Luan Morais da Silva, de 24 anos, falou pela primeira vez à imprensa sobre a perda do pai, o motorista Ornaldo Viana
Por Raphael Sanz, compartilhado de Fórum
Luan Morais da Silva, de 24 anos, é o filho de Ornaldo Viana, de 54 anos, o motorista de aplicativo morto na madrugada de 31 de março na Avenida Salim Farah Maluf, zona leste de São Paulo, em decorrência de colisão com o Porsche de Fernando Sastre de Andrade Filho, que dirigia a quase 156 km/h no local. Ao Uol, ele quebrou o silêncio e falou com a imprensa pela primeira vez sobre a perda do pai.
De acordo com a reportagem que o ouviu, o jovem apresenta oscilações de humor em dois sentidos: tristeza e revolta. Ele contou que antes da tragédia a família estava planejando um Domingo de Páscoa quando falou com o pai pela última vez. Os planos eram ir para a Igreja de manhã e almoçar logo em seguida. Mas o pai não voltaria vivo para casa naquele dia.
“Ele (Sastre) destruiu minha família, colocou fim na nossa vida. Dia das Mães vai ser um almoço sem ele (Ornaldo). Esse cara acabou com uma história. Meu pai só fazia o bem, ajudava todo mundo, fazia serviço comunitário. Tinha o sonho de visitar a mãe dele que está doente no Maranhão. Ele juntava dinheiro para conseguir comprar a passagem”, revelou.
Na última sexta-feira (3), a Justiça de São Paulo determinou a prisão preventiva de Sastre e, após ele não ser encontrado pela polícia no sábado (4), está foragido. As autoridades fazem diligências na tentativa de capturá-lo. Sobre isso, Luan se diz grato ao trabalho da Polícia Civil e acredita que a Justiça esteja sendo feita.
Mas independente da Justiça ser ou não ser feita, o estrago está posto. O jovem revelou que sua mãe e sua irmã “não param de chorar” e que ele “sempre irá se espelhar” na figura do pai. Ao ser perguntado se um dia perdoaria o Playboy do Porsche, não quis comentar.
Relembre o caso
Em 31 de março Sastre dirigia a 114,8 km/h na Avenida Salim Farah Maluf, cujo limite é de 50 km/h, quando colidiu na traseira do veículo do motorista de aplicativo Ornaldo da Silva Viana, resultando na sua morte imediata. Segundo laudo da Polícia Técnico-Científica, o Porsche estava a 156,4 km/h antes da colisão.
O juiz de primeira instância, Roberto Zanichelli Cintra, negou o pedido de prisão preventiva feito pela promotora Monique Ratton, que alegou que Fernando dirigia em alta velocidade e sob efeito de álcool, segundo testemunhas. O MP também apontou que o réu influenciou uma testemunha a depor a seu favor, desrespeitando uma medida cautelar.
O acidente fatal foi gravado por câmeras de segurança, e as investigações apontam que o motorista já esteve envolvido em outros acidentes de trânsito, sempre em alta velocidade.
A conduta de dois policiais militares que atenderam à ocorrência do acidente envolvendo o Porsche está sob investigação da Corregedoria da Polícia Militar de SP. Eles liberaram Fernando Sastre de Andrade Filho, o condutor do veículo, sem realizar o teste do bafômetro, aparelho essencial para verificar a presença de álcool no organismo.
Segundo imagens das câmeras corporais dos policiais, um deles conversou com um bombeiro que prestou socorro, confirmando que o empresário havia ingerido bebidas alcoólicas.
A mãe de Fernando, Daniela Cristina de Medeiros Andrade, interveio na situação, persuadindo os PMs a liberarem seu filho com a promessa de levá-lo para um hospital, alegando que ele estava ferido na boca. No entanto, nem Fernando nem sua mãe buscaram atendimento médico.
O relatório final do 30º Distrito Policial (DP), Tatuapé, indicou que Daniela teria ajudado Fernando na fuga, mas não a indiciou pelo crime. O Ministério Público também não responsabilizou a mulher criminalmente.
Playboy do Porsche foragido
Fernando Sastre de Andrade Filho passou a ser considerado foragido da Justiça no último sábado (4) depois que a Polícia Civil foi à sua casa cumprir mandado de prisão e não o encontrou. Após ter tido por três vezes o pedido de prisão negado, o Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP) ordenou na sexta-feira (3) a prisão preventiva de Fernando Sastre de Andrade Filho, que ficou conhecido por “Playboy do Porsche”.
O Ministério Público (MP) recorreu ao TJSP após a decisão da Justiça que havia negado o terceiro pedido de prisão feito pela Polícia Civil de SP. O desembargador João Augusto Garcia concedeu a liminar pleiteada pelo MP, decretando a prisão preventiva de Fernando Sastre Filho.
O motorista do Porsche é réu por homicídio doloso qualificado e lesão corporal gravíssima, ambos na modalidade por dolo eventual, que é assumir o risco de matar e ferir.
De acordo com a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo, uma vez foragido as forças de segurança fazem diligências para tentar encontrá-lo. Se não for capturado durante o final de semana, sua defesa anunciou que ele irá se entregar na próxima segunda-feira (6).
Ouvido pelo Uol, o advogado Jonas Marzagão – que defende Sastre – afirma que pretende conversar com o juiz responsável pelo caso. Seu objetivo é garantir a integridade física do réu, uma vez que o caso tomou proporções nacionais ao ser noticiado pela imprensa.
O advogado também revelou que vai recorrer da decisão e, caso não obtenha sucesso, pretende sugerir que seu cliente seja encaminhado ao presídio de Tremembé, no interior de São Paulo, por questões de segurança.