinco unidades de biodiesel.
A indústria brasileira de biodiesel vai entrar em um novo ciclo de expansão com a entrada do B10 (10% de biodiesel na composição do diesel) em março de 2019, e vai saltar de 325 milhões de litros (média mensal desde a oficialização do B7) para mais de 510 milhões de litros ao mês. Considerando um avanço na mistura no ritmo de 1% ao ano, chegaríamos ao B15 em 2024, que vai demandar 11,4 bilhões de litros ao ano.
Enquanto o mercado de biodiesel cresce, a atual gestão da Petrobrás decide sair integralmente da produção dos biocombustíveis, o que pode ser considerado um erro estratégico colossal, um ato na contramão das tendências mundiais e do próprio PE-PNG 2017-2021, o qual propõe a crescente participação em energias alternativas.
Resistir à privatização
Portanto, o discurso de reconstrução da Petrobrás feito por Pedro Parente não passa de retórica. Na prática, seu plano desintegra toda a companhia e o real objetivo é a privatização. Ele se utiliza de um método perverso e aproveita o momento de fragilidade da Petrobrás para propagandear para o mundo que a empresa está quebrada, e desvaloriza seus ativos nos balanços contábeis (os sucessivos impairment) para dar o golpe fatal, liquidar tudo.
Esclarecer as inverdades ditas por Pedro Parente e mostrar que é possível superar o alto endividamento da Petrobrás sem vender ativos estratégicos, como sugere Felipe Coutinho, presidente da Associação dos Engenheiros da Petrobrás (AEPET) em seu brilhante artigo “Existe alternativa para reduzir a dívida da Petrobrás sem vender seus ativos”, será uma tarefa árdua, na contramão da mídia hegemônica. Mas o espírito nacionalista da campanha “O Petróleo é Nosso”, que deu origem `a Petrobrás, será o combustível para manter acesa a chama da resistência.