Por Juca Guimarães, publicado em Ponte Jornalismo –
Jovem estava com amigos e voltava do futebol; policial da Força Tática ainda ofendeu mãe por questionar ação
A dona de casa Janaina Xavier, 39 anos, passou quase sete horas dentro da Corregedoria da Polícia Militar do Estado de São Paulo, na capital paulista, na noite fria da segunda-feira (19/8). Sua missão era registrar uma denúncia contra o policial militar da Força Tática que bateu no peito do filho dela, que tem 13 anos, com a arma engatilhada.
Janaina conta que o filho voltou da escola por volta das 18h e pediu para ir jogar um pouco de futebol com um amigo de 14 anos. Os dois foram e, na volta, encontraram duas colegas de bairro. Os quatro adolescentes então sentaram na frente do prédio em que moram para conversar.
A mãe relata que os meninos estavam sentados quando a viatura do Força Tática chegou e, de forma agressiva, o policial começou a abordagem afirmando que os garotos eram ladrões de celular. Ela conta que o garoto de 14 anos foi agredido com um chute na perna. Ambos levaram pancadas no peito com pistolas engatilhadas. Um dos policiais disse que os mataria, segundo consta em documento da Corregedoria.
A cena de violência aconteceu na Alameda Barão de Piracicaba, no bairro de Campos Eliseos, no centro de São Paulo. Uma vizinha que presenciou a abordagem violenta foi chamar Janaina para contar que o filho dela estava sendo agredido pela polícia. A dona de casa desceu e foi recebida com ameaças.
“Ele engatilhou a arma na hora em que eu fui falar. O policial estava perto da porta da viatura e apontou a arma numa forma de ameaça. Se eu fosse mais para perto dele para discutir, ele poderia ter alegado alguma coisa e atirado em mim. Eu me afastei quando vi que engatilhou a arma”, disse dona de casa.
A mãe descreve o policial como um homem de estatura mediana e olhos claros. Além de agredir os garotos, o PM ainda xingou a mãe com muitos palavrões e bateu na lataria da viatura. “Aqui é a Tático, porra!”, gritou em direção a Janaína.
“Depois que eles foram embora eu fui perguntar para o meu filho o que tinha acontecido. Fiquei muito brava, troquei de roupa e fui direto para a Corregedoria. Lá o sargento Garcia me atendeu. Não me deram um boletim de ocorrência [documento oficial sobre registro de ocorrências] nem nada. Só me deram uma papel para eu ligar daqui a 30 dias para saber o que é que foi feito”, disse.
Janaína tinha a descrição do policial agressor, o horário e o endereço da abordagem violenta e o código da viatura da Força Tático. O registro da queixa demorou das 20h10 de segunda até 2h40 da madrugada de terça-feira (20/8). Depois da longa espera, Janaina saiu da sede da polícia apenas com a promessa de que haveria alguma novidade sobre a investigação daqui um mês.
A Ponte Jornalismo entrou em contato com o coronel Marcelino Fernandes, Corregedor da PM paulista, para comentar tanto a abordagem do policiais da Força Tática como a demora no atendimento da corregedoria. Através de mensagens de WhatsApp, Fernandes explicou que, de fato, o tempo para registro da ocorrência foi “demasiado, mas havia medidas preliminares a serem tomadas naquela mesma noite.
O corregedor lista entre estas ações, reconhecimento fotográfico, com visualização de fotos de polícias de dois batalhões, exame de corpo de delito, colheita das declarações da vítima e das testemunhas apresentadas, além de documentos de trâmite administrativo. “O inconveniente é por vezes necessário à correta apuração da verdade real”, comenta, explicando que foram feitos três termos de declarações, cada um com média de 30 a 40 minutos para elaboração. “O que demorou foi o reconhecimento fotográfico para chegarmos nos possíveis autores”, emendou.
A Ponte questionou oficialmente a SSP (Secretaria da Segurança Pública) de São Paulo, gerida pelo general João Camilo Pires de Campos neste governo de João Doria (PSDB), e também a PM, comandada pelo coronel Marcelo Vieira Salles, sobre a ação dos policiais, a quais punições eles estão sujeitos se comprovada a denúncia e se continuam no trabalho de ronda nas ruas. No entanto, pasta e corporação não se posicionaram até a publicação desta reportagem.